quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Epitáfio de 2010 (O saber equivocado)




Numa casa de espelhos me vi
imagens de mim diferentes de mim
Des-Conheci-me.

Aprendi que há em mim estações quentes e frias, florescimento e frutificação.
Aprendi que tenho em mim desertos e jardins, reinos de trevas e de luz.
Aprendi que sou dono de vida e de morte (em meu coração)
Aprendi que existe guerra e fome, e festa e celebração
tenho conhecido um mundo inteiro dentro de mim.
Tenho me conhecido, me aceitado, me entendido, me confortado...
Aprendi que há em mim alguns lugares que jamais foram explorados
e outros que já foram tão explorados que não cabe mais ser habitado,
e estes deixarão saudades eternas.
Aliás, conheci minhas saudades, meus erros (os quais alguns deles seguirei errando, pois sou o que sou, e mais ainda... o que quero ser)...
Aprendi que saúde e paz não é um desejo, é uma construção.
Aprendi (e tenho aprendido) a importância do sossego,
e tenho convivido em revolta com as vicissitudes do apego.
Aprendi que a morte me assusta sim, principalmente quando é a dos outros que amo,
Aprendi que a perda é o preço de todos os ganhos, como o adeus é o desfecho de todo encontro.
Aprendi que amar é uma coisa que nunca se saberá fazer, aprendemos muito tarde, e o amor não dura tanto assim, não dá tempo. E por falar em tempo, aprendi que o tempo não dá tempo, mas nos dá tantas outras coisas, tantas reviravoltas e idas e vindas...
Sobre o amor, aprendi que nossos corações não tem olhos, eles tateiam o universo a cada pulsar, e as vezes nos esbarramos, e ao contrários de nós, tolos homens, nada no universo intenta o pra sempre, tenho aprendido isso com as folhas que secam, os dias que se põem, os anos que passam, com todo o universo...
E sigo assim aprendendo e reaprendendo, construindo e desconstruíndo tudo isso, achando-me constantemente equivocado sobre todas as coisas...
Aliás, por falar em equívocos, aprendi que não sei absolutamente nada sobre mim,
vivi numa tribo miúda achando que habitava o maior império da terra, mas como meus ancestrais, vieram fatos de além dos mares trazendo consigo sustos e sobressaltos, e muitas novidades, eu estava errado...
errado sobre a unica coisa que certamente sempre estarei errado...
estava errado sobre quem sou.

Até breve.
(Sempre) Com amor...

Phelipe Ribeiro Veiga
30 de Dezembro de 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Reflexões de Fins de Ano




Hoje vejo-me, e mais, me olho nos olhos. Não é que eu não saiba amar, visto que essa é uma daquelas coisas que se aprende fazendo, mas é que eu não sei se quero. Rejeito e resisto ao amor feito um cão resiste a coleira, mesmo desejando ardentemente o passeio, mas por que a coleira? Desejo tanto o afago atrás da orelha quanto rejeito a coleira. Penso na angústia do amor que dá certo. Vivemos a lamentar nossos fracassos amorosos... Mas e se der certo mesmo? Meu Deus! Ser feliz é tão assustador! Saberei ser feliz? E você? Saberia? Penso-me tão jovem pra ser feliz pra sempre, mas quando é que me verei velho? Acaso também não me pensarei velho demais daqui a um tempo? Será que a tentativa não deixou espaço pro sucesso? E minha poesia? Sei fazer a dor rimar com a angústia, saberei rimar alegria com felicidade? Sobreviveria a poesia em mim? Porque não escondo, entre eu e o poeta, escolho facilmente o poeta. E agora José? E agora que a festa não acabou? Que fazer? 14:33



Não há outra maneira. Sou um estranho, feito um sapato para uma espécie de pé que já não nasce mais. O caos do mundo me invade, o passo constante dos ponteiros é o som do caminhar tranquilo da morte vindo em minha direção e já não há saída. Passei vinte três anos e alguns dias nesse mundo e em todo esse tempo não encontrei um lar sequer, não há uma calma que meu coração abrace, uma cama em que meu corpo descanse, um abraço em que minha inquietude se abrande. Concluo assim... Pra mim nesse mundo não há lugar, pra mim não há a possibilidade de par. E aos passos distantes da morte que se tornam cada vez mais audíveis eu vou me tornando cada vez mais esquisito. Sou um estranho cheio de silêncios até para os meus mais íntimos. Que fazer? Desespero-me calma e silenciosamente, e sediciosamente tento me juntar a isso tudo e fazer desse caos algum tipo de paz. Sou... 14:18



PHelipe Ribeiro Veiga

28 de Dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O que eu sou?


