terça-feira, 19 de agosto de 2014

As exigências do amor




O amor tem essas exigências. Faz-se preciso como o oxigênio, a água, essas coisas para ele são sustento. 

Como quando ele chega mais tarde, blusa amassada, gravata torta, "hora extra"  ele diz, e vai correndo pro banho, deita e dorme com olhos de bom marido fechados, sorrisos frouxos de menino pós amamentado. A ela só lhe resta um choro reprimido no chuveiro, e um sorriso forçado no café da manha. O amor é cruel, exige essas coisas. Como quando em meio aos vários anos de casamento, filhos grandes como as suas próprias ancas, a pele frouxa, com o marido lendo jornal na cama após transarem, comentando a cotação do dólar, e ela urra intimamente de saudade de paixões mais fugazes, amores menos amáveis, superficiais mas amplos, intensos. A ele cabe a coroa de plástico dando-lhe o direito a seu reino fantástico. A ela o silêncio e a fantasia. 

O amor impõe esses silêncios, essas fantasias. Há essas mentiras necessárias de serem ditas, e de serem críveis, não importando o quão incríveis possam parecer. O amor desvia assuntos como quem poda os espinhos de uma rosa que sabe, necessariamente precisará apertar forte na mão esquerda. O amor evita verdades, reafirma ilusões. Por isso não cai bem investigar o amor, virar ele do avesso, cheirar a roupa do amor, fazer perguntas demais, isso é fustigar os contos afim de achar-lhes fundos de verdade, quando assim o amor não sobrevive. Isso porque o amor tem mais haver com quem gostaríamos de ser e com quem gostaríamos que fossem do que com a realidade de nossas identidades. É desalinho na mais pura essência. Portanto quem ama o amor aceita sua fragilidade e seu desacerto. Quem busca verdade, deve escolher outro sentimento pra ter...






Phelipe Ribeiro Veiga
19 de Agosto de 2014 - 09:17

"Ciúme: Sentimento que nasce no amor e que é produzido pelo medo que a pessoa amada prefira um outro.” Roland Barthes

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Hipótese

Há essas ambições que todos nós compartilhamos, ficamos tentando alcançar e ser do tamanho de nossas sombras. E funciona bem como ela. Acordamos maiores do que somos, vamos diminuindo frente as dificuldades que encontramos até o meio-dia, e depois contra argumentamos, e voltamos a crescer, até que de noite toda a sombra é forçosa, artificial. Nosso fado de toda noite seria desaparecermos por um pouco, mas nos negamos qualquer direito ao desaparecimento. Somos assim ilusões pra nós mesmos, e uns nos outros, tanto que quando morremos nos "ende(usam)" de tal modo, que se vivos, nem nos reconheceríamos. Afinal, acaso nos reconhecemos de algum modo senão nos horóscopos que nos dizem só o que nos admitimos ouvir?! Assim parece ser. Que desacerto é o que somos pros outros e o que pensamos ser. Somos icebergs, sob cada perspectiva temos uma forma, de cada lugar aparentamos de um jeito, e a maior parte do que somos nem mesmo nós mesmos temos consciência, está submerso a nós mesmos. Em pensar que tudo que nós todos queríamos era uma certezazinha que fosse, uma quina de parede, um capacho que fosse que nos desse garantia de ser um lugar seguro. Mas não há. O que há é só desacerto, deriva(ções), subjetivismos. O que pensamos ser é só a metáfora do que somos, o que dizemos é só o epílogo do que temos de fato a dizer. Somos tão piores, e tão melhores do que aparentamos (a nós mesmos). Se ao menos nascêssemos de fato cegos, surdos, vegetais. Quem sabe que benefício traria perder-se em um mundo sem se ludibriar com nenhum sentido, nenhuma sensação? No mundo tudo é hipótese, mesmo a tristeza, a solidão, a morte. Afinal quem disse que morremos? Morre-se para os que se pensam vivos, mas nenhum morto voltou para dizer-nos "De fato, morri!". Quem sabe não dormimos? Quem sabe não acordamos? Pode ser que seja, pode ser que não... Enquanto isso, hipotéticos e patéticos... (que verbo usar?)


Phelipe Ribeiro Veiga
12 de Agosto de 2014 - 16:03



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A doçura.


A doçura se foi! Nunca mais foi vista! E agora tudo que ela pode ter sido desencanta em versionamentos, ficção, interpretação! Era desilusão de máscara? Talvez! Mas que máscara! Era infantil? Certamente! Mas era feliz, era dócil e doce, digna de ser perseguida! Dançava saltitante, sorria e fazia sorrir, mesmo que em hipóteses de carinhos que todos ensaiavam fazer. A doçura era sonho, era sensação, era encontro a acontecer, a acometer. A doçura não sobreviveu a esses tempos tão modernos. Sucumbiu a um ataque do coração. Ninguém mais a viu, nunca mais. Ouve-se ainda falar de seus estilos, de como o raio de sol ensaiava pelo menos três vezes antes de tocar-lhe o rosto. Ouve-se ainda por aí um insistente "antigamente", de quando ela ainda vagava pelas ruas, pelos cabelos, olhares, toques. Há quem diga que faleceu de morte natural, outros que foi assassinada por um grupo de sinceridades, e há ainda os que dizem ter anotado a placa das paixões que passaram por cima dela. Mas eu particularmente não acredito nessas versões. Acho que ela se foi, ou talvez nunca tenha sido. E agora fica aí feito mito, habitando canções, olhares hipotéticos, declarações ensaiadas e pretensões de confissões que em dias tão práticos jamais se darão de verdade. A doçura era boa demais para gente como a minha gente. O que sobrou? Sobrou o que sobrou, e a tangível saudade do que nunca foi de fato tangível. A falta do que nunca se teve. A doçura se foi e deixou ensaiadas saudades dos dóceis momentos que inspirava, saudades do que era viver, naquele tempo, com tão mais doçura.


Phelipe Ribeiro Veiga

04 de Agosto de 2014 - 17:00


"O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas." Cazuza







domingo, 3 de agosto de 2014

Sem título.

Queriam-me assim?! Pois bem! Assim estou... Ou quem sabe pior, sou! E aparece-me no espelho, como uma espinha imensa na ponta do nariz em dia de cerimônia, a sensação de que não sei ser de outro modo. Ensinaram-me (ou aprendi) errado. Rasuraram meus mapas todos, sabotaram meus valores. Ninguém me avisou que tudo queria dizer o contrário, e será que agora não é tarde?! Onde há verdade senão no desdizer de tudo que me cerca?! Como me reinventar quando percebo que pouco me fiz, e me deixei ser feito acidentalmente além do que gostaria, dei muito poder aos dias, fui permissivo com as circunstâncias erradas? Hoje vivo um grave cisma. O que fazer?! O que ser?! Ah engano! Malditos sofismos modernos! Acreditei! Que lástima! Que cisma! Hoje o espelho se ri de mim! Vontade de adentrá-lo e espancá-lo por sua ingenuidade e prepotência de achar que sabia em quê acreditar! Não é de mim vangloriar outros pelos enganos que cometo. Tendo mais ao contrário, mas dessa vez...  Cai! 

Phelipe Ribeiro Veiga
3 de agosto de 2014

"Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço (...)" Livro de Jeremias 17:5

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...