Ó tu que tens nas mãos, sob os diversos sentimentos que se renovam a cada página inda não lida. Não repares se a forma é apurada ou se a métrica foi talvez torcida, olhe somente a Vida nos meus versos que a Vida do meu verso - é a minha vida" (Vinícius de Moraes)
terça-feira, 28 de abril de 2015
Como tomar decisões diante de fatos que nos ensinam somente diante do erro?! É a impossível equação entre ferida e cicatriz, e ambas doem. A primeira arde o momento, a segunda queima o passado, a lembrança, a culpa, a impossibilidade de redesfazer. Somos essa infindável coleção de impossibilidades. Diante disso não me assusta a imensa coleção de contos e ficções, essa tentativa tola de sublimar impossíveis. Vou-me sendo a cada dia um dia mais velho, e vou percebendo que somos mais e mais muito mais pelo que não somos, o que nos define não é nossa atitude feita, mas o limite dela. Não é o meio, é a borda. Pelas nossas incapacidades se desenham nosso caráter e nossa identidade. E o curioso é que previsão nenhuma jamais disse que a Vida se define por um assumir-se de si mesmo. Por uma atitude tão ridiculamente simples e tão irremediavelmente selada, proibida, cerrada. Ser enfim é olhar no espelho, além do espelho e se reconhecer, mas quem?!
sexta-feira, 6 de março de 2015
Sobre minha avó (e lembranças)
As vezes ainda me lembro do cheiro que tinha a casa de minha avó, cheia de bibelôs onde eu não podia, mas insistia em correr pra alcançar o pote de biscoitos maisena que eram repostos para minha chegada. A casa de minha avó tinha um cheiro específico, um misto de seu leite de rosas com alguma coisa mais e gosto de biscoito de maisena, e sempre que me lembro dela ainda sinto o cheiro e o gosto da época. Ainda lembro da sensação de me sentar no chão entre a cama e a televisão para espalhar brinquedos, assistir desenhos ou seja lá o que fosse. Havia a caminhada de todas as tardes pela Moreira César para a qual ela sempre se arrumava e se perfumava toda. Hoje quando penso nela queria me sentar ao seu lado e pedir desculpas por tanto desajeito infantil da criança que fui, queria dizer das coisas que a idade que tinha jamais me deixaram transformar em palavras. Eu queria muito fazê-la rir, fazê-la rir muito, e acariciar seu coração tão partido, tão deixado, e depois deitar a cabeça no seu colo e sentir suas unhas sempre grandes passarem pelos meus cabelos. Saudades...
Phelipe Ribeiro
06 de março de 2015-11:35
"O passado não sabe seu lugar, vive se fazendo presente" Mario Quintana
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Hoje por um segundo me bateu uma melancolia considerável. Nostalgia talvez, saudade de uma coisa qualquer. Uma cor, um cheiro, um som, não sei dizer. Há uma verdade naquilo que sentimos que mesmo sem sabermos qual é precisamos escutá-la. É feito um segredo sussurrado por nós mesmos aos nossos próprios ouvidos. Não convém calar. Mesmo quando é ferida, não convém suturar. O sangrar faz parte da cicatrização. Hoje eu senti o cheiro dos impossíveis que carrego no peito, sejam eles reais ou fantasias. Senti o sabor das minhas limitações, das minhas incapacidades. E em meio a esse lago calmo e de águas paradas e de odor duvidoso que se empossou diante de mim reside uma ilha toda florida pela satisfação de ser capaz de nomear tudo isso. Há.
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
(...)
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
(Fernando Pessoa)
Phelipe Ribeiro Veiga
22 de fevereiro de 2015 - 18h34
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
(...)
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
(Fernando Pessoa)
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Sobre a folha que cai.
O que faz sentido? Sensação. Instante. Momento. Felicidade. Contemplação.
Cobrimos a terra de asfalto duro e seco, cerceamos as raízes das árvores de nossa cidade, dissemos à natureza: "Até aqui você vai, não mais" e vivemos esperando sua réplica de conteúdo inesperado porém previsivelmente imperativo. Convivemos com as folhas das árvores caindo lentamente diante de nós num ensinamento sutil e de que em breve vêm a nossa vez. E vendo a folha desfilar uma coreografia toda única do galho em direção ao chão, eu sigo por uma rua que não tem o tamanho de um fio de cabelo na imensa careca do globo. Caminho pensando numa vida tão pequena e tão grande que é essa minha, agradecendo pelas escolhas que fiz, pelos olhos que tenho, pela minha capacidade de ver a folha caindo da forma como vejo. Caminho me utilizando de um auto-erotismo intelectual e sentimental num instante no qual não careço de nada nem ninguém, num mero prazer de ser quem sou me bastando intensamente, sentindo a satisfação do instante minucioso, o milésimo, o centésimo, o segundo. Esqueço a medida do instante não me importando se é grande ou pequeno. Acaricio minhas capacidades excitadas pela percepção ordinariamente única e deliciosa que tenho da folha que cai. Naquele instante não queria ninguém ali comigo, não queria estar em nenhum outro lugar, não queria fazer qualquer outra coisa. Naquele instante sendo lá o que seja tudo, houve um sentido mesmo que mudo. Naquele instante eu fui feliz. E a folha caiu ao som daquela canção que essas brisas de verão não cantam pra mais ninguém, ela encerrou sua dança de par com a brisa tocando o asfalto carinhosamente, e lá ficou sacudida vez ou outra pelos carros que passavam. E agora me ponho a pensar nela...
Phelipe
16 de Janeiro de 2015 - 00:23
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