sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sobre Casa.

 http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/394956/gd/1175245490/Colecionador-de-Atividades-Introito.jpg


Emirjo da minha sentimentalidade irrevogável, e pinga, salpicada, escorre fria a mágoa que carrego não de pessoas, mas da própria Vida, que me fez impossível. Há em todos um toque único, e um único tipo de toque em todo mundo, e nenhum deles é a Casa a qual sonhei por toda a minha longa juventude repousar. Admito, iludi-me, dia após dia iludi-me de que qualquer sombra no horizonte escondia em si uma abóbada de um lugar qualquer, e os dias foram passando, e minha esperança impassível via em folhas de favela possíveis telhados que me protegessem, via na sombra das árvores algum favor de preservação, quando elas só faziam sombra por não poderem arredar de cá para lá (porque se pudessem, talvez me negassem vez ou outra). Não sou um injustiçado, a Vida é uniforme em sua tratativa com meus iguais e com os meus diferentes. O que me magoa é a essencialidade do que sinto. Aglutinada a mim, essa minha necessidade de Casa extrapola, explode, se rompe, arrebenta, e vai assim se desdobrando em mil tipos de movimentos onde todos a seu modo só fazem doer. A solidão é impreterível, sou em primeira pessoa do singular, conjugado nesse tempo, no infinito. Preciso recolher-me, fecundar meus próprios pensamentos com esses sentimentos dolorosamente ferteis. Quem sabe assim, fetal dentro de mim mesmo não haja paz? Quem sabe em mim, onde encontro deserto e floresta, não haja também meu lar? 

Phelipe Ribeiro Veiga
20 de Dezembro de 2013 - 12:02



"O que eu sou hoje é terem vendido a casa, 
É terem morrido todos, 
É estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio..." Fernando Pessoa 


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

...fragmento...





... e então por vezes eu até acredito nisso. Mas daí eu saio pelo Centro da cidade pela hora do almoço e contemplo toda aquela gente engravatada, todos na beca em suas poses de homens e mulheres de negócios e fico imaginando: Com quem acordaram hoje? De quem sentem saudades vez ou outra? Quem eles perderam? Contra quem eles pecaram? E concluo que é humano ser frágil. Fico imaginando aquela secretaria carrancuda e mal amada, quem faz o coração dela disparar? Aquele chefe assexuado e enfadonho, quem o faz suspirar? Aquela mulher bem casada e dedicada, quem desvia os olhos dela? Aquele piadista da galera, qual o nome que ele pensa sempre antes de dormir e que rouba sua alegria? E então, acaso até a presidente um dia não recebeu flores? Quem de nós nunca acariciou um rosto com o cuidado de quem afaga a chama da uma vela pra não se queimar? Quem de nós nunca cortejou com olhares sufocados uma silhueta qualquer? E concluo coisa nenhuma. A Vida de novo é inconclusiva...


Phelipe Ribeiro Veiga
02 de Dezembro de 2013 - 23:11


"Porque afinal cada começo
é só continuação
e o livro dos eventos
está sempre aberto no meio."
Wislawa Szymborska

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Sobre as intenções da fala...

 
 
 
Em cada ponto de uma reticência há um convite, uma tentativa de incitar a curiosidade, um interesse pelo que poderia vir a complementar o que disse até construir um ponto final, ou um ponto de outro tipo qualquer... Por isso escrevo (e falo) com reticências. Porque minha escrita não é a vã ânsia de dizer, é na verdade o desejo de dizer pra alguém que queira me ouvir. É um amar e ser amado. É um acenar e receber um aceno. É até mesmo um chorar e fazer chorar. A reciprocidade é para meu espírito como a comprovação de uma realidade não solitária. É minha tentativa vã de compor minha realidade interior num sujeito composto, numa pessoa qualquer do plural. Por isso é que quando pareço conclusivo, estou na verdade partindo o significante em pedaços e escondendo algumas partes dele em cada um dos bolsos, pra que se siga um questionamento qualquer. Por isso que quando eu dou um "boa noite" no meio de uma conversa não é que eu queira realmente virar pro canto e dormir, o que quero é que haja uma insistência em concluí-la. Por isso que quando eu interrompo um discurso, o que quero é que haja um retorno ao assunto mais desmedido, as vezes que seja até um pouco ofendido, temperado com mais ímpeto e decisão de se chegar até o final dele. Até quando me calo, é pra denunciar a sombra de todo o silêncio (que faço), o eco cognitivo do que eu disse imediatamente antes. Não existe nó sem ponta... 

Phelipe Ribeiro Veiga
29 de Novembro de 2013 - 16:49



"É chocante em que posições
com que escandalosa simplicidade
um intelecto emprenha o outro!
Tais posições nem o Kamasutra conhece."
(Wislawa Szymborska)


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sobre um dia daqueles...

A vida é uma amante voraz. Parece que ela não se compraz em nosso envelhecimento. Vai ficando mais difícil com a gente, vai perdendo a paciência, se tornando mais onerosa. É feito aquela amante que quanto mais te exige menos te ama, menos te quer. Sinto falta de quanto conseguia olhá-la nos olhos. Presumir, mesmo que errado, o que ela estava pensando. Sinto falta de quando ela buscava em mim mais cumplicidade e menos expurgo e redenção. O papel anda péssimo, o palco anda mal armado e pouco convincente, a Direção se tornou autoritária e exigente, e a contrapartida já não satisfaz. Eu e meu personagem não nos entendemos, ele se tornou alguém que eu não gosto de ser nem nos ensaios. Suas falas já não fazem sentido. Nossa relação está em crise. Onde estão as cortinas?! Não há! 

Phelipe Ribeiro Veiga
04 de outubro de 2013 - 19:46

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sobre quando eu me for.



