segunda-feira, 31 de maio de 2010

Amor Agridoce - 31 de Maio de 2010 - 19:09




Ah meu amor agridoce...

Assim como a lua coroa a noite eu queria coroar seus pensamentos. Como do seu brilho o sol é razão, queria eu ser a razão de seus mais preciosos sentimentos. E como essa mesma lua memorizou o brilho de cada estrela e delas se tornou íntima, eu queria ser íntimo dos teus desejos, desde os superficiais até os mais secretos...

e satisfazer-te.


Queria diante de sua figura ter a criatividade dos mares, que mesmo repetindo o movimento, jamais repete uma onda. Queria enfeitar todos os teus dias com novidades... e como uma rosa que ainda não se abriu te guardar em mim envolvida por pétalas macias, fazer dos meus espinhos um meio de te proteger até o fim dos meus dias.


Queria ser esculpido em diamante com você nos braços pra ter pra sempre esse momento e o sentimento... Feito uma pintura que jamais vai a lugar algum, sequer ousa piscar, queria eu, minha amada, seu sorriso pra sempre fitar.


Feito o louco que sou, amada minha, queria eu da forma como escrevo poder em realidade te amar.

[PH]elipe R. Veiga


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E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora,


E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.


Fernando Pessoa (Eros e Psique)


domingo, 9 de maio de 2010

Somos Homens – 09 de Maio de 2010 – 23:48



Um dia um homem tomou nas mãos os materiais necessários e lançou-os sobre uma determinada forma, numa determinada ordem, e fez essas teclas, e as fixou, e deu a elas sentido, elas existem pelo que são, teclas. As luzes para iluminar, os carros para locomoção, aviões para voar. Aviões não são submarinos, submarinos são serão aviões, se o forem, serão outra coisa qualquer... mas e nós o que somos?

Costumam dizer que somos homens. Cada coisa recebe seu nome devido sua origem e função. Mas nós não sabemos nossa origem, e podemos fazer tantas coisas que não se sabe pra quê somos feitos, porque existimos, se acaso um ser superior nos colocou tal qual as teclas sobre um teclado com algum objetivo, isso não sabemos. Falta-nos sentido, função, razão. O que somos afinal?

Somos homens.

Definição de homem: Massa de ossos, carne, músculos, sangue, impulsos elétricos e uma outra coisa qualquer que reside ocupando lugar no espaço, se locomovendo desorientadamente atrás de uma razão para se locomover, sem nenhuma razão de ser.

Vivemos sem saber pra quê, perdemos a vida como quem perde uma moeda de cinco centavos, perdemos amores como quem chega atrasado ao ponto de ônibus e ainda o vê sumindo na estrada adiante. Perdemos quem amamos como quem leva uma bala perdida, não sabemos como as pessoas surgem, nem como podem tão repentinamente partir, a aparência que se mostra no espelho se vai sem que nos demos conta disso, um dia olhamos e não somos mais, fomos. Vivemos agregando coisas e perdendo-as, a vida é mesmo “um adeus demorado”(Fernando pessoa).

E nós? Chaplim disse “Não sois máquinas, homens é que sois.”... antes fossemos máquinas, ao menos daríamos defeito e seriamos substituídos por modelos mais modernos com a certeza e a consciência limpa por termos nos prestado àquilo para quê nascemos... mas quanto a nós não há absolvição. Somos homens, e portanto... não somos nada...

Que angústia!

[PH]elipe R. Veiga

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"Ser ou não ser? Eis a questão" - William Shakespeare (Hamlet)

domingo, 2 de maio de 2010

Só, rimos - 02 de Maio de 2010 - 12:30


Sol forte e calor no Rio de Janeiro
Metrô, Estação da Carioca, 6h30m da manhã.

Ele vai na direção da escada rolante e logo a vê...

Linda, com um vestido vermelho até o joelho, cabelos castanhos e encaracolados. Ela consulta o relógio fazendo pose como quem consulta um espelho. Seus olhares se cruzam, se distraem e se perdem um no olhar do outro sem parar de caminhar. Eles quase se esquecem de para onde estão indo. Ela se mostra tímida e sorri, abaixa a cabeça, ajeita o cabelo e se mostra mais linda ainda. Ele pensa que a conhece (de algum lugar) e os dois dividem aquele momento, caminham meio que um na direção do outro. De repente ela vê que seu ônibus está parado no sinal da Rio Branco. Ela no fundo lamenta, mas tem que correr.

Ele? Só, ri de si mesmo
e segue seu caminho em direção a escada rolante.

Assim são os amores! Nos encontramos sem querer, compartilhamos a vida por um minuto que seja e seguimos o nosso próprio caminho as vezes sem sequer saber quem foi o outro ou pra onde foi, ou ainda de onde veio.

Seguimos! Só, rindo de nós mesmos.

[PH]elipe R. Veiga
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"Na vida só resta seguir." - Marisa Monte

"Nós não podemos amar, filho. O amor é a mais carnal das ilusões. Amar é possuir, escuta. E o que possui quem ama? O corpo? Para o possuir seria preciso tornar nossa a sua matéria, comê-lo, incluí-lo em nós... E essa impossibilidade seria temporária, porque o nosso próprio corpo passa e se transforma, porque nós não possuímos o nosso corpo (possuímos apenas a nossa sensação dele), e porque, uma vez possuído esse corpo amado, tornar-se-ia nosso, dei xaria de ser outro, e o amor, por isso, com o desaparecimento do outro ente, desapareceria..."

Fernando Pessoa

sábado, 1 de maio de 2010

Mutuamente – 01 de Maio de 2010 – 19:17


A noite aparece feito moça que procura casamento
Ornamentada de estrelas, com a lua na cabeça, e o sol no pensamento
Seguem-se um ao outro, admirando-se mutuamente...
sem jamais se encontrar
Ornamentado de nuvens e senhor de um azul sem fim
Permanece o sol à vida dos homens bisbilhotar
E os homens uns aos outros estão a se admirar...
Olhares fugazes a se ignorar
Mutuamente.
É Ana que devora a Marcelo com os olhos
Que explora o andar de Joana
Que pensa na morte de seu pai e na tristeza de sua mãe
Que lamenta a vida sem seu amor
Que descansa soterrado por terra e flor...
É o moleque que deita fora as flores do morto
Que é observado ao longe por sua mãe
Que é desejada de forma vil pelo coveiro
Que é chamado ao trabalho pelo motorista
Que é amado sem saber pela recepcionista
Que é coagida a atitudes ilícitas por seu chefe
Que é traído pela mulher que lhe jura todas as noites amor eterno
Que é enganada pelo amante mal caráter
Que é irmão de Ana
Que é observada pelo sol a brilhar
Que é amado e perseguido pela noite ornamentada
Que chega silenciosa com seus poemas de amor a recitar.
E tudo isso acontece sem ninguém notar.
Ignoram-se todos...
Mutuamente.

Porque?

[PH]elipe Ribeiro Veiga
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Ah, mas se ela adivinhasse,
se pudesse ouvir o olhar,
e se um olhar lhe bastasse
pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
quem quer dizer quanto sente
fica sem alma nem fala,
fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
o que não lhe ouso contar,
já não terei que falar-lhe
porque lhe estou a falar...

"O AMOR QUANDO SE REVELA - Fernando Pessoa

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...