quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sobre um não haver.

Desalinhos! Feito uma gravata torta endireitou-me, a alma...
Feito um ofício muito custoso pego-me exaurido de exposições, explanações de mim. Fazer-me concebível dá-me muito trabalho e suas recompensas são a cada dia menos, menos surpreendentes, na verdade, decepcionantrs. Inicio essa parte do meu caminho sob esse sol me encolhendo em mim mesmo.
Pois meu corpo já se desgastou demais tentando expor essa alma minha infinita pro lado de dentro... E foram tantas as tentativas, e tantos os fracassos... Tantos...
Não há!
Meu corpo hoje é um bicho a satisfazer-se ao custo de minha pobre alma, amarrada, penhorada, nada. Meu coração nessas horas é uma palavra presa na garganta, um elogio não prestado, um segredo guardado, pra muitos (e às vezes pra mim) um desvalor.
Meu corpo segue amordaçando a minha alma, calando meu peito numa saciedade cara, e cada vez mais e mais vazia. Não há!
O meu cansaço transbordou,a resignação do meu peito me exauriu, a disposição do meu corpo jovem levou o que sobrou e a alma já é peso o suficiente... Sigo assim, por um tempo, ignorando às bússolas, vou pro sul... Sim, eu vou. Porque não há!

Phelipe Ribeiro Veiga
23 de maio de 2012—20:34


sábado, 19 de maio de 2012

Sobre meus 25 anos (Um texto de aniversário).



Vou-me para uma segunda metade de um quarto de um todo indivisível e invisível. E nesse compasso dissonante quanto mais aprendo, menos sei e contrariamente mais certezas tenho sobre a Vida. Sim, Vida com V maiúsculo, Divina, Boa, Sábia e Graciosa Vida. A Vida, a divindade invisível, pouco adorada, apesar de muito adornada. Aprendi isso até agora, e mais uma meia dúzia de coisas.
Vou-me feito um sol que começa a alcançar o meio dia. A perspectiva do mundo ainda é de sombras, e de certezas fugazes, mas apesar disso muito saborosas. E as pessoas? Fato é que trocamos os aviões de plástico, que erguíamos fazendo sons com a boca, imaginando vôos, e hoje fazemos o mesmo com nossos trabalhos, amores, futuros. É tudo luz e som, e um pouco de sabor e textura. As alturas ainda não me assustam, mas as multidões já me afastam um tanto, as indecisões já me geravam distanciamentos, hoje muito mais. Pois apesar de jovem sei bem do quão curta a Vida é.
Há ainda muita esperança, pois apesar de curta, a Vida é profunda, e nela cabe muita coisa. Passados podem ser resignificados, futuros podem ser replanejados, e os presentes hão de ser muito saboreados, temperados de lucidez e insanidades, como de costume.
Há muito amor, muita paixão, muita lágrima e solidão. Paciência e tolerância. Os sonhos são reeditados, e vou pouco a pouco sabendo mais e mais o que eu definitivamente não quero pra mim (o que é um avanço na direção do que quero). As horas a frente variam entre atrasos e adiantamentos de tudo. Há rimas e desacertos, e sei que ainda vou revisitar muitas vezes o que tenho entendido ser uma das coisas mais tristes da nossa existência, que é o descompasso de nossas individuais percepções de tudo (se ao menos existisse um micróbio que pensasse uma vírgula como eu, haveria menos solidão). Há muito o que revisitar. Farei muito turismo sobre ruas velhas, remodeladas, revistas. E também hei de ser estrangeiro em muito futuro impensado. Hoje é um dia de gratidão. E é isso que lanço para tudo que me rodeia nesse momento. Pois apesar de não ser exatamente quem eu gostaria de ser, sou muito mais do que jamais imaginei que pudesse me tornar. A Vida ainda me surpreende, e enquanto isso acontecer, sempre valerá "a pena".


