Há um mais-além.
Onde um todo se concretiza,
onde encontros são possíveis,
se goza junto sem demarcar o momento nem retardar prazeres.
Há Silêncio suficiente pra dizer todas as coisas,
onde posso ser leve como me pedem frequentemente pra ser - do que me acho frequentemente incapaz -,
onde meu discurso não tropeça.
Lá as palavras teriam o sólido sabor da especificidade das coisas ditas reais,
de tal modo que seria preciso mastigar e engolir antes de dar-lhes a luz em som e sentido- isso tudo sem contração, sem dilatar os significados nem fazer sangrar significantes.
Saberia assim o gosto dos meus nomes favoritos sem associar nem dissociar.
Lá uma árvore seria pra sempre uma árvore, sem nenhuma genealogia.
Lá o Desejo trabalharia a favor,
feito um rio correndo na direção do imenso mar das intenções que concebi para mim.
Nesse rio a razão não se comportaria como esse peixe esbaforido nadando contra a correnteza na esperança de dobrar o leito e redirecionar os afluentes todos.
Seria uma orquestra sem fugas,
uma sonata sem esses desafinados infiltrados como os tenho hoje,
sempre os tive, sempre os terei.
Seria uníssono.
Haveria concordância - mais do que verbal.
Lá haveria sol sem sombras,
conforto sem o peso moral do conformismo.
Seria possível, e até provável,
a beleza individual das coisas que são sem iguais.
Lá o que se escuta é o que se diz,
o que se entende é o que se quis dizer,
sou de fato quem penso ser.
Há um mais-além.
Antes dele, o Abismo.
12 de setembro de 2015
Phelipe Veiga
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