O que acontecerá quando meus olhos se fecharem? Quando eles não piscarem mais? Todo dia é um perceber e significar. Todo dia eu passeio nos dias, sinto saudades dos ontens, tremo sobre os amanhães, ou simplesmente me sinto ansioso por eles. Todos os dias eu bebe café, como, reclamo da Vida, mas e quando isso tudo acabar? Todos os dias o mundo inteiro comigo giramos em torno de nós mesmos, e o sol vai e volta, e as estrelas aparecem e somem, e ficam invisíveis lá em cima, por horas ofuscadas no azul do dia. Todos os dias tudo é completamente diferente de uma maneira sempre igual. Mas e quando isso tudo pára? E quando eu me for? E quando em nenhum lugar se ouvirem minhas palavras (e vozes)? Quando meus passos já não passearem mais por aí? Quando eu não estiver mais vendo nada, nem pensando em nada? E quando o Silêncio Eterno me engolir (espero) sem me mastigar? O que será do mundo sem mim? Em um tempo haverá rastros como na areia fina, depois partículas subatômicas com as digitais de quem fui e depois não haverá rastro algum de mim sobre a Terra. Terei não sido nunca. Serei tão parte de tudo que não haverá mais sinal de mim. E a gravidade, creio, será a de uma árvore que perdeu uma folha. Ela derramará talvez uma única gota de seiva... quando eu me for. Mas isso tudo é suposição, porque as possibilidades de quando eu me for são sem fins.

31 de Novembro de 2013 - 18:08
Phelipe Ribeiro Veiga

"Escrever. A vingança da mão mortal." - Wislawa Szymborska


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sobre uma separação.


A minha poesia alcançou a meia idade, ficou acima do peso, acumula dobras no corpo e vagareza nos movimentos. Anda mal-humorada, mal amada. A verdade é que ela está feito essas beldades que envelhecem e não se dão bem com a nova cara que o espelho lhe oferece. A minha poesia hoje não usa mais as roupas provocantes de antes, não tem mais a mesma maquilagem exuberante e chamativa. A minha poesia desacreditou-se de sua própria sensualidade, aliás, ela já nem sabe mais o que é isso. Minha poesia está velha, está cansada, acima do peso e sem nenhuma aparente vontade de dar a volta por cima. Nosso convívio não é mais o mesmo. Já nem nos tocamos mais faz muito tempo. Nossa relação se tornou fria, feito esses casais que já não se querem mais, mas tem preguiça de recomeçar. Desse jeito acho que vou deixa-la. Desse jeito acho que vou parar de escrever.

Phelipe R Veiga
14 de outubro de 2013 - 17:28

"(...) e a poesia ou a literatura uma borboleta que, pousando-me na cabeça, me torna tanto mais ridículo quanto maior for a sua própria beleza." Fernando Pessoa

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Tristeza.


O momento triste é persistente, e há em nós algo que o conserva, feito quem tem na boca um chiclete já sem gosto que insiste em mastigar. É como quem sofre de solidão e ao mesmo tempo tem apreço por não perturbar a solidão, pra que aborrecida ela não se retire. Isso porque a solidão tem esse apelo grave, quase sexual da certeza, a certeza de se estar só, porque uma vez ida a solidão, acompanhado, é sempre incerto o quão só se está, seja no momento presente, seja no vir a ser... Coisa complicada é a Vida... 

Phelipe Ribeiro Veiga
07 de outubro de 2013 - 19:26

domingo, 6 de outubro de 2013

Sobre a Vida mais uma vez.



A Vida é tão impiedosa! Posso ouvir sua risada velha, cansada dos nossos dias que passam tão rápido. Ela ri de nós, de nossas tolices, da brevidade de nossa vida e de nossos sentimentos. Ela é feito um rio que atravessamos, que corre despreocupado e indiferente, não importando-se se o cruzam por guerra, por amor, para salvar uma vida... para o rio tanto faz. Para o rio não há diferença entre a pedra, o homem, a folha. Não liga se o homem é vivo ou é morto, sofre ou é feliz. A Vida senta-se a assistir-nos tricotando, com um olhar de quem não se surpreende com nada, não se comove com coisa alguma, de quem já viu de tudo e nada é novidade. Tudo que faz vez ou outra, entre um ponto e outro do crochê é rir das nossas fantasias e esperanças. No fim, cansada, ela suspira, descansa as mãos no colo... e cochila... silenciosamente.

Phelipe R. Veiga
06 de outubro de 2013 - 21:53

"you meant something to me" 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Aço e Carne.




O que pode ser mais duro que o aço? Mais frio, rígido e impiedoso? O que pode a carne contra o aço?!
A carne, tadinha! Tão fraquinha, mais fraquinha que a mais fraquinhas das coisas! 
A carne, irrigada, mole, que rasga, fura, sangra, tritura, parte, quebra e dói. O aço, que dia após dia a corta, e a penetra invasivo roubando-lhe a integridade e a vitalidade, laminado, não sente nada. A carne perece, envelhece, se vai em minutos diante da eternidade de dias que vive o aço. O aço sobrevive eras e mais eras. A carne, tadinha, não suporta quase nada! Não aguenta o frio glacial, o calor vulcânico, a pressão abissal ou espacial. Tudo lhe fere, tudo lhe faz mal! O aço, mesmo reduzido a partículas, unir-se-ia sem dó, sem dor. O aço parte a carne, o osso, a ideia, o sentimento e o pensamento, todos os dias. O aço tritura existências inteiras! O aço destrói sem melindres, sem lágrimas nos olhos. Aliás, sem olhos sequer. O aço prospera! O aço vence! 

Pobre carne!

