É o que fica que conta a história,
suas versões e suas aversões.
É quem fica que narra.
Quem vai terá ido.
Vira sombra.
Pantomima.
Partir é virar anedota casuística pro desejo do outro.
É ser tema nunca frequente. É tornar-se quebra-molas de conversações numa mesa de bar. Partir é estar presente, várias vezes, em pequenos silêncios. Em cantos vazios da cidade. Esquinas. Plataformas de metrô. Até mesmo canções. É estar pra sempre sentado numa mesma cadeira de um quarto, com uma voz sempre igual, com a mesma risada, eternamente. É habitar um espelho não estando mais ali. É viver repetidamente a mesma cena, mesmo nunca mais voltando de fato à ela. É ser visto sem que te possam enxergar. É ser brinquedo pra memória do outro. Partir é habitar invisível, por vezes, sutis sorrisos acompanhados de choro, às vezes choro desacompanhado de tudo. É habitar até o esquecimento. É ser agulha, acupuntura da saudade.
Partir é repartir-se e compartir-se ao mesmo tempo.
É fazer-se em pedaços.
É dividir-se nessas partes nunca iguais
nem sequer a elas mesmas.
Partir é ficar espalhado por aí,
mesmo indo embora pra sempre
ou sempre indo embora.
15 de fevereiro de 2021, 13h27
Phelipe Ribeiro Veiga
"(...) tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos,
e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo." - (Evangelho segundo Mateus, cap 26, v26)
"Nem tudo que acaba aqui deixa de ser infinito" - (Zelia Duncan / Edu Tedeschi)
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