quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sobre uma mulher devassa.



Quando te revi, não me surpreendi. Eras a mesma mulher recatada, moralista. Mas por detrás de teus olhos eu via tuas indecências. É que teu corpo é recato, mas tuas opiniões e escolhas vivem em orgias perversas com as possibilidades. Não te defines por nada, não te comprometes com nada. Tu eras a mesma. Devassa!

Senti certo estupor, porém, certa saudade também. E nós bebíamos. 

Por que saudade? Ora, porque eu te tive. A meu modo, solitário (pois jamais te ausentas de tua própria companhia, deixando teus amantes sempre sós), vazio em muitos aspectos. Compreendia verdadeiramente que o que amavas em mim era o seu reflexo nos meus olhos, o qual assumia um tom esverdeado e mais puro do que a correspondente real da imagem que vias. 

Eu tentei! Juro que tentei em desatino relevar, esquecer, esconder de mim mesmo a tua traição, aquela mesma que ocorreu a vista de todos, sob a sombra da minha ignorante confiança em ti, todavia não é possível. Veja, o caminho para o perdão é um labirinto, e eu me perdi. Teu nome é sinonímia de traição. Tu não fostes infiel, decapitastes a fidelidade com a lâmina da deslealdade. O corte dessa é fatal.

Agora fica esse silêncio, tu, cheia de devassidão na mente, com os olhos brilhando apaixonada por si mesma refletida esverdeada nos meus olhos, num corpo hermético e cheio de pudor. E eu ali, assistindo o meu desperdiçar de tempo, perguntando-me porque ainda não fui embora. 

Se tu fostes metade da mulher que enganas-me sendo, farias de tua barriga labirinto pros meus beijos, e do teus seios o predileto passeio das minhas mãos. Faria da tua boca meu sabor de todos os dias, do seu abraço meu esconderijo secreto, e de teu corpo a residência de todo o prazer da Vida. Mas como se tu não me vês, nem me sentes, nem sequer sabes meu nome? Tu és mesmo uma devassa em uma eterna egolatria abusando do meu olhar.

Convencido disso tudo em pensamento, em silêncio levantei-me da mesa e saí. A conta? Pela primeira vez você que pague! A explicação? Você que procure! Porque eu já me perdi por demais...

Phelipe Ribeiro Veiga
09 de Maio de 2012 - 21:20

"Acontece que o meu coração ficou frio..." - Cartola

2 comentários:

Ingrid disse...

sempre muito bom ler-te por aqui..
saudades..
beijos perfumados.

P R V disse...

Quero um botão pra curtir seus comentários Ingrid, minha leitora antiga mais presente :)

Sobre um cofre no peito.

É de uma longa caminhada que venho, e foi nesse processo de muitos anos que fui aprendendo a sanear meus comprometimentos. Não por mero rigo...