
Ela vestiu seu melhor vestido
Pôs os brincos, as meias e os sapatos
A maquiagem e o prendedor de cabelos
E desceu as escadas em direção a rua
Ela estava talvez meia hora adiantada
E no caminho ela revivia os momentos
Ressentia sentimentos
Sorrindo pela rua
Lembrando do doce sabor do passado
O banco frio da praça fria a esperava
E ela nele, o esperava
Com os pés pendurados
Ela batia os pés um no outro
E era amargo lembrar que ele já não era o mesmo
Seu olhar, seu toque, seus beijos, e o toque em seu seio
Deu a hora e ele não chega
Ela olha pro céu, sente a brisa
Ele se atrasa de novo
E ela pensa no que fazer
Em como refazer o que se desfazendo está
Ela passa a mão no cabelo,
Consulta um pequeno espelho
E pensa nas últimas palavras que trocaram
“não sinto mais a mesma coisa” dizia ele
E ela se apegava ao que se lembrava
E ao que já não havia, ao que não mais se tinha
Levanta, anda de um lado pro outro
Consulta o relógio do moço que corre na praça
“Vou lhe dizer o quanto o amo” planeja ela
E ela esquece que dela ele se esquece
Quarenta minutos de atraso
O celular está desligado
Ela ajeita a aliança no dedo
“Porque as coisas tem de ser assim?” sussurra
E se sente só, se sente pó, sente de si profunda dó
E na garganta um imenso nó
Ela senta, abaixa a cabeça, solta o cabelo
Enxuga a lágrima
Uma hora de atraso
Ela passa a mão sobre a saia do vestido
Desenrugando a alma
Tirando a poeira do colo
Ela levanta
Pensa porque esperar mais?
Se o melhor de si já havia sido dado
E o melhor dela já por ele havia sido tomado
E o melhor dele já lhe havia sido negado?
“Porque esperar? Corra!” Pensou
O vento no cabelo, os brincos caídos no chão
Uma trilha melancólica completa a cena
E as lágrimas soltas no ar
Corre descalça sem pena
Ela tira os sapatos,
Ela tira de si os aparatos
Tira a aliança
E corre feito uma criança
Sem rumo ela se encontra
Pelo caminho procura se perder
E mais do que nunca sente-se pronta
Para sobre os próprios joelhos simplesmente ceder
E ela desaba...
Três meses atrasado
Ele lhe leva flores
Toca a campainha
Escreve-lhe uma poesia
E deixa-lhe na escrivaninha
Ela não vestiu seu melhor vestido
Não pôs os brincos, as meias e os sapatos
Nem a maquiagem ou o prendedor de cabelos
Ela desceu as escadas em direção a rua
Ela desceu totalmente nua
Olhou nos seus olhos e disse:
Eu estava nua, eu era tua
Deixastes me esperando sem dó
Amarrou em meu peito um nó
“Não sinto mais a mesma coisa”
Ele desaperta a gravata
Joga longe os sapatos
E a flor no chão, a poesia no coração
Ele chorava pelo preço do amor que atrasou
Ele corria por um tempo que chegou e passou...
E corria... e corria como tantos outros...
Com tantos outros...
Corria...
Nesses corredores da vida
Só o que fazemos é correr
Só o que somos nos corredores
É corredores...
Esperando nossa hora de correr
Nessa corrida sem chegada
Quanto a ele? Ele corria...
[PH]elipe Ribeiro Veiga