quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sobre abandonar o amor




O coração de um amante adicto é feito pé de bailarina, destroçado pela beleza de sua arte. Quanto mais ela se castiga por seus muitos ensaios e apresentações, mais bela fica sua dança. Ela dança sobre sua coleção de abandonos e abandonados, sobre um mar de rosas (e espinhos) atirados por seu público a seus pés. O amante adicto precisa saber, mais que começar um amor, terminar (que é verdadeiramente, quase sempre, o mais difícil). Abandonar um amor é como parir um filho antes da hora propositalmente, você expulsa ele de dentro de você sabendo que isso significa matá-lo. É feito amputar o membro do corpo que te dava mais prazer e satisfação, mas que se tornou uma fábrica de angústia, e a dor de perdê-lo é menor, melhor, mais gostosa de algum jeito. É cauterizar o coração. E pra isso é preciso odiar, desprezar, é preciso virar a fantasia do avesso, começar o carnaval pelo insosso sabor da quarta de cinzas. É preciso ver o outro pelo lado de dentro (que NUNCA é belo de verdade). Há de se fazer necessária uma dose de mentiras e desilusões, demonstrações de humanidades (vulgo egoísmo e mediocridade de sentimentos). Pra se abandonar o amor não é suficiente vê-lo partir, é preciso cortar-se nos cacos que sobrarem no chão, e dançar descalço sobre eles (nas pontas), sangrar e fazer doer muito e amiúde, até que de tanto excesso sobre nada, não sinta pés, mãos, olhos ou pulsação, resta ali você, tabula rasa pronto pra amar de novo. . Ao lado jaz uma lápide, um aborto vital que agora aduba o seu jardim, nutre sua dança, seus novos amores. No fim o que se vê é uma estupidez enterrada, e na lápide está escrito "Aqui jaz um acidente, o que não deveria ter sido".

Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Agosto de 2011 - 16:09

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sobre a tua mentira




Tua mentira te escorre pelo canto da boca feito um caldo de uma fruta podre que você mordeu às escondidas e agora insiste em negar que o fez, de forma tola você acha que minha tolice é maior que a sua. E aí escorre tua mentira manchando teus dentes, tua pele, tua alma, tua imagem, minha fé. É que me trair desse jeito talvez já estivesse nos seus planos, mas não nos meus. É que trair já estava gravado nos seus passos, mas não nos meus. É que eu lhe dei tanta confiança, apreço e cuidado, e no fim, multiplicou-se tudo pelo nada, sobrando dessa equação simples um monte de coisa nenhuma. Eu plantei, eu reguei, eu expulsei pragas, fui mordido por insetos, podei e colhi, e desses limões com a força das minhas mãos fiz minha limonada, azeda de fazer caretas mas exclusivamente minha, bebo de um gole só.

É que foi tanta coisa, naufragaste feito navio de carregamentos ruins, e agora o que me ronda são destroços que cheiram mal e que só fazem multiplicar, e tu, corajosamente ainda me acusa por tua tragédia, por tua dor, pelo teu vazio que é o que busca dia, noite e madrugada. Vai-te sombra da minha ilusão, elucubração da elucubração. Naufragaste no mar de ilusões que semeastes por conveniência e egoismo em mim. Mar de músicas mentirosas, de um romantismo de engodo, de tua vã mania de achar que tudo te serve, e o que não te serve não presta. Vai-te de vez nascer de verdade, viver de verdade, ou coisa qualquer, mas que seja verdade, porque a cena fechou, a cina se impôs, o carnaval já passou, mas você ainda me quer de palhaço pra si, de cara pintada exigindo-me aplauso de um show que até era seu, mas que já terminou.

Pra quê mentir? Pra quê? Pra quê?
Tua mentira foi o ponto... final.

Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Agosto de 2011 - 00:25

"Quem sabe o príncipe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar...

Eu só peço a Deus um pouco de malandragem

Pois sou criança e não conheço a verdade
Eu sou poeta e não aprendi a amar" (Cazuza)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre calar a boca.




Eu só queria que o silêncio me bastasse! Mas não dá!
As palavras vem e roubam a paz, trazem a dúvida de algumas coisas boas, a certeza de outras ruins, as palavras penhoram a alma.
Eu só queria que o silêncio me bastasse! Mas eu me tornei adicto dessa mania de dizer, mesmo com meus silêncios, e esse bolo na garganta me asfixia, e aí eu escolho calar, eu não falo, mas digo mesmo assim.
QUE DESGRAÇA! EU SÓ QUERIA QUE O SILÊNCIO ME BASTASSE!
Mas não dá! Não há silêncios em mim, eu temi tanto as horas quietas que as expulsei de mim, e agora tudo por dentro é um mar de significantes, ilhas de significados e naufrágios de mal entendidos.
Pra quê dizer? Não muda nada! NADA MUDA! Sabendo que não muda, deveria emudecer. Mas não! E eu digo, e o sol continua sol, a noite continua noite, a injúria e o perjúrio persistem, e o que eu disse é que eu não sei o que quis dizer... perdi! A palavra dita é feito o trem que perde o trilho, descarrilha e já não se sabe de onde veio, pra onde vai, ou se sobreviverá a viagem! No silêncio possuo meu discurso, é meu, só meu, entendo, sei, compreendo. Falei, perdi. Já não sei.
Que diacho!
Eu só queria que o silêncio me bastasse...!
Ahhh cala-te poeta, porque nada rima com o vazio, e tudo jaz dissonante.
Cala-te... que ainda não terminou!
Façamos silêncio ainda que não baste, portanto... cala-te!
Deixa a vida dormir, a palavra descansar, não perturbemos a alma, não afastemos a paz, cala-te que o desassossego se vai... em breve, em silêncio!
Portanto poeta, cala-te perante a vida, e perante os vivos, que calar-se diante de mortos que já não escutam é o que todos fazem, mas tu, cala-te, cala-te, cala-te!
Shiu!
...
...
...


Phelipe Ribeiro Veiga
03 de Agosto de 2011 - 03:24

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

De Laura para Phelipe (Sobre erros, acertos e Alice)

Foto: Laura Barreto


Em comemoração a um dia especial lanço aqui pela primeira vez um texto que não é meu. Surgiu numa conversa no chat do Facebook, de forma bem inusitada com uma amiga que mora longe, mas que é muito especial, e como tudo que é muito saboroso, surge as vezes, em pequenas porções. Mas o engraçado é que a conversa começa e termina como posta abaixo, e ela nem faz ideia de como foi contextual.
Sobre o dia, não comemoro esse dia pela alegria que causou, mas de modo que a tristeza que eu trouxe pra mim há um mês atrás jamais seja esquecida e mais do que tudo, reprisada. E celebrar um aprendizado sem preço, A VIDA SEMPRE SABE MAIS. Um mês sem insensatez.
Phelipe Veiga.

"Sabe de uma coisa?
Quando a gente perde uma batalha e fica perdido, sem rumo, na verdade a gente vai se achando. Porque quando você investe por um lado e apanha aquele lado fecha e restam menos opções, então o caminho aparece! Apanhar não é de todo ruim, é só ir pro lado errado pra encontrar o certo, é meio Alice. Mas você tem que ir lá, beber um treco pra crescer, e comer o treco de encolher pra poder passar na porta certa.
Deu vontade de te falar isso sei lá porque.
Continue seu caminho! Agora você já pode reajustar a bússola, a vida já te disse onde não é!
A vida nos dá a oportunidade de ver face a face nossos piores pesadelos pra gente ver que é forte e voluntariamente nos despedirmos deles.
Beijo, meu anjo, dorme com Deus e sonhe com as estrelas que elas te guiam!"

Laura Barreto
02 de Agosto de 2011 - 00:52

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...