sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sobre a Gratidão.



Nada a Vida nos tira, em tudo Ela nos poupa.
Nada a Vida nos dá, tudo Ela nos doa.
Cheguei neste mundo nu, despido de pensamentos, linguagem e compreensão. 
Sairei dele com muitas histórias pra contar, mesmo que seja ao silêncio que há de