sábado, 11 de fevereiro de 2012

Sobre a minha alma.




Já fora dito que há um tempo pra tudo debaixo do céu. Mas meu peito não está embaixo de nada, não tem céu algum. Nele não há lei. Meu peito é uma revolta, uma anarquia, uma obra impressionista, um non-sense, meu peito é uma mancha, um borrão. Meu peito não tem explicação, começo, meio, fim. Meu peito estoura e se reconstrói disso, e desaba quando se estrutura naquilo. Meu peito não tem remédio.
Uma desordem, uma bagunça, meu coração bate invertido, os relógios dos meus sentimentos caminham para trás, numa paixão insana e garbosa pelo passado das coisas, das pessoas e até mesmo do meu. Meu futuro é uma história passada que quero que seja digna de ser contada, mesmo que seja para um surdo ouvir.
Essa minha vaidade, essa minha felação de alma que me custa tudo que não tenho e jamais fui. 
De que me vale provar o tamanho da minha alma se nada se faz com a alma, nem pequena nem grande? A alma não vale pra nada. O corpo se pega, se aperta, se usa, se goza, se beija, se morde, se mata, mas a alma... pra quê serve? A alma me pesa, me obriga, me enlaça nos pés. Minha alma é uma armadilha armada para mim mesmo. Minha alma é uma bala perdida cravada no meu próprio peito. Minha alma é um suicídio diário. Como é embaraçoso tropeçar nos próprios pés. 
Esse não caber em si, esse não saber-se, e se sabe-se de si, embriaga-se pra esquecer. Devo-me a mim rios de satisfações, explicações mil, preciso justificar-me a mim e em mim. E agora em pleno tempo de folia, meu peito decretou concordata para comigo mesmo. Não há um só lugar onde já não me saibam, sou feito um pavão sem cauda, feito uma águia sem uma das asas. Agora que já não me importo em me expor, em confessar; que desespero há em mim, eu não sei ser...

Phelipe Ribeiro Veiga
11 de fevereiro de 2012 - 12:53

"A minha alma está armada e apontada para a cara do sossego" - Marcelo Yuca

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