O que eu sou?
O que eu sou?

sou um barco a deriva
constantemente se afastando do cais
sou um sol sempre a se por
sou uma atitude impensada
que já não se desfaz
sou uma alegria que insiste em ser dor
sou um campo de batalha
invadido de paz
sou um poema que não se sabe rimar
sou um poeta que esqueceu o que é o amor...
sou um segredo a se sussurrar
sou uma história que se abandonou
porém... todavia... entretanto... eu sou...

Phelipe Ribeiro Veiga
30 de Novembro de 2010 - 21:53






...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pena

Foto: Phelipe Veiga


Eis a pena do poeta...
a ser cumprida,
pra escrever
e ser distribuída por aí e sobre si...

Eis a minha pena por e para ser poeta...
Minha sentença que compõe meu poema e minha condição...

Ser assim na metade, meio homem meio coisa sem nome, ter esse coração assim, feito um labirinto que não tem mapa e nem sinal de saída, ter que admitir o que minto, ter que rimar o que sinto e acabar feito página rasgada e pisoteada como folheto em final de carnaval. Em minhas veias corre um vinho tinto que tem a minha idade, que justifica a embriaguez permanente de minh'alma. Sob meus pés há um mundo a girar e parece que só eu me dou conta disso, por isso a realidade das coisas me deixa assim... tonto. A minha sombra me persegue, e a luz do sol refletida no mar persegue meu olhar... por isso alimento (assim como todos os poetas) o sentimento glutão de achar que sou algo além do que um ordinário homem no mundo.

Que lástima essa pena, essa sentença que foi promulgada por um juiz que não seria outro senão minha própria alma, apoiado por um júri composto por todas as pessoas que compõem quem penso que sou, fui acusado de matar a realidade, de cometer o crime de querer semear rosas em um pântano. Incomodei os crocodilos meus irmãos. Agora cá estou, cumprindo pena debruçando-me sobre minha pena com pena de todo o mundo...

Quantas penas terei de juntar
pra montar asas
e fugir daqui voando pra outro lugar?
Quantas?

Phelipe Ribeiro Veiga
24 de Novembro de 2010 - 13:04

domingo, 7 de novembro de 2010

Carta para o Imperador



Sinto o teu mundo tão grande que me sinto pequeno nele. É tanta gente, tanta coisa, tanto lugar... haja ser pra ser alguém nesse teu mundo vasto, extenso, desconhecido por meus olhos. Fico caçando no teu olhar algum vestígio de tudo isso que me faça maior um poquito que seja, pra que eu não me sinta tão miúdo. Faço caras e bocas pra que minha pequenez te encante, e quer saber? Não sei se encanta! Penso em te oferecer um poema, mas você não gosta. Penso em te oferecer meu beijo, mas você não quer. Penso em te oferecer meu abraço, mas o calor te incomoda. Penso em te oferecer meu tempo, mas você está ocupado. Penso em te oferecer dinheiro, mas você não precisa. Penso em te oferecer meus olhos, mas eles te constrangem. Penso em te oferecer minha companhia, mas você não está... não está... Mais do que longe está distante. E eu fico ali pra mais um lapso de proximidade, que hora sim hora não ocorre. E o dilema que vivo é te pedir o que pode me desafogar (ou afogar) ou te deixar partir sem saber se vais voltar... o que você iria querer se pudesses escolher? Ao puxar-te pra perto posso mesmo é te afastar, mas se não puxar-te pra perto, vais seguindo à deriva, pouco a pouco a se distanciar. Vais... de todo jeito.
No fim o que sobra é o que sobra, somente eu, calado, inócuo, de olhos furtivos, de lábio seco, de peito apertado dizendo-te adeus... de novo... até que você volte pra se despedir mais uma vez.

