Olho em frente um calendário estranho.
Escolho estações:
ao meu redor um outono no qual a estação passada, que não me pertenceu e eu não suportei viver, bota fora os seus restos. Me sinto cercado do que sobra de uma festa para a qual meu convite foi revogado. Me sobrou o convite a retirar-me em silêncio e bem no comecinho, com volta dificultada e sem possibilidade de real presença. Cancelaram a festa pra mim restando-me apenas seus restos.
Noto, como alternativa à viver essa sobra de verões alheios, perseguir o que floresce, a primavera e os tempos quentes de onde posso ser e estar.
Onde me cerco da insubordinação de minha terra, de suas raízes que não respeitam calçadas e de sua natureza petulante que brota do meio do que é concreto e do que não é, com rochedo, selva, mar e inundação.
Lá onde sons e ruídos se dão as mãos e fazem da decomposição da vida composição. Faço parte dessa gente que hesita em adormecer, seja por cautela ou por lazer ou por não saber diferenciar o fato de ter feito da vigília uma festa. Talvez daí venha o fato de o silêncio sepulcral desse outono alheio me sufocar e a coerência de minha escolha pelos sons de uma casa cheia.
Lá onde sons e ruídos se dão as mãos e fazem da decomposição da vida composição. Faço parte dessa gente que hesita em adormecer, seja por cautela ou por lazer ou por não saber diferenciar o fato de ter feito da vigília uma festa. Talvez daí venha o fato de o silêncio sepulcral desse outono alheio me sufocar e a coerência de minha escolha pelos sons de uma casa cheia.
Concluo não sem dor:
a desistência, por vezes, é o preço d'existência.
E é a existência a possibilidade d'esta ação.
Irvine, 27 de setembro de 2022.
Phelipe Ribeiro Veiga
"A vida na hora.
Cena sem ensaio.
Corpo sem medida.
Cabeça sem reflexão.
(...) o que quer que eu faça, vai se transformar para sempre naquilo que fiz." - Wislawa Szymborska
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