quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Corações Partidos - 28 de Janeiro de 2010 - 22:41



Ela andava na rua e nada via
nem via se estava na calçada, na via, nem seque se via
Ela olhava e não via nada, estava trancada em si
naqueles dias em que a alma fecha as portas e janelas
e esquece que há um mundo, há compromissos.

E dai?

Se ela olhava os próprios pés
e se por um segundo os enxergava de verdade
se por um segundo abria a janela para vislumbrar a chuva
e se os via lá embaixo
logo perguntava-os coberta de espanto e indignação:
"Por onde é que tens andado? Pra onde tens me levado?"

E ouvindo seu coração a fingir que bate
percebe que seu coração já não bate
ele conta as horas
e se pudesse, ela sabe, ele mataria o tempo.

Ela atravessa a rua
sinal está aberto, ela pára.
O vento lhe bagunça os cabelos
ela ignora

do outro lado da rua um rapaz lhe chama a atenção...

Olhos baixos fitam o chão,
pés feridos por cacos de coração
além de tê-lo deixado partir
ele ainda o pisoteou...

Tragava um cigarro negro
com raiva dos pulmões porque estes não se partem.
Pisava o mundo como se o chutasse pra longe
e se feria ainda mais...

Naquele momento ela soube...
eles eram iguais...
sozinhos, mas acompanhados
juntos
porque ambos foram abandonados...
Unidos por uma só danação

A solidão.

Depois ela voltou pra dentro
fechou a janela, trancou a porta
e chorou... esperando que a tempestade um dia passe...

[PH]elipe Ribeiro Veiga
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"Alguns corações são mais bonitos de algum jeito
como que de cristal em um mundo de vidro.
Até o modo como se partem é bonito."
Everwood - 2.16

2 comentários:

C.S. Fonseca disse...

Oi, poetinha. Eu andei lendo seus últimos textos. Apesar de não conseguir entender algumas partes, creio que porque são coisas pessoais, gostei muito deles... O sentimento de nostalgia, tristeza, solidão, essas coisas mexem muito comigo.
Gostei muito. Agora estou te seguindo.
Abraços, Ana Ester.

Fruto que vem da terra seca disse...

Naquele momento ela soube...
eles eram iguais...
sozinhos, mas acompanhados
juntos
porque ambos foram abandonados...
Unidos por uma só danação


Isso me lembra muito algo e uma canção também o nome é NOt as we da Alanis Morissette. Ouça ela faz muito sentido nesse momento e tem muito haver com esse teu texto. Beijos(L)

Sobre um cofre no peito.

É de uma longa caminhada que venho, e foi nesse processo de muitos anos que fui aprendendo a sanear meus comprometimentos. Não por mero rigo...