sábado, 11 de agosto de 2012

Sobre um Amor verborrágico.



Minha Poesia é como uma mulher má que muito me ama e à seu modo, me quer bem. Quanto me custa esse casamento? Ou melhor, esse adultério vital que cometo em seus braços gramaticais, ortográficos, neológicos? Nosso amor não faz rimas, é despreocupado, corre feito um copo que vira e escorre à vontade da gravidade e do relevo que encontra. Nosso amor não tem regras, não constrói sonetos nem decassílabos, não obedece conjugações de concordância, nosso amor só faz discórdia. Nosso amor é selvagem feito uma oração insubordinada, mais do que substantiva, substancial. Nosso amor me destrói e me reconstrói melhor, com defeitos mais sofisticados. Nosso amor me faz um sujeito composto de predicados despreocupados, que renego, invento, minto. Faço tudo pra ficar mais bela a nossa oração que não é à Deus algum senão uma "celebra ação" ao nosso conúbio verborrágico. Nosso amor é meu vício mais destrutivo e minha saúde de todos os dias. Minha Poesia, contigo sou Poeta, tu me defines, me dá contorno, e sem ti me desmancho em meras palavras facilmente conceituais em ordens alfabéticas tão pobre de significado como um dicionário. Deste modo há duas mulheres por quem dou a Vida, a quem devo ( ` )a Vida. Aquela que me recebeu nos braços quando eu nasci, e que há de me receber nos braços além de aqui, quando eu morrer, e a essa, que há de me ressuscitar antes mesmo do terceiro dia ameaçar a vir. 

Há!

Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Agosto de 2012 - 21:37

"Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei." Vinícius de Morais

Um comentário:

Anônimo disse...

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar 
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Vinicius

Sobre as meninas de bicicletas.

Hoje passaram por mim duas meninas em bicicletas sem rodinhas. Me transporto instantaneamente àquele dia em que, pela primeira vez, eu, com ...