Phelipe Ribeiro Veiga
19 de Maio de 2012 - 20:15


"Estou comprometido com a vida até o último dos meus dias, e me esforço para mudar as coisas, e, para isso, não tenho outro remédio que não seja fazer o que faço e dizer o que sou." Saramago





segunda-feira, 14 de maio de 2012

Sobre flores artificiais.




Tudo em mim é visceral! 
O fato puro e simples é que minhas ondas não são artificiais, elas tem temperamento e temperatura.  Meu sangue não corre, aposta corrida, meu coração não bate, faz batucada, meus poros não suam, eles choram de comoção, eu não tenho febre, faço verão. A verdade é que até minhas mentiras são todas, cada uma à sua maneira... de verdade. Nada em mim é estático ou imutável. Cultivo em mim sempre a viabilidade de muitas instabilidades, que é pra me garantir vitalidade. Meus jardins são todos de verdade. Tudo neles nasce, cresce, floresce e perece... pra nascer de novo num novo arranjo com novas cores e odores. Para isso carrego em mim uma porção de Morte pra tudo que sinto e vivo. E é de tanta vida que um dia hei de afogar meu jardim. As pequenas pitadas de Morte que carrego hão de ser feito o sal que se acumula em alta pressão, e te encaminham pro "em vão" de todas as coisas que são. 
Todavia terei me valido de jamais ter tido em mim uma só flor que não fosse de verdade, não tendo concebido nenhuma dessas flores artificiais desses dias ruins que temos vivido, as quais não morrem nem desabrocham, são imutáreis, todavia não tem odor, só fazem ocupar espaço, empoeirar-se e desbotar-se. Terei tido um lindo jardim...


Phelipe Ribeiro Veiga
14 de Maio de 2012 - 20:58

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sobre uma mulher devassa.



Quando te revi, não me surpreendi. Eras a mesma mulher recatada, moralista. Mas por detrás de teus olhos eu via tuas indecências. É que teu corpo é recato, mas tuas opiniões e escolhas vivem em orgias perversas com as possibilidades. Não te defines por nada, não te comprometes com nada. Tu eras a mesma. Devassa!

Senti certo estupor, porém, certa saudade também. E nós bebíamos. 

Por que saudade? Ora, porque eu te tive. A meu modo, solitário (pois jamais te ausentas de tua própria companhia, deixando teus amantes sempre sós), vazio em muitos aspectos. Compreendia verdadeiramente que o que amavas em mim era o seu reflexo nos meus olhos, o qual assumia um tom esverdeado e mais puro do que a correspondente real da imagem que vias. 

Eu tentei! Juro que tentei em desatino relevar, esquecer, esconder de mim mesmo a tua traição, aquela mesma que ocorreu a vista de todos, sob a sombra da minha ignorante confiança em ti, todavia não é possível. Veja, o caminho para o perdão é um labirinto, e eu me perdi. Teu nome é sinonímia de traição. Tu não fostes infiel, decapitastes a fidelidade com a lâmina da deslealdade. O corte dessa é fatal.

Agora fica esse silêncio, tu, cheia de devassidão na mente, com os olhos brilhando apaixonada por si mesma refletida esverdeada nos meus olhos, num corpo hermético e cheio de pudor. E eu ali, assistindo o meu desperdiçar de tempo, perguntando-me porque ainda não fui embora. 

Se tu fostes metade da mulher que enganas-me sendo, farias de tua barriga labirinto pros meus beijos, e do teus seios o predileto passeio das minhas mãos. Faria da tua boca meu sabor de todos os dias, do seu abraço meu esconderijo secreto, e de teu corpo a residência de todo o prazer da Vida. Mas como se tu não me vês, nem me sentes, nem sequer sabes meu nome? Tu és mesmo uma devassa em uma eterna egolatria abusando do meu olhar.

Convencido disso tudo em pensamento, em silêncio levantei-me da mesa e saí. A conta? Pela primeira vez você que pague! A explicação? Você que procure! Porque eu já me perdi por demais...

Phelipe Ribeiro Veiga
09 de Maio de 2012 - 21:20

"Acontece que o meu coração ficou frio..." - Cartola

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...