Phelipe Ribeiro Veiga
19 de setembro de 2013 - 12:27

"Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro." Sigmund Freud


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Homo-Sapiens Periculosus




Descrição - Homo-Sapiens Periculosus;
Bicho perigoso é Gente! Desde um sorriso até a roupa que usam (ou deixam de usar) esconde o que são! Camuflagens, mimetismos, metamorfoses! Bicho arisco! Tudo lhe é possível! Bicho gente voa, canta, anda, rasteja, morde, envenena, fura, faz barulhos, faz silêncios, faz carinho, dá prazer, faz doer. Vive sozinho ou em bando, e o que vive em bando pode amanhã querer viver sozinho, e aí o bando deixa de ser. Bicho imprevisível! Pode comer a própria cria no café da manhã! Pode matar o parceiro depois do acasalamento! Pode matar a si mesmo! Bicho selvagem! Migra à revelia das estações, ignora os avisos da natureza, só faz bem o que quer! Bicho egoísta! Diante do felino nos preservamos das garras e dos dentes, diante do réptil subimos em lugares altos, diante da ave de rapina, escondemo-nos embaixo da terra, mas aonde poderemos nos esconder dessa peçonha?

E ainda piora! Esse bicho procria em larga escala, adapta-se a todos os ecossistemas, está por toda parte! Por isso que eu tremo de medo desse bicho, dessa peste que são as gentes desse mundo. Esses bichos tem prazer em arranhar a tela carinhosamente pintada dos dias, não se importam, ou então só se importam e nos atropelam com o que lhes é tão importante (que não a gente que a gente é). A Vida segue perigosa e doída porque esse bicho a tem feito ser assim. 

Pesa-me a imagem do mundo vasto, silencioso e pleno sem esse Bicho...  solucionado!
Enquanto isso... ai de mim, que medo desse bicho gente!

Phelipe Ribeiro Veiga
16 de setembro de 2013 - 18:23

"São demais os perigos dessa vida. Para quem tem paixão, principalmente" VM

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Verdade.

 
 
O abandono assiste aos vivos à espreita. Esconde-se dentro das gavetas, pende nas teias de aranha nos cantos das paredes, faz rabiscos, bilhetes antigos, fotos secretas, correspondências com remetente nada e destinatário ninguém. Os sonhos jazem adormecidos em um sono leve e assombrado, e debaixo da cama todos os medos do mundo. Há ranger de portas, há rugir de feras, e quando olhamos não há nada. Uivos se ouvem ao longe. Ninguém sabe de nada. As opiniões são cigarros acesos queimando ao relento, breve serão cinza, breve não serão mais. As horas são revisitadas todos os dias, mas não são nunca as mesmas, porque tudo está perdido, tudo passou e virou outra coisa que virou outra coisa que vai virar uma outra. Não há controle. Achamos um pé dos sapatos, o outro jamais encontraremos. Também está perdido. Achou-se a verdade: é tudo coisa nenhuma.
 
O abandono assiste ao vivo e à espreita...
 
Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Setembro de 2013 - 13:44
 
"Resta (...) essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens"  - Vinicius de Moraes

domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre o Escritor.




Todo escritor carrega um senso exacerbado de valor de si próprio. Afinal porque mais haveria motivos para guardar seus sentimentos e ideais em detrimento a todas as outras ideais e sentimentos? O papel é o espelho de vaidades do coração e da alma de quem escreve. Ali ele se lê, se vê, se adula, se alisa. O escritor vaza pras páginas porque não cabe em si. Se julga grande demais para se guardar só para si mesmo. O escritor quer ser lido, ele não quer passar. O escritor quer enganar o tempo e a morte. O escritor é um completo maluco.


Phelipe Ribeiro Veiga
18 de agosto de 2013 - 22:57

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Sobre o desejo.



O desejo partiu dos meus pés, subcutâneo, se embrenhou pelas minhas veias, subiu pelas minhas pernas, enrijeceu e tensionou meus músculos, ele não achou saída. O desejo embolou na garganta e forjou palavras rudes. Plantou espinhos nas minhas rosas e também nas minhas margaridas e até no que nem dava flores. Ele espinhou meu jardim inteiro, se estendeu, fez florestas de espinhos rígidos, duros, impiedosos, e de quebra me trouxe espinhas no rosto e nas costas. O desejo deixou seco os meus cabelos e torceu meus lábios. O desejo não achou saída. Disparou meu coração, comprimiu meu peito, acelerou meus pensamentos e fez de meus olhos bichos em fuga. O desejo arranhou meus sentimentos e os sentimentos dos outros. O desejo forçou portas e janelas, mas não achou saída. O desejo fez barulhos quando já era tarde da noite e acordou alguns dos meus pensamentos mais adormecidos. O desejo era uma mulher de meia idade ainda virgem e de mãos dormentes, era um adolescente em plenas erupções hormonais. O desejo era atropelamento, furo de sinais, expurgo, expansão, ereção, exaltação, exasperação, suspiro, imaginação, procura, afobação. O desejo era um precipício me convidando pra saltar, e por vezes ameaçando me empurrar. O desejo sangrou essas páginas e ninguém sabe até onde isso irá... O desejo não cessa, não cessará jamais. 

Phelipe Ribeiro Veiga
13 de Agosto de 2013 - 20:51

"O que será que será que está dentro da gente e que não devia, que desacata a gente, que é revelia?" - Chico Buarque.

sábado, 3 de agosto de 2013

Sobre (Sem Título).

Caminho investigativo, olhando as coisas nos olhos, atento ao formato das sombras, questionando a verdade, a impressão das coisas. Caminho lento, sentindo o vento, sentindo o gosto da saliva, sentindo os relevos do caminho que faço. Caminho atento a tudo, por dentro, por fora, pelo encontro do dentro com o fora, inutilmente atento. As coisas, essencialmente são nada.

Phelipe R Veiga

02 de agosto de 2013

"Eu sou, eu fui, eu vou"- Raul Seixas

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sobre os bastidores do ser.



