quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sobre um desmoronamento.

É que começou a desmoronar pela mínima unha, e foi lascando, rachando, partindo, esfoliando, e foi-se um dedo inteiro que partiu-se sobre os dedos vizinhos desmoronando, e enfraqueceu a ponta dos pés, e subiu a perna, destroçou a panturrilha, e tudo foi se precipitando sobre tudo, e o peso foi cuidando de cada fragmento que se debruçava sobre cada fragmento, e já não se sabia se o intento de tudo era se segurar ou se precipitar. E foi-se coxa, verilha, sexo, abdômen, vísceras ocas, peito, braços, mãos, unhas, pescoço, garganta, a voz, o vazio da língua e seus sabores simulados, os olhos esculpidos abertos e um último fio de cabelo, de modo que nem sua sombra se manteve de pé, e nem a lembrança dos que um dia o contemplaram imponente sobreviveu a tão impressionante desmoronamento.

Os destroços jaziam no chão, esmiuçados, moídos.

De certo modo, aprumados, os restos do que tinha sido cada fragmento amontoados numa antiga forma era agora um novo amontoado.

Sobre aqueles escombros cresceu uma árvore, deu-se um encontro, fez-se uma criança, mudou-se o mundo.

Porque tudo que acaba encontra um jeito novo de ser de novo.

Phelipe R. Veiga
11 de abril de 2013-18:20

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