quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sobre o engano do amor.





"Quem nunca foi enganado, jamais amou..."
Afirmo isso sem temor algum de equívoco. Pois o que é amar senão extrair da Vida o que ela não tem pra dar? Achar no objeto de nosso amor tudo o que ele jamais será? Encontrar num olhar mais do que córneas e carne e fibras (O que de fato são)? 
O tolo ama, o sábio se entorpece, e se fazendo tolo, pode vir a amar. 
Quanto mais sábio é um homem, mais ardiloso deve ser seu coração, mais esperta deve ser sua imaginação, mais lógica deve ser sua mentira, caso contrário não há amor viável.
Eu temo por meu coração, pois quanto mais conheço da Vida, mais inconcebível ela me parece, como costumava pensá-la quando ainda a pensava. Hoje eu a vivo, e nada é como deveria. 
O amor não existe senão na ignorância de uma enganação, espontânea ou não. 
A tola ideia de necessidade, a ilusão de completude e entendimento, a sensação de casa no abraço, a sensação de apreço no afago, e então, como passos dos dedos sobre areia fina, isso tudo se desfaz, e o que fica na lembrança não é o que tivemos, nem o que pensamos ter tido, nem o que sonhavamos ter, trata-se de uma nova mentira. 
O amor renova-se de mentira em mentira...
Quem não se permite perder-se não ama jamais, quem não permite-se enganar-se, não ama jamais. 
E assim sendo, abençoo a minha ignorância, e seu preço de sangue... o qual pago enganosamente... satisfeito.


Phelipe Ribeiro Veiga
06 de Junho de 2012 - 22:03


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