E assim calo (n)a garganta. Calei-me.
E vez após vez terminamos sozinhos
e o pior... a sós. Está bom pra você?

Phelipe R. Veiga
07 de Novembro de 2010 - 05:47 am

PS: ...

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"Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus..."

Vinícius de Moraes

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"O que é felicidade pra você?"

Vanilla Sky


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Falta que a Falta Faz


Há aquelas noites onde está tudo tão bem
onde tudo é tão completo
que a falta faz falta...

Mas que falta é essa?!
O que falta?

Falta...
viver mais?
construir mais?
dizer mais o que sinto?
ser feliz com o que tenho?
amar aos que já amo?
acionar meus planos com mais empenho?
O que? O que está faltando?

Vejamos...

Falta...
chorar mais
(porque chorar é poetizar em silêncio)
rir mais
(porque sorrir é rimar com a vida)
arriscar mais
(porque sem arriscar tudo não se consegue coisa nenhuma)
falta descobrir novas faltas
(porque é a falta que move a vida da gente)
falta tentar de novo
(porque até nossos sonhos merecem uma segunda chance)
falta aprender a me despedir do que se foi
(porque é limpando o jardim que se cultiva novas e melhores rosas)
falta aceitar que algumas coisas e pessoas não vão ou não querem mudar
(porque a cada um cabe a missão de fazer-se feliz da forma que bem entender)
falta compreender a alteridade das novidades
(porque à novidade falta conhecimento, e a falta é sempre motriz)

Achei tanta falta
estou mais vivo agora...
vou dormir e sonhar com a completude
como fazemos nós todas as noites...
Agora só falta eu dormir...



Phelipe Ribeiro Veiga
21 de Outubro de 2010 - 22:59

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"Boa noite e boa sorte"
Edward Murrows

"O que importa quantos amores você tem se nenhum deles te dá o universo?"
Jacques Lacan

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Já era... já somos!


Porque não me seguraram?!

Já era! Estou em queda livre pros seus braços.
Estou fadado a me afogar no seu beijo
e sonhar pra sempre deitado no teu regaço.

Já era! Eu to sonhando acordado de novo,
e sonhar acordado, sabemos, é loucura
Eu já nem mesmo grito socorro
Sou poeta aprendendo a rimar com a rasura.

To colhendo saudade futura
e vivendo a felicidade que virá
to prévivendo essa experiência dura
e implorando pra ela jamais acabar.

Que assombro!
Já era! Somos!
Seremos...

Phelipe Ribeiro Veiga
18 de Outubro de 2010 - 22:10

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Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Chico Buarque



domingo, 17 de outubro de 2010

Carícia de Deus - 17 de Outubro de 2010 - 22:45


A morte se debruça sobre o muro
feito um pivete maroto
E contempla o quintal do mundo
e rouba-nos o fôlego como quem rouba uma manga de um fazendeiro
que já tem tantas, que nem se dá conta da perda.

Nós, feito mangas que somos,
ficamos pendurados à vontade do vento
crescentes ao acaso segundo a vontade das estações
que já não são tão pontuais assim.

A vida segue feito uma grande bobagem
somos uma travessura de Deus
e a morte?
Talvez a unica coisa que não seja acaso

Trata-se de um furto premeditado
pensado e muito arriscado
feito com desejo e esmero

Ao contrário do brotar de nossas vidas
acidental, indiscriminado...
Talvez a morte seja a unica carícia de Deus...

De tão carentes e sós que somos
Ele nos acaricia...
morremos...
de emoção.

Phelipe Ribeiro Veiga
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Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria.

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Desjejum - 11 de outubro de 2010 - 17:18


Acordei com fome e já fui quebrando o jejum com seus olhos negros encarando os meus
seu rosto cansado, seu cabelo bagunçado.
Depois li uma poesia como café da manhã
e almocei a beleza de uma moça que passava na praia.
Fiz um lanche logo depois, no fim do calçadão
e percebi ao morder o pôr do sol como eu sou comilão.
Empanzinado de tanta beleza, eu venho aqui minha poesia exercitar
mas já sinto fome de novo e to com vontade de comer seu olhar...