De onde diabos veio a ideia de ser quem sou? Por que caminhos passei até aqui? E desses caminhos, o quanto de paisagem aproveitei? Precipitei-me sobre o presente que sou ignorando tantas possibilidades, meu deus, quantas possibilidades... quantas?! A Vida se interpôs no meu caminho, balizando minhas possibilidades e eu, aturdido, acatei seus caprichos, e agora cá estou sendo esse, essa versão de mim. É duro ser um só, ter um só caminho, quando há tanta encruzilhada pela estrada. É injusto até. Não sei de onde veio tamanho presságio ou maldição, só sei que sou hoje o que sou. Limitado a dois braços esticados sob um céu e um sol, dentro do minuto presente, ilhado no pensamento presente, na sensação presente, e amarrado ao passado trilhado, em suposições de passados que já nem sei se me lembro bem assim... 

Não sei bem de onde veio essa ideia de ser como ou o quê ou quem sou. Eu gozo e sofro de ser... 

mas aí...

quando me pego distraído com essas estupidezes diárias, como as contas do mês, por detrás dos panos do meu pensamento, onde a plateia que sou não pode ver, que espetáculo! Eu vivo trilhões de trilhões de Vidas, eu faço todas as escolhas, sofro todas as consequências, gozo de todos os prazeres. Por detrás dos panos eu vivo em imaginação o inimaginável. Escapo de mim, enquanto eu, distraído, como um cavalo trajando ante-olhos, só conseguindo ver o que tenho diante dos lhos, nem me dou por falta de mim mesmo. 

E assim vou levando, dia após dia, sabe lá deus levando o quê para trás das cortinas, sabe lá deus trazendo o quê comigo de lá. Se satisfação pelo vivido, se mágoa pelo suposto imaginada e jamais experimentado. Assim sou. Vou pondo os dias um sobre os outros como quem empilha tijolos. O que estou construindo? 

Phelipe Ribeiro Veiga
16 de Julho de 2013 - 22:23





"O que sou hoje? É terem vendido a casa." - Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sobre uma observadora na cidade.





Ela, sentada no meio fio assistindo a cidade, espetacular. 
Um homem sorria para o celular, engrav-atado. Uma mulher ria e falava alto no celular de algo que acontecera na noite anterior. Um outro homem fuxicava a lixeira. O jornaleiro posicionava suas revistas. A cidade acordava e as pessoas escorriam das camas e desaguavam nos escritórios e estabelecimentos comerciais onde ficariam empossadas até o sol se ausentar e tudo ser mais do que tarde. Ela assistia as pessoas todas fazendo aquele desgaste das horas diariamente, tragava o cigarro enquanto as pessoas tragavam os dias na mesma velocidade, sem ver quanta fumaça sufocante gerava aquele fumo dos meses e anos, inutilmente desgastados, que era mais mortal que qualquer câncer. Lembrava-se que uma mulher uma vez lhe pagando um almoço lhe fez um sermão sobre futuro, aquela moça fazia uma felação do dia de amanhã. Achava que sabia o mapa do tesouro, os caminhos das tranquilidades todas. Ela tragava o cigarro e lembrava da moça e do sermão, e de como aquela benfeitora tocava nas partes íntimas do futuro achando que assim poderia excitá-lo a atender seus desejos voluptiosos de realização, segurança e riquezas. O que essas pessoas não entendiam é que para ela, há muito tempo, o momento era a Vida inteira, e o minuto seguinte ao momento presente era escravidão. Ela tragava mais um cigarro e assistia os ciclos do centro da cidade, ele enchia, as pessoas eram absorvidas pelos prédios, e vomitadas para as ruas por volta do meio-dia, e depois absorvidas novamente, e cuspidas ao fim do dia meio embagaçadas para escorrerem até suas camas, movimentando a Grande Roda, porque alguém os convenceu de que só assim a Terra continuaria a girar. 
Começava a anoitecer, e depois de assistir num expediente vital todas essas coisas e muitas outras, entre alguns muitos cigarros, ela levantava e seguia em direção ao aterro para ver o mar... "espetácu-luar".

Phelipe Ribeiro Veiga
13 de julho de 2013 - 01:26

domingo, 9 de junho de 2013

Sobre desassossegos solitários.

Deixo decantar o momento, mesmo o mais abrupto, para alcançar alguma clareza no que sinto e no que "pré-sinto".  Há uma acuidade profunda com o momento presente, e uma amargura pela mera, distante ou eminente, possibilidade de gerar perturbações. Os dias vibram diante do dedilhar dos nossos sentimentos, que por vezes são carinhosos feito uma bossa, por vezes violentos feito um rock metalizado. Gosto de harmonias e pesa-me o desafinar dos meus pressentimentos e dos meus ressentimentos. Lamento, a música não é o meu talento, quando muito, é um mero alento. É que não sei cavalgar a violência do meu peito e não desbravei por completo os caminhos mais abissais que carrego em mim, pelo que muito me desculpo... 

Não há.

Phelipe Ribeiro Veiga

terça-feira, 28 de maio de 2013

Sobre migalhas de pão.



E eu vou me esticando e me esticando, e vão se despedaçando as horas e dias e semanas e anos, rubores, palavras, sons, grandes sucessos, saudades, perdas, e eu vou me esticando e me esticando, e vão se despedaçando os amores, os odores, os laços todos, os amigos, os sorrisos, os esforços, os salários, e eu vou me esticando e me esticando e vão se despedaçando os planos, os sonhos, as expectativas, os luares, os olhares, e até os mares e eu vou me esticando e me esticando, e vão se despedaçando os pores de sol, e as estrelas cadente, e os morros e montanhas reluzentes das manhãs de outrora, e os horários dos ônibus todos, e os sinais e semáforos, e as provas da escola, e o pique se esconde, e eu vou me esticando e me esticando e vão se despedaçando meus rabiscos e minha caligrafia, minhas assinaturas e minhas dedicatórias e os desenhos que fiz quando criança e as minhas fotografias, e as digitais que deixei por aí, e as pedrinhas que chutei por todos os caminhos, e eu vou me esticando e me esticando e vão se despedaçando meus nomes, apelidos, impressões e expressões, minha voz, minhas cicatrizes, meus calores, minhas roupas, meus brinquedos, minhas verdades e minhas mentiras e as bandeirinhas de quando menino, e as mágoas todas, e também as alegrias... e eu vou me esticando e me esticando... até que eu me despedace também... as lembranças serão só migalhas de pão que terei deixado no caminho do passado para saber retornar ao lugar onde eu não conhecia ninguém, e de ninguém era conhecido. Um dia não terei sido. E tudo será novo. Enquanto isso eu vou me esticando e me esticando... e vão se despedaçando todas as coisas...

Phelipe Ribeiro Veiga
28 de Maio de 2013 - 23:56

"A Vida é um adeus demorado." (Fernando Pessoa)

domingo, 26 de maio de 2013

Sobre uma vontade.



Vontade de me deparar com sua nudez, abruptamente, para te vestir dos beijos meus. Vontade de ver-te em um sono pesado de sonhos distantes, para contemplar seus pequenos movimentos de lábios, sorrisos discretos, suspiros, o seu aconchegar-se aninhando-se junto ao meu corpo, os movimentos de olhos, curiosos ainda que fechados. Vontade de ouvir sua voz preguiçosa perguntando as horas, sabotando meus despertadores... e eu me deixando ir pra te acompanhar nesse navegar à deriva tão gostoso que é a nossa cama, onde não há pressa de chegar, mas um denso prazer em se estar. Vontade do silêncio pausado dos beijos, que são as virgulas das nossas conversas de olhares. Vontade do frio que serve de pretexto pro calor. Vontade de nós embolados em nós infindáveis sem pontas à vista. Perdemo-nos um no outro. Vontade...

Phelipe Ribeiro Veiga
26 de Maio de 2013 - 11:52


"E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude." (Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sobre um momento de angústia.



Chega sexta-feira, sábado, domingo, passam feriados e o meu expediente não se encerra. O ofício de ser quem sou não me dá descanso, e pra completar meu desempenho é completamente duvidoso. Estou em ebulição. ESTOU EM EBULIÇÃO! Não cabe mais. Transborda,  sai pelas unhas, pelos poros, pelos olhos, pela boca, até nas palavras minha. Conto os segundos nos movimentos repetitivos das pernas, nos batuques dos dedos na mesa, a taquicardia da Vida espanca meus dias. Eu tenho medo e horror e sinto euforia e ansiedade, ansiedade, muita ansiedade... 

Me pré-ocupo de todos os dias, e só quero que o hoje passe, mas o amanhã nunca chega, é sempre o mesmo hoje de todos os dias... aonde vou parar? O que ou quem há de me parar? Onde mora a alforria de o quê, onde, como e quando estou? Para onde foi a minha paz? Há dias prezava pelo momento presente, agora só queria dormir. Descansar de mim e da minha própria companhia. Dormir.

Phelipe Ribeiro Veiga
23 de Maio de 2013 - 18:46

"Longe se vai sonhando demais, mas onde se chega assim?" - Milton Nascimento


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Sobre meus 26 anos.

9490 dias, 11 horas e 37 minutos... e contando

...pores de sol (dando eu atenção a eles ou não), 
                                                                            estrelas cadentes (com ou sem desejos), 
              banhos de mar (acho que quando eu morrer, minhas partículas hão de correr para lá), 
abraços (a melhor expressão de carinho que existe), 
                                                                       choros (de dor... e de alegria), 
                           risadas (de felicidade... e de sarcasmos), 
 corridas atrás de ônibus (sempre em dia com o atraso), 
                                                             espirros (o que não me matou me fez mais forte), 
                                         paixões (e o que me desesperou, me deu esperanças para o melhor), 
letras e mais letras e páginas e mais páginas (nas quais ainda tento me encontrar), 
                                   amigos (a cura pro que sou é sempre a doença que o outro é pra mim), 
família (porque amar é preciso, compreender é necessário e tolerar é essencial), 
trabalho (ainda tento me achar e perder essa razão cruel pra levantar cedo todos os dias), 
                                                                 destinos (eu os desloco pra onde me apraz)... 
                                               e ainda há tanto... 
                        O que me resta é agradecer e engrandecer a Vida. 
                                                       Gosto de onde estou e de quem sou, com tudo de bom e ruim. 
                                                                                                               



Me apraz mais o aqui e o agora do que qualquer outro lugar do tempo ou outro coração e mente... Sou o que sou. 

Há!

Phelipe Ribeiro Veiga
20 de Maio de 2013 - 22:02


domingo, 19 de maio de 2013

Sobre o diário de suas ausências.



Enquanto os ponteiros vão arranhando as horas eu vou colecionando suas ausências. Vou engolindo os versos que nascem do desespero da saudade, as músicas que só fazem sentido sob a sombra de quem não está. A imaginação que não é mais minha, é sua, haja vista que fica perseguindo seus passos, seus risos, seus exasperos, imaginando e imaginando você, fazendo pouco da realidade que é de fato pouca sem a sua companhia.
A saudade arranha. A saudade, aranha, tece teias sobre todos os batentes, deixa rastros invisíveis pros olhos, latentes a todos os outros sentidos. A saudade é líquida. Vai achando brechas em todos os significados e significantes, vai completando minhas frases, sugerindo palavras, cores, momentos. A saudade vai erodindo silenciosa e desesperada. 
Contempla meu amor, as luzes dessa cidade. A saudade é mais ofuscante, é maior. A saudade é atroz. Só não é mais forte que a sua presença quando você está. 

Um beijo de quem conta os segundos pra você voltar.

Phelipe Ribeiro Veiga
19 de Maio de 2013 - 20:08

“Darling, Se você soubesse como a minha vida ficou monótona; Tão sem gosto de nada. Às vezes tenho impressão que não vou poder mais agüentar nem mais 5 minutos sem te ver.
E ainda faltam tantos 5 minutos, meu bem.
Eu te adoro, te entendo, te venero. Tu és a minha vida, meu tudo. É diferente. Eu sou teu escravo, teu criado e tua cria. E tu és a minha namorada ilícita, esposa amantíssima e cidadã ímpar na terra”

Vinícius de Moraes

domingo, 21 de abril de 2013

Sobre o aniversário de uma cidade.




Uma lágrima caiu no cerrado. Nasceu uma cidade. 

Demos-lhe asas. Foi um ato e tanto, feito um Prometeu desesperado roubando o fogo dos deuses, nós roubávamos do ermo uma capital. O planalto recebia a Alvorada de esperanças antigas por um futuro melhor. 
Cada tijolo erguido por mãos de todos os sotaques. Acompanhamos, nação, os primeiros passos da Esperança ao som de bossa subindo rampas, fazendo curvas sem sinais vermelhos. Jazia ela feito um monólito no planalto central, um monumento.
A esperança mal balbuciava, quando de assalto fora tomada de nós, cortaram sua língua, ataram-lhe pés e mãos. Por tanto tempo sofreu os açoites de generais, arrancaram seus olhos, e fora dito a ela que confiasse neles. Juravam ser aquilo para sua proteção. Conservaram-lhe os ouvidos para preservação da dó, da dor e do horror. 
Depois houve uma troca de turno, mudaram os algozes de nossa Esperança. Mutilada, sobre suas asas pesam tantos ministérios e tão poucos mistérios, vôos não são possíveis. É que todo mundo sabe, sabe mesmo, nada é segredo. A Esperança acorrentada é moralizada pelos imorais. São os mesmos os que rasgam suas roupas e os que acusam sua nudez. Estupraram-na e negam seus filhos, para que não se prolifere a aberração da Esperança. Pobre Esperança, cuspida, cega, violada, emudecida, aleijada e acorrentada, seus fiéis viraram clérigos, crer nela virou uma fé para a qual se (p)reservam só os ignorantes e otimistas. 
Nós construímos a cidade acreditando que derramávamos suor e jorrávamos esforços no ermo lançando os fundamentos da mudança. Coisa perigosa é a mudança. Perigosa e fantástica. A Esperança, dizem, é a última que morre, mas quem saberá o quanto sofre?! 
Deveria haver menos dissabor a jovens como eu?! 
Talvez devêssemos começar tudo de novo. Dá-nos ó mãe gentil um novo cerrado, um novo Anchieta e uma nova cruz de madeira, e uma nova terra Brasil. A que existe, resiste, mas já não há salvação.  
Eis que o filho teu já foge à luta, e já não ergues da justiça a clava forte. Que será de nós?


Phelipe Ribeiro Veiga
21 de abril de 2013 - 15:59



"No princípio era o ermo 
Eram antigas solidões sem mágoa. 
O altiplano, o infinito descampado 
No princípio era o agreste: 
O céu azul, a terra vermelho-pungente 
E o verde triste do cerrado. " Vincícius de Moraes

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sobre um vale.



Sub-traio-me. Vou me mutilando passo após passo por esse vale de sombra onde cada poste de luz é um adversário, onde embaixo de um gramado escondem-se perigos sem fim. Jorra de meus olhos o sumo escuro de meus pensamentos. Sub-traio-me. Escalo a Vida numa escalada sem fim, onde a cada cume construo uma nova montanha eu mesmo, de modo que ergo-me diante de mim mesmo como um monólito em homenagem à toda possibilidade de fracasso que eu institui em modo de armadilha. Afogo-me pelos olhos, sinto o peso imenso de mim mesmo rompendo minha pele, rasgando meus músculos, partindo meus tendões e me sobrepujando em dor e lástima e sangue. Não importa de onde venha a lâmina, o corte vem de dentro. Sub-traio-me. Não me alcanço, não me acho, não me toco, me corroo. O que sobra sob as mãos de tão brutal algoz? Vou me arrastando vale acima, diante de jóias feitas em imaginação, mediante a riqueza que se ergue abrupta como obstáculo a minha própria realização, e daí realizo, sub-traio-me. E de subtração em subtração torno-me um ordinário impossível. Um número acompanhado de um sinal. Não sou, sou menos eu. Sub-traio-me. Encontro diante de meus olhos todas as possibilidades do mundo, e atrás delas sorri a escandalosa possibilidade de fracasso. Todos nesse vale opressivo podem ter tudo, e a mim só falta o que há de mais fácil. Mas o que há de falta que seja pouca? Se o que falta sempre falta demais, muito, rouba paz? Queria derrubar o vale inteiro sobre meus ombros, substituir todo esse peso de ser quem sou  por algo mais leve. Sub-traio-me. Até quando? Não há.

Phelipe Ribeiro Veiga.
17 de Abril de 2013 - 19:00

"Vivo nas águas turvas da minha imaginação." - Vinícius de Moraes

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sobre um desmoronamento.

É que começou a desmoronar pela mínima unha, e foi lascando, rachando, partindo, esfoliando, e foi-se um dedo inteiro que partiu-se sobre os dedos vizinhos desmoronando, e enfraqueceu a ponta dos pés, e subiu a perna, destroçou a panturrilha, e tudo foi se precipitando sobre tudo, e o peso foi cuidando de cada fragmento que se debruçava sobre cada fragmento, e já não se sabia se o intento de tudo era se segurar ou se precipitar. E foi-se coxa, verilha, sexo, abdômen, vísceras ocas, peito, braços, mãos, unhas, pescoço, garganta, a voz, o vazio da língua e seus sabores simulados, os olhos esculpidos abertos e um último fio de cabelo, de modo que nem sua sombra se manteve de pé, e nem a lembrança dos que um dia o contemplaram imponente sobreviveu a tão impressionante desmoronamento.

Os destroços jaziam no chão, esmiuçados, moídos.

De certo modo, aprumados, os restos do que tinha sido cada fragmento amontoados numa antiga forma era agora um novo amontoado.

Sobre aqueles escombros cresceu uma árvore, deu-se um encontro, fez-se uma criança, mudou-se o mundo.

Porque tudo que acaba encontra um jeito novo de ser de novo.

Phelipe R. Veiga
11 de abril de 2013-18:20

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sobre ser um poeta brasileiro.



Sou um poeta brasileiro. 
E feito a brasa que minha nação carrega no nome eu também sou não. 

Esse meio termo. Essa promessa não realizada de fogueira, ou esse ter sido, quase. Essa sensação de impotência mediante o incendiar-se. Essa promessa. Esse fra-escasso. Não, eu não sou lenha nem fogueira. Sou brasa. Sou quase o que sou. 

Sou como minha terra. Uma quase alegria, completa. Um carnaval que evita a quarta-feira. Um feriado prolongado. Uma praia lotada depois de um funeral. Uma comemoração forçosa pela alegria como única opção diante de tanta tristeza. 

A brasa que não incendeia, mas queima ao soprar do vento, e ameaça e ameaça mas não incendeia, não incendeia nunca. Assim sou eu, e minhas ameaças de alçar vôos, e minhas odisséias, e meus heroísmos. Vou sendo um quase brilhante alguma coisa. 

Feito minha terra, que tem os risonhos e lindos campos com mais flores, que jazem muradas, que não podem ser colhidas por qualquer um, e meus braços não alcançam. Meu Deus, meus braços não alcançam! Feitos os bosques com mais amores, que tão poucos são correspondidos. Feito a mãe gentil que renega os filhos e põe uns a carregarem o jugo da felicidade dos outros. A mãe gentil que tem suas predileções, que faz pesar a clava forte, e não, o filho teu não foge à luta. 

Sou parte disso. Sou um poeta brasileiro. Feito a minha terra, sou brasa, vermelho opaco, árvore espinhosa a sangrar, vermelho, brasil. Sou um poeta brasileiro, e só me resta rir e mar...

Phelipe Ribeiro Veiga
04 de Abril de 2013 - 22:14

"Eles venceram e o sinal está fechado pra nós..." - Belchior

quarta-feira, 20 de março de 2013

Sobre o ódio.




O ódio de todos é meu também. Fecunda de tragédia a minha paisagem.

É quando a alma que encontra o seu lugar no amar a outro ser, que amando faz a cama, faz seu lar, alma que foi feita para amar se descumpre, se encurta, não faz nada, e é aí que ela odeia tudo o que vê. Ela odeia a futilidade que é ser assim espelhada nos olhos de outras almas que ela não pode amar. A alma que só encontra motivo pra desencontro, é porque desencontrou-se de seu eixo, de seu lugar de orbitar. Distanciou-se do centro de si, esfriou-se. A Vida nela perece. A alma que odeia está só até de si, pois não sendo o que é, não se é coisa nenhuma. É feito o botão de rosa que jamais se abriu, a rosa que jamais foi rosa.

O ódio é o ócio da alma.

Phelipe Ribeiro Veiga 
20 de Março de 2013 - 18:37






terça-feira, 12 de março de 2013

Sobre verdades, meu amor!



Parece mentira! 
Como pode tanta verdade?!
Meu amor, é porque é mesmo verdade o que te disse atravessando aquela rua. De fato todas as saudades que tive antes de ti era de você que eu tinha saudade.

Porque o meu amor achou seu habitat natural no seu olhar, e no seu abraço e no seu "eu também!". Meu amor, é verdade o que te disse naquele dia que contigo tudo mudou, e que você é meu recomeço sem precisar retroceder. 

Meu amor, é que é verdade que eu acho no seu abraço a dimensão de um mundo, porque quando você me abraça encontro entre seus polegares abertos paisagens sem fim. Fico ali sem enquanto. 

Sabe, é que é mesmo verdade meu amor, que quando me despejo em declarações e palavras em qualquer canto de mundo, é um remexer no meu baú vocabulário atrás de um modo de descrever o que sinto por você. 

Sabe o que é meu amor? É que meus olhos fecundam os seus e quando a gente fecha os olhos a realidade se dilata e dá a luz a um mundo só nosso, nosso lugar secreto dentro do nosso abraço, só nosso.

É, eu sei, é bem clichê e até meio brega, de verdade. Mas é verdade meu amor. É verdade que eu, que mudo feito luas, me encho feito marés, e sou um insatisfeito nato, jamais contei encontrar na Vida tanta felicidade num sorriso só. Porque sempre que te vejo sorrir, eu te amo de novo, novamente, pela primeira vez. 

É... parece mentira... mas é verdade.

Meu amor...

Phelipe Ribeiro Veiga
12 de Março de 2013 - 22:39


E se eu pareço um vagabundo é que o amor maior do
Mundo mora aqui no peito meu
E se eu sofro assim por ela é que aprendi 

Que a vida é ela e que o amor dela sou eu ( Vinícius de Moraes)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Uma Reflexão sobre os "filhos de deus".



Tive por anos uma vivência cristã forte, e após alguns anos, não por decepções, apostatamento ou revolta, tornei-me agnóstico, encontrando neste posicionamento paz e uma felicidade mais produtiva. Todavia tudo que aprendi permanece de imenso valor, e baseio-me nesta vivência pra essa reflexão:

Havia um verso que me alfinetava pela poética na bíblia, que dizia que a criação tinha uma ardente expectativa pela manifestação dos filhos de deus, e que por essa expectativa gemia com dores de parto (Romanos 8; 19). 

Daí eu abro as notícias pelos últimos anos que por aqui estou e me deparo com os proclamados filhos do Divino. - Veja bem, longe de mim destituí-los, não caberia a mim - Mas me pergunto se o que eles chamam Deus os tomaria por filhos - Haja vista que eu jamais tomaria o que eles assim chamam, Deus.

Nós homens ainda estamos na primeira infância de qualquer forma realmente sustentável de civilização. Nos precipitamos sobre nós mesmos em prol de algum espaço, em meio a tantas leis e regras, para exercermos nosso prazer de forma legítima sem pôr a perder a própria civilização. Restringimos aos outros e a nós mesmos, como se a felicidade que eu não alcanço fosse proibida a qualquer um. 

Penso em Jesus, o profeta, o messias, o homem ou seja lá o que for. Ele viveu a fim de cumprir com profecias recitadas durante mais de 2 mil anos antes de ele por aqui pisar. A Palestina encontrava-se sob domínio romano, e muitos esperavam um messias que empunhasse espadas e libertasse o povo judeu (e desses havia muitos - e muitos os seguiram), o que de fato quanto a Jesus não aconteceu. Ele mandou que dessem a César o que era de direito. E hoje se embrenham os que se dizem seguidores de suas palavras em homéricas batalhas, afim de implantar o Reino de (seu) deus na terra a força.

Fico pensando que a bíblia diz que o Reino de Deus é paz, justiça e alegria (Romanos 14:17), e na estratégia que seus seguidores tem usado pra propagar esse reino, e na eficácia dela. A mesma bíblia diz que pelos frutos conheceríamos as árvores (Mateus 7:16), e os frutos desse filhos de deus e de seu deus expressam mais do que intenções, identidades. Afinal, o que querem? 

E a criação ainda geme... e continuará a gemer, porque os filhos de deus ainda estão pra nascer. Até lá boa sorte para nós!

Phelipe Ribeiro Veiga
08 de Março de 2013 - 21:56

"O que aí está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!" - Fernando Pessoa

sexta-feira, 1 de março de 2013

Sobre uma Paisagem.





Os montes eriçados, tenros precipitam-se uns sobre os outros para contemplar o luar riscando o mar com a curiosidade das vizinhas velhas de antigamente, os céus fazem cafuné na copa dos montes com nuvens gordas e brancas feito a mãe que assiste seus filhos ganharem centímetros de altura a cada ano, e o sol estica-se sobre a mesa do horizonte como o amante ansioso pelo encontro com os olhos amados dos quais por algum motivo, precisou dormir afastado. Assim nasce o dia, resplandecente, misturando tons de azuis celestes e marítimos, trocando o prateado luar pelo dourado solar.

 Aqui é o lugar onde o sol mais se demora, onde ele não quer ir embora. Aqui é o lugar onde o mar quer abraçar a terra e insiste, insiste e não desiste. A Vida se dá em um ritmo batucado e ininterrupto. A Vida se agarra nas encostas, nas frestas, e preenche cada espaço que pode, apaixonada. Aqui é o lugar onde a saudade embala tudo, e o encontro se dá pra todos. Aqui é o lugar onde meu amor caminha pelas ruas e pelas veias da terra. Aqui é onde um povo criança dorme de dia ou de noite ninados pelo barulho das ondas. Aqui é casa pra quem quiser chegar.

Essa cidade não brotou da terra, foi plantada a beira do mar, e pelo mar é ajardinada, regada e floresce e frutifica em música, som, beleza, saudades e paixões.  

O Rio irriga a terra, vermelha e abrasada, brasileira, e multiplica a Vida ao redor. O Rio é nascente, margens, leito, corredeira, afluente e foz pros nossos coração. O Rio é lar.

Phelipe Ribeiro Veiga.
01 de Março de 2013 - 13:06


"Ó bem-amada 
Rio! como mulher petrificada 
Em nádegas e seios e joelhos 
De rocha milenar, e verdejante 
Púbis e axilas e os cabelos soltos 
De clorofila fresca e perfumada! 
Eu te amo, mulher adormecida 
Junto ao mar! eu te amo em tua absoluta 
Nudez ao sol e placidez ao luar."
(Vinícius de Moraes)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre a bondade da Vida.




A Vida tem sido uma guerra, todavia me valho da delícia de não ser exército de um homem só. Cada "bom dia", cada sorriso dos meus contemporâneos, rimas e versos dos que me antecederam, cada gota de suor dos meus antepassados me impulsiona adiante. Há aqueles amigos que nem mesmo sabem que existo, como uma pessoa completamente desconhecida que às vezes beijando sua amada num banco de praça pinta um sorriso no meu rosto que me leva a horas de sabores doces, e aos poucos passeio pelos dias com a integridade incompleta, com falta de muitas coisas, mas até hoje, jamais necessitado de motivos pra seguir em frente. 

A Vida tem sido boa comigo, pra cada tapa ou mordida, aquece-me com uma centena de beijos. A Vida tem me dado amores de qualidade, que não me movem somente, que também me comovem. Amores que me transformam com a sutileza e o cuidado que o vento tem ao transportar as montanhas de lugar, que me inundam com a força e o carinho das ondas. 

A Vida tem sido boa comigo, e por tudo que fui, sou e serei, e por todos que são e sempre serão em mim e ao meu redor, é bom estar aqui e fazer parte. E eu amo Você!

Phelipe Ribeiro Veiga 
24 de Fevereiro de 2013 - 20:04


"Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só." Amir Klink

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...