Me vejo de pé em um lugar árido
escutando o estalar das coisas que se partem em câmera lenta.
Estou cercado.
Brotam pedaços de coisas
que nunca nem foram inteiras.
Colheita estranha de uma semeadura tão bem intencionada.
Colheita estranha de uma semeadura tão bem intencionada.
O clima era bom,
a terra era fértil
e era tempo de cada coisa que plantei.
Mas por alguma razão
Mas por alguma razão
ao invés de girassóis me nasceram espinheiros.
Semear.
Sempre um risco,
ou dois ou mais.
Fecho os olhos.
Da memória, vislumbro o corredor.
No fundo, depois de todas as portas, a porta.
Depois dela, você, de costas,
distraído com suas coisas.
Meu pensamento rasteja por lembranças feito coisa disforme e invisível
pra dentro do seu quarto que já nem é, ignorando que já tudo é passado.
Escalo tuas costas até alcançar tua nuca
e o começo dos teus cabelos
e a casa da tua mente.
e o começo dos teus cabelos
e a casa da tua mente.
Imagino um leve arrepiar,
um lapso de lembrança,
uma coceira,
ou uma outra coisa qualquer.
A crença é forte de que quando te penso
você é cutucado pelo meu pensamento.
Creio no pensamento tão concreto quanto um olhar.
Logo eu, tão descrente de tudo.
Logo eu, ateu até das distâncias
Logo eu, ateu até das distâncias
e do passar dos dias.
Tanto trajeto em calendários e desde tão longe.
E tanta fé pra quê?
Questiono o pensamento como quem desperta de um sonho.
Abro os olhos.
Eu ainda estou no mesmo lugar.
Volto em tempo de escutar meia cristaleira partir o chão inteiro
e fazer brotar uma enorme flor de cacos de vidro.
Noto:
O presente é alucinante.
O passado é delirante.
O futuro nem é e não há.
Ex-isto.
Rio de Janeiro, 11 de agosto, 19h42.
Phelipe R Veiga.
"Tudo é estático e morto. Só a ilusão
Tem passado e futuro, e nela erramos.
Não ha estrada senão na sensação
É só através de nós que caminhamos." (Fernando Pessoa)
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