Que beleza!
É de beleza que me alimento
E em meio a alegria e tristeza
Minha poesia eu sustento.
É a forma que encontro de não deixar minh'alma obesa
e de me fazer presente ainda depois,
já que pouco a pouco me ausento...

[PH]elipe Ribeiro Veiga
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Com o dia rolando assim lindo e calado
Com as notas musicais de um teclado
Em meio a cidade do oficio e do riso
De afeto e do lixo
Não acho difícil
A gente pescar - a beleza
A gente sacar - a beleza
A gente firmar - na beleza
A gente espiar - a beleza
A gente se amar - na beleza

Elisa Lucinda



domingo, 10 de outubro de 2010

Filho de Liríope - 10 de Outubro de 2010 - 15:58


Acordei e pensei nele. Olhei no relógio e vi, estava quase na hora de encontrá-lo, tinha que me arrumar. Corri para o banho e lá fiz minha barba, lavei meus cabelos, lavei-me cuidadosamente. Saindo, coloquei minha melhor roupa, meu melhor perfume, meu melhor penteado, tentando impressioná-lo, lembrá-lo da beleza que há em mim e que talvez por descuido meu ele possa ter se esquecido, ou eclipsado pelos astros do meu dia a dia. Calcei meus sapatos e corri para o banheiro, e quando me virei o vi...

Aqueles olhos pelos quais há muito vejo tudo, belos olhos que refletem pra mim a beleza do mundo, ainda que de cabeça pra baixo. Aquela boca que me fala das coisas que não sei sentir somente, a pele que me faz sentir o que ninguém mais sente, o cabelo acariciado pelo vento, as mãos, extensão do coração. Até seus defeitos me pareceram dignos de aplauso, apreço e cuidado.

Eu o beijei.
Acredite ou não eu o beijei com o beijo mais doce que havia em mim,
redescobrindo o meu amor por ele.
Eu tirei da caixa do meu coração o beijo mais precioso que havia guardado em mim, e dei a ele.
Era frio beijar o espelho, mas sentia o calor do meu apreço... por mim mesmo.
Naquele momento eu e aquela figura do espelho nos tornamos uma somente.
Amei-me.

Que orgulho de quem sou...
E penso que quem não tenha coragem de beijar o espelho
não mereça assim talvez sê-lo.

[PH]elipe R. Veiga
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E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade... também.

Oswaldo Montenegro

"Tirésias fora consultado por Liríope (mãe de Narciso) com a seguinte pergunta: Narciso viveria muitos anos? A resposta foi: Se não se conhecer... Se não se vir..."

Mito de Narciso


sábado, 9 de outubro de 2010

Hoje 3 - 09 de Outubro de 2010 - 16:17


Percebi.
Hoje amor, teci minha queda.
Não doeu. Cresci.


[PH]elipe R. Veiga
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Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída
Como é por exemplo que dá pra entender
A gente mal nasce e começa a morrer
Depois da chegada vem sempre a partida
Porque não há nada sem separação

Sei lá, sei lá
Só sei que é preciso paixão
Sei lá, sei lá
A vida tem sempre razão

Vinícius de Moraes


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Luto - 22 de Setembro de 2010 - 22:43

Em memória de
Patrick Kitzinger Costa
05 fev 85 - 23 set 09

Luto...
Luto por opção
luto por liberdade
luto por obrigação

luto por esperança
luto por equidade
luto por ganância
luto por muita saudade

luto por mim
luto por você
luto pra te conservar assim
vivo comigo até eu morrer

aprendi que lutar pra viver o dobro
era o melhor luto que poderia te dedicar
cometo meus crimes assumindo todo dolo
erro hoje sem ter medo algum de errar

viúvo de ti com a vida me casei
faço juras de amor todos os dias pra ela
de usar preto nessa vida eu me cansei
visto todas as manhãs uma aquarela

e penso em você em cada trago de vida que dou
e vivo por mim e por ti sendo quem você me transformou

essa é uma forma bem mais grata de praticar o luto
por ti, por mim, por nós... e por nossa eterna vida juntos... LUTO!!!

E confesso... morro de saudades....
Com amor...

Seu Mogway! (L)

[PH]elipe Ribeiro Veiga
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"Beeeeeeeeeeijus!" - Patrick Kitzinger



sábado, 11 de setembro de 2010

Ipanema - 14 de Junho de 2010 - 17:43


Escrevem as ondas nas areias de Ipanema
um poema de amor que na noite passada se deu
em sua calçada de pedra
depois que o sol se escondeu.

Canta o Arpoador,
trampolim do poeta,
uma canção de dor...

E discutem os Dois Irmãos
pois um prefere Ipanema
e o outro prefero o Leblom.


Areais de Tom,Vinícius, Cazuza
Terra de poetas
de gente que enquando vive
um tanto da vida abusa.


Praia feita de grãos de poesia
Mar que reflete em gotas
de um povo inteiro uma fantasia.


Trajeto daquele balanço a caminho do mar
Como poderia eu...
poeta, rebede e louco
por ti Ipanema não me apaixonar?


E fico a semana inteira
com meus amores daí a sonhar
E me acalmo na vida por saber que é nosso
o teu sol, tua areia e teu mar...


[PH]elipe Ribeiro Veiga

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Pois só quem tem os sonhos mais básicos
pode amar e dizer a verdade
Ipanema é uma sala de estar
pro nosso barato hipnótico
A ponte aérea é o barulho do mar
e as estrelas ainda vão nos mostrar
que o amor não é inviável
no mundo inacreditável
Dois homens apaixonados.

Como Já Dizia Djavan - Cazuza

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Da preguiça - 08 de Setembro de 2010 - 19:45


Rompe as amarras da preguiça
Vem me abraçar que eu to com saudade

Sai dessa cama movediça

Acorda enquanto ainda temos pouca idade


Rompe o medo do vento lá de fora

Que eu to pensando em você
To te esperando tem mais de hora

E já não posso ficar sem te ver


Você só precisa dar um passo

Eu corro o resto da corrida pela gente

Nem preciso dizer tudo que posso e faço

Pra poder te manter no meu abraço quente

Vem logo que a noite passa ligeira

E a madrugada sempre te rouba de mim
Tira meu apreço da sua cabeceira

E vamos viver depressa que todo começo já anuncia seu fim


Desata do pescoço a preguiça
Que ela sufoca o amor

E seria uma puta injustiça

Trocar tanta ternura por dor...


A hora já vai passando

E você insiste em se demorar

E eu aqui quase te amando
Cansando de me protelar...


[PH]elipe Ribeiro Veiga

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Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Prá mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva...

Vambora- Adriana Calcanhoto


domingo, 22 de agosto de 2010

O Novo Amor - 18 de Agosto de 2010 - 17:35


Um novo amor é como ter um filho...
A gente fica maior, nosso humor sofre de variações, ficamos bestas e sensíveis. Gastamos por conta, parece que tudo gira em torno daquele amor que ainda está em gestação. Você ama o novo amor em imaginação muito antes de ele vir a nascer. Você se protege mais porque sabe que está mais frágil e suscetível a coisas que outrora eram muito simples mas que agora podem abortar o novo amor. Você muda, se sente mais homem ou mais mulher, se sente mais importante (e é porque cada vez mais se vêem pessoas que sofrem de esterelidade do coração)...Você dá nomes e apelidos ao novo amor, fica ansioso, preocupado, tenta ser ou se tornar tudo que acha que o novo amor gostaria de você... E sente medo... Muito medo... Poque o mundo é mau... E muitos são os amores que jamais alcançam sequer a primeira infância... São brutalmente assassinados. Você sonha o amor dia e noite...e as vezes dá até aquela tristeza... Porque nada é pra sempre... E ninguém a ninguém pertence...

Que dó...
Os amores são como filhos... Os geramos para além de nós mesmos... Logo existirão fora de nossa imaginação, correrão riscos, farão escolhas que escapam a mãe de todos os amores... A saber... A imaginação...
É... Um dia os amores crescem e se vão...Deixa eu me aquietar dessas angústias, fechar os olhos e descansar... Porque quanto a mim... Meu coração já dilatou e começo a sentir as primeiras contrações.

[PH]elipe Ribeiro Veiga

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Eu tenho que arranjar
Algum conforto pra viver
Paixão é bom, eu sei
Já tive mais de mil
Mais de mil vezes eu vi
Que era engano
Que era por mim que eu
Estava chorando
E tanto tempo eu tento
Que me sirva de consolo
Eu quero amar alguém
Sem delirar de novo
Se Deus existe mesmo
E o amor é seu agente
Então ele só pode
Fazer bem pra gente

Cazuza - Conforto


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Receita de Grandeza - 03 de Agosto de 2010 - 12:53





Foi numa noite de coração minguante e de maré baixa em que concebi esses pensamentos,
refletia sobre meus ídolos, todos mortos... todos engrandecidos, talvez pela morte...

Pensava enquanto via a lua (menos minguante que meu peito) no que tornaria um homem grande...

Percebi que um homem pra ser grande precisa...

ter sido enganado
ter sido traído
ter sido frustrado
ter sido pego de surpresa
ter vivido uma tragédia
ter sofrido uma injustiça
ter se decepcionado (consigo e com outros)
ter perdido um sonho
ter perdido alguém
ter sido abandonado
ter experimentado a pobreza (de alma ou de moedas)
ter descoberto um amor falso
ter chorado (mais que os olhos)
ter sofrido (com a alma)
ter dívidas
ter cometido uma injustiça (e tomar consciencia disso)
ter amado
não ter sido amado de volta
ter perdido a fé a esperança
ter sido errado
ter sido humano
ter sido pequeno

e depois disso tudo, se no dia seguinte ele ainda assim se levantar e ver beleza no mundo e em si, e em seu mundo... teremos um grande homem.

Pena que a grandeza é tão pequena...

[PH]elipe Ribeiro Veiga
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Assim como o poeta só é grande se sofrer

Vinícius de Moraes - Tom Jobim - Eu não existo sem você

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sexo - 21 de Julho de 2010 - 17:56


Mordo seu pescoço na tentativa de arrancar aos dentes de tua garganta
as palavras que não dizes,
palavras que eu pressinto o sabor em tua lingua enquanto te beijo...
E passo a língua na sua língua
tentando roubar de sua saliva alguma sombra de significado...
Queria falar sua língua...
Morder sua língua...
lamber sua língua...
São nossas línguas... é nossa linguagem...
Sei que por muito não te deixas falar...
Mas teu desejo te escapa
e nos sussurros e suspiros
dizes tudo que é preciso se ouvir...
Sexo
São meus poros beijando os seus
São seus pelos enroscando nos meus
Sexo é língua
e mais do que tudo linguagem...
É uma forma de arrancar do outro o que não pode ser dito
mas que também já não podia mais ficar calado.
É por isso que teus peitos aperto
Queria abrí-lo e lá dentro me abrigar
É por isso que te beijo de olho aberto
Pra nunca perder de vista o seu olhar...
É por isso...
Porque sexo é gozar
acompanhado
É gozar da vida, na vida, a vida... acompanhado
Sexo é discurso, monólogo, diálogo, debate e até discussão...
Conclusão?
Um gemido vale mais que mil palavras!

...
[PH]elipe R. Veiga
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Primeiro é o beijo
Quente, procurado
A língua procurando a outra
E vendo se a boca combina
Se combina o beijo
Meio caminho andado
Depois é a pele
Se a textura vale
O pêlo com pêlo
Ou o pêlo com o seu pêlo
Ou os pêlos com meu pêlo
Ou o mêdo
Qual a cor do amor? - Cazuza

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Febre - 01 de Julho de 2010 - 16;14


Que vontade de você...

Te por contra a parede

Segurar os seus braços

Construir ao seu redor uma rede

De abraços e preencher seus espaços

Inspirar sua pele feito um viciado

Morder seu pescoço feito um esfomeado

Sentir-me em ti assim

Tal qual sinto-me em mim

E ofegante te envolver

Te ser cobertor, de calor te fazer derreter

Feito uma febre te fazer delirar

Pra que em meio a tanto êxtase

Não percebas o panaca que sou

Embasbacado a te contemplar...

[PH]elipe R. Veiga

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Eu traço tantos planos
Brilhantes, antes
De te ganhar num salto
Mortal, de iniciante
Na pirraça de te ter
Por enquanto, por enquanto
Eu miro o índio que eu sou
No teu ser
E alcanço


Viagens tão óbvias
Loucuras tão sóbrias
De um iniciante
De um iniciante


Aprendiz das piscinas
Tão tingidas de escuro
Aonde, peixe safo
Eu nado até você
Até o teu mundo
Que eu também procuro
Nesse quarto sem luz
Nessa ausência de tudo


Blues do Iniciante- Cazuza

sábado, 19 de junho de 2010

Rato - 19 de Junho de 2010 - 20:24



Meu pai já me dizia desde bem cedo, desafiando-me a fazer proezas "És um homem ou um rato?".

Ah Seu Jorge, se tu fostes um pouco mais corajoso pra olhar-me nos olhos nos dias de hoje e me fazer de novo essa pergunta, responderia com o orgulho reservado aos homens que sabem que são homens (e não deuses) que sou o mais infame dos ratos.

Sigo "celebrando a vida em bebedeiras e literatura" (Pessoa) e nada mais. Roedor de sentimentos é o que sou, um touro manso, castrado, falido, impedido de todo, rulminando os fatos de antes de ontem.

Rato.

Pois quem é que admitirá a verdade a respeito de si mesmo?
Quem nunca invejou?
Quem nunca traiu?
Quem nunca mentiu e enganou?
Quem nunca desejou o que não devia?
Quem nunca possuiu o que não queria por pura hipocrisia?
Quem admitiria tais coisas senão os ratos?
Quem tomaria posse de forma nua e crua de tais fatos?
Quem confessaria, mesmo que a si mesmo, a realIDADE de seus intentos?
Quem confessaria, mesmo que por uma piada ubuesca o que se passa em seus próprios pensamentos?

Não há no mundo homens pra isso, senão os ratos...

Eu invejo SIM

quem foi mais agraciado pela natureza
quem foi mais apreciado pelos homens
quem foi mais amado pelos amantes
quem foi mais cuidado pelos pais
quem foi mais afortunado pelo acaso
quem foi mais feliz pelas escolhas

Invejo todos eles, a despeito de mim mesmo e do que sou, e dos que de mim invejam minha miserável condição de roedor... invejo todos.

Sou um invejoso, olho com ciume os casais nas praças e os idosos em suas casas construídas a tempos, e os ricos nos carros e os pobres em sua vida leve, levados feito crianças pela mão de sorte nenhuma. Vivo a vida alheia em imaginação, futil, fortuita, invejosa, ciumenta e mais do que tudo, inadequada...

Como rato que sou,

faço da minha poesia minha psicanálise de cada dia
e confesso
sou invejoso, ciumento e inadaptado
sou hora homem, hora menos que isso
mas mais do que nada, acima de tudo


Rato.


[PH]elipe Ribeiro Veiga

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Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa

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Me deixem amolar e esmurrar
A faca cega, cega da paixão
E dar tiros a esmo e ferir
O mesmo cego coração
Mal Nenhum - Cazuza

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Poesia pra quê? - 9 de Junho de 2010 - 16:30



Arre! Que dizer da utilidade da poesia nessa vida?
Me diga você, pra quê poesia?
Se a gente ainda acorda com os olhos colados pelas lágrimas que sofremos em sonho, e fedemos, e andamos e andamos como quem conhece algum caminho.


Descansa meu caro Quixote!
Tudo na vida, desde o amor a morte,
é tudo moinho!


Pra quê poesia? Me diga, pra quê?

Se a gente se come e ainda assim dorme urrando de fome. E se nos multiplicamos e enchemos a terra, e só o que aumenta é o vazio do mundo e a nossa solidão.


Descansa meu caro Hamlet!
Que de nada te importa ser ou deixar de ser,
porque "é tudo luz e sonhos"(cazuza) afinal, e nós não passamos de nós no cordão umbilical de Deus.


[E de repente me ocorre...]


Ah poesia minha, vadiagem minha! Se te julgo a ti tão inútil assim, que direi para justificar-me? Diga-me, que direi em minha defesa e em razão de minha existência?

Eu.
Poeta de peito quente e coração gelado que vive o fingimento da realidade como se houvesse alguma verdade no que chamo verdadeiro.
Eu.
Dono de toda a medíocridade que cabe a um ser vindo do barro, primo esnobe de símios que pensa ter descoberto o amor.

És tú meu espólio do mundo, o que veio comigo seja lá de onde eu vim, e vai comigo seja lá pra onde vou depois daqui. Assim descubro que vivo pra ti, e descubro que não sou homem, pois não sirvo a que servem os homens. Sou poeta. Sim, com toda indefinição que possa definir a palavra, eu sou poeta. Há poesia, e porque há poesia há poeta, e porque você é... eu sou, e assim somos... e vamos sendo...


[PH]elipe R. Veiga

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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente.
Que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa)

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Poetas e loucos aos poucos
cantores do porvir.
E mágicos das frases endiabradas sem o mel
Trago boas novas, bobagens num papel.
(Cazuza)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Madrugada - 04 de Junho de 2010 - 03:40


Tenho no peito nesse instante o peso do mundo inteiro, e a impressão de que tudo que penso é quase erro... A sensação de que cada pé que me carrega quer seguir pra uma direção, e que meus lábios, minha lingua e meu pensamento vivem discordando e se atropelando.

Tenho um medo de ser, um pavor de estar, e ao mesmo tempo o horror de não sentir coisa nenhuma. Tenho arrepios diante do que é esquecido, calafrios diante do que está perdido e verdadeiro desespero diante dos fatos que certamente ainda me atingirão. Sinto, e sinto tanto que sinto mais, e sinto muito por sentir muito, porque dói.

Eis que meu coração foi fecundado por um sorriso, e agora sofre as contrações do nascimento da saudade de uma vivência que ainda nem aconteceu. Quanto medo tenho eu dos meus semelhantes! Me desespero às três da manhã por nem sei o quê, escrevo até a mão doer, e espero, dormirei com a cabeça a explodir, e o peito a desmoronar diante de coisa alguma real.

Ah realidade que eu criei! Ah mente sadiana desgraçada! Se acaso a realidade das coisas é nossa pra dela fazermos o que bem entendermos, porque é que dentre tantos fatos, escolhestes o assombro e o pavor de uma jaula invisível como esta? Quem me dera saber ser de outro jeito e não assim... tão... eu.

[PH]elipe R. Veiga
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"Pensar profundamente é uma alegria, mas sentir profundamente é uma maldição." - Fernando Pessoa


Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice - Chico Buarque


terça-feira, 1 de junho de 2010

Carta ao Mar - 1 de Junho de 2009 - 16:16


Meu amor,


hoje meu telefone tocou para me lembrar de que a vida continuou sem você... e o que me assombra mais é perceber que a minha também tem seguido rio abaixo, ao encontro do grande mar onde desaguam todas as vidas, deixando-te náufrago rio acima, fitando-me ao longe com olhos de adeus.

Meu tesouro passado, ausência presente... que falta você me faz.

Hoje descobri que teu corpo sucumbiu e deixou no lugar um espectro, uma sombra de ti chamada saudade, que me abraça, me segura, me empurra adiante.

Descobri sobre ti, fórmula exata e tardia do meu desejo, que tu és minha predileta razão pra descer ao encontro do mar, moldando os leitos do mundo, arrastando-me pelos dias, fazendo-os durar, dando-lhes intensidade e cor, para que meu caminho até lá gere histórias, valha a pena, e ao chegar lá, onde você me aguarda com olhos de boas vindas, possa eu ter muita coisa pra contar.


Com imensurável saudade e amor.


Phelipe R. Veiga

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Time ask no questions, it goes on without you
Leaving you behind if you can't stand the pace
The world keeps on spinning
Can't stop it, if you tried to
This best part is danger staring you in the face
You Gotta Be - Des'ree

"Iluminar a vida já que a morte cai do azul" - Caetano Veloso

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...