domingo, 27 de abril de 2014

Sobre o porque eu estou triste.

Hoje estou triste.
E a minha tristeza se abisma por ter de haver um motivo e eu não ser capaz de achá-lo. Tento circunscrevê-lo. Achar o indivisível da minha tristeza. Há hipóteses...

Estou triste porque há tanto que nunca será. Porque só posso ser eu em detrimento a tantas outras possibilidades de ser, e por ser este um privilégio tão cansativo e doloroso. Estou triste porque a Vida é irremediavelmente surda aos clamores dos homens, enquanto a Morte nos atende mesmo sem jamais a termos chamado. Estou triste porque andei doente, e tem me sobrado braços e me faltado abraços. Porque minha mãe anda longe, e não há colo como o dela, nem há quem se pretenda a suprí-la. Estou triste porque apesar de tudo ser tão feliz, há sempre um pouco de tristeza em todas as coisas. E por falar em todas as coisas, estou triste porque é tudo tão individual, e consequentemente tão só. Estou triste porque tudo é perigoso e arriscado, e a felicidade é móvel, podemos alcançá-la, tocá-la mas jamais segurá-la. Estou triste porque é domingo, e dentre tantas outras coisas inevitáveis, é inevitável a segunda-feira. Por fim, me entristeço por estar tão triste, mesmo podendo estar feliz...

Phelipe Ribeiro Veiga
27 de abril de 2014 - 21:14

domingo, 20 de abril de 2014

Sobre um carnaval em 2007.

Lembro de suas matizes juvenis, de suas juras e certezas. Lembro dos seus risos etílicos. Lembro de seu sambar disfarçado fingindo que sabia mas ao mesmo tempo sem se preocupar em saber. Lembro de seu cigarro frouxo no canto da boca mirando a bola na mesa de sinuca, recitando palavrões como quem declamava Neruda e Manoel de Barros. Lembro de sua saia longa, sua blusa curta, sua sandália que te deixava mais descalça do que te calçava. Lembro de suas broncas, do seu molejo. Lembro de seu corpo personificando toda a anarquia de todos os carnavais. 

Minha estrela que tanto se faz passar por satélite (Seba lá deus - ou Freud - o porquê). Lembro-me tão bem de você! E se bem me lembro, você também acha nostalgia uma coisa das mais bregas que existem, mas não me julgue tão mal. Por um segundo, entenda, na praia da saudade cedo ou tarde se banha toda a humanidade...

Phelipe Ribeiro Veiga
20 de abril de 2014 - 13:56

terça-feira, 8 de abril de 2014

Sobre fotografias.

Não! Não te fotografarei! Guardarei o momento em sensações. Texturas e cheiros, brisa e gostos, me apegarei a essa tridimensional impressão mental com toda fugacidade que lhe cabe. Não irei cravar essa cena em pixels insensíveis que não eternizam e não são nada senão um micro quebra-cabeças que nem conhece nossos nomes e nossos motivos. Confiarei no impacto do momento, na profundidade da minha visão do que somos neste exato momento. Fá-lo-ei eterno enquanto durar a maciez dos lençóis, a cor do sol atravessando a cortina, o som da sua risada preguiçosa. Não fotografarei! Não darei muletas à memória nem minimizarei o momento à realidades de menores dimensões. Vamos deixar de ser eternos por um pouco, vamos gozar (n)a finitude que somos e a que nos cabe. Somos, independente do que seremos.

Phelipe Ribeiro Veiga 
08 de abril de 2014 - 08:46

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...