sábado, 30 de abril de 2011

Sphingo




É desse vai-e-vem langoroso que se faz o castelo no qual temos habitado. É com o arquear contínuo e diário do medo diante do desejo inflamável pela reciprocidade que é quase sonho é que construímos a cama na qual nos amaremos nessa noite. Assim vejo-te descendo do céu sob mandato divino, cumprindo o caminho, questionando um mundo desacostumado com o questionar, vejo-te alado, olhando-me enigma, consumo-me.E retorno a cena fora dos olhos teus para lá novamente me esgueirar, assim sendo, somos, e é desse calar de boca pra beijar, desse fechar de olhos para enxergar que haveremos de alimentar a chama que consome as horas quando estamos nos nossos braços, amantes, enquanto arde fogueira o relógio na parede. É disso que falo quando calo, é isso que vejo quando fecho os olhos, é sobre isso que sonho do momento em que acordo até quando volto a dormir, e tudo não passa de um grande esforço pra que, diante de teus olhos de Esfinge nada seja decifrado pela simples esperança de um dia, com sorte, ver-me devorado.

Phelipe Ribeiro Veiga
30 de Abril de 2011 - 19:16

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amor de Icaro



Fazia calor na cidade naquele dia,
e nossas almas de cera se (a)pegaram uma na outra.
Derretemos e colamos logo nos primeiros abraços,
encontramo-nos casualmente e fomos logo "adestinando" percursos,
isso ocorria prazerosamente já nos primeiros passos, apertando nossos primeiros laços.

Nossa língua se lançava sobre o abismo das palavras sem medo de altura alguma
Divertiamo-nos sobre os riscos de tão grande altura, dançavamos na beira do precipício de nossas palavras, e olha que não olhavamos pro caminho, senão pro caminho de nossos corpos, colados.
Naquele dia de calor seus olhos pegaram aos meus, meus poros aos teus,
naquele dia tropeçamos um no outro e alinhamos uma queda livre,
mas para espanto do mundo (e não nosso) voavamos, feitos em cera e com asas de verdade rumo ao derretimento, na direção do sol.

Phelipe Ribeiro Veiga
28 de Abril de 2011 - 08:36

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Poesia Noturna


Toma-me ao colo. 
Acalenta-me calma, tranqüilamente, que o mundo me perturba
e há muito que tenho carecido do seu calor, apreço.
Pega-me nos braços teus e dá-me abrigo
porque faz frio e o mundo está assustando a todos.

Como a noite é bela e terrível ao mesmo tempo,
é como encontrar os olhos da amada no momento que precede a morte,
que traz consigo toda uma tristeza...
Uma tristeza diferente, ao mesmo tempo fria e cálida,
que abriga e faz temer.
Abriga ou faz temer?!
Abriga do temer, acho eu.
A noite é verdadeiramente como o sorriso da morte,
dama que abraça, cedo ou tarde a todos nós,
sob os olhos de quem tudo é intenso.


À noite faz muito frio ou muito calor,
se é muito feliz ou se sente muita dor,
a companhia é valiosa ou a solidão é profunda.
À noite o açoite dói mais,
o inchaço aumenta, a ferida lateja, a febre piora,

e eu sinto mais a sua falta...


Que triste!
Me diminuo, me reduzo a palavras, encolho-me fetal,
calo-me e choro o abraço que quanto mais preciso,
mais consciente fico de que este já fora retirado da terra.

Que triste, noite!
Me abraça,
Porque tua lua é cheia, mas a vida jaz minguante...

PHelipe Ribeiro Veiga
14 de Abril de 2011 - 22:27

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pra não dizer que não falei de espinhos...




A existencia me acaricia. Chove sobre mim. A vida me rega. É assombroso perceber meus pares, já os percebo pelos olhos nos meus olhos, sei, viemos do mesmo lugar, vamos pra lugar algum, juntos, a sós. Há um lugar separado pra nós. Pros nossos nós. Minhas vergonhas já não meenvergonham mais, meus pecados já não me pesam mais. Está tudo acariciado, aceito, alocado, meu nível de auto-aceitação é tamanho que me preocupa, mas me aceito tanto que a preocupação passa, sou o que sou.


Há porém que se admitir que meu coração vacila, minha corrente sanguinea vai abrindo novos afluentes em meu corpo, sangro. Tudo em mim é claudicante, é feito dia nublado onde o sol parece se esforçar para não ficar encoberto, mas existe uma força indecisa nos céus que mantém a briga, impede qualquer vitória. É uma felação celeste, e é nisso que se espelha o meu sentir. E admito que não há verdade em mim, e antes que se aprece a me julgar em jornais, digo que também não há mentira, há apenas mais uma versão pro inexplicável do mundo. Começo na alma, termino na pele, o mais é suposição.


Sou uma rosa, meu odor se sente de longe, e eu danço com a brisa a seduzir por visão, olfato, sensação. Porém minha pétala muito provavelmente não durará uma unica estação, meus espinhos secam com o fim do perfume e da maciez, tornam-se rígidos, firo. Ao meu redor há um mar de rosas. Abaixo de mim um oceano de espinhos. Eis minha proteção, minha defesa... assim mantenho a salvo o meu coração, até que alguém insendeie o roseiral... estou são.


Sim, sou uma rosa caída a beira de um árido caminho, e te digo isso pra não dizer que não falei de espinhos.

Phelipe Ribeiro Veiga
01 de Abril de 2011 - 20:11

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...