segunda-feira, 6 de junho de 2022

Sobre um vaso quebrado.




O que era refúgio virou desterro.
Quando parti, partiu também o vaso.

Agora é preciso deixar de ser flor de avarandados
e encontrar beleza em ser margaridas à beira de caminhos.

É certo que a exceção se provou regra
e o desamparo se mostrou, familiar.
Escutei junto a um "não sei" o romper da corrente
e meu barquinho seguindo desancorado. 

Agora cá estou eu, lendo astro/lábios
tentando me guiar por estrelas sempre tão indiferentes.
E justo quando eu já não reconheço mais 
a cartografia celeste, 
e a bússola do meu desejo, 
depois de tanto me desencontrar,
se mostra tão pouco confiável. 

Uma flor navegante numa densa floresta flutuante 
à qual eu não pertenço. 
Não sei pra onde ir. 
Se ir. 

Mas caminho.
De olhos fechados, pés na água,
mata adentro, semeando sei lá o quê.

A minha esperança é que flores sejam margem
e eu possa alcançar algum mar pra desaguar 
e quem sabe até flor/ir. 

Não há. 

Phelipe Ribeiro Veiga
Rio de Janeiro, 06 de junho de 2022. 12h57


Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
 
(Fernando Pessoa)









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