Há palavras que valem um vocabulário inteiro.
Elas são como caixas, um contêiner, uma comporta, uma ante-sala de um infinito de possibilidades semânticas.
Há palavras que parecem trazer consigo um eco siamês. Fosse ela um corpo, esse eco seria o osso, estrutura, como se sem toda sua infinita continuidade de dentro pra dentro, ela sequer pudesse sobreviver ou parar de pé.
Há essas palavras. Algumas verbo, outras ad/vérbios. Algumas terminadas com A, outras não. Todas, porém, acompanhadas de compulsórias reticências.
São essas as palavras mais verdadeiras. Contam o grande segredo silencioso que se esconde por detrás de todo ruidoso falatório humano:
A palavra não diz nada! E é essa a sua gravíssima função. A de nos lembrar que palavra alguma diz qualquer coisa. Estamos sozinhos num vazio enorme que preenche tudo.
Há palavras. O que não há é sentido.
E há palavras que denunciam isso.
Feito a caixa de Pandora, ao abri-las com a língua afiada e desesperada, há um vazio interrompido unicamente por uma morna esperança de um dia poder dizer com ela alguma coisa. E quem sabe ser até entendido?
Quem sabe?!
Não há!
Rio de Janeiro, 04 de janeiro de 2021. 20h22
“Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o. Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.” (Wislawa Szymborska)
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