sábado, 1 de maio de 2010

Mutuamente – 01 de Maio de 2010 – 19:17


A noite aparece feito moça que procura casamento
Ornamentada de estrelas, com a lua na cabeça, e o sol no pensamento
Seguem-se um ao outro, admirando-se mutuamente...
sem jamais se encontrar
Ornamentado de nuvens e senhor de um azul sem fim
Permanece o sol à vida dos homens bisbilhotar
E os homens uns aos outros estão a se admirar...
Olhares fugazes a se ignorar
Mutuamente.
É Ana que devora a Marcelo com os olhos
Que explora o andar de Joana
Que pensa na morte de seu pai e na tristeza de sua mãe
Que lamenta a vida sem seu amor
Que descansa soterrado por terra e flor...
É o moleque que deita fora as flores do morto
Que é observado ao longe por sua mãe
Que é desejada de forma vil pelo coveiro
Que é chamado ao trabalho pelo motorista
Que é amado sem saber pela recepcionista
Que é coagida a atitudes ilícitas por seu chefe
Que é traído pela mulher que lhe jura todas as noites amor eterno
Que é enganada pelo amante mal caráter
Que é irmão de Ana
Que é observada pelo sol a brilhar
Que é amado e perseguido pela noite ornamentada
Que chega silenciosa com seus poemas de amor a recitar.
E tudo isso acontece sem ninguém notar.
Ignoram-se todos...
Mutuamente.

Porque?

[PH]elipe Ribeiro Veiga
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Ah, mas se ela adivinhasse,
se pudesse ouvir o olhar,
e se um olhar lhe bastasse
pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
quem quer dizer quanto sente
fica sem alma nem fala,
fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
o que não lhe ouso contar,
já não terei que falar-lhe
porque lhe estou a falar...

"O AMOR QUANDO SE REVELA - Fernando Pessoa

Um comentário:

Fruto que vem da terra seca disse...

Isso me fez lembrar um texto de Drummond... Não lembro o nome agora mas é tem a mesma ideia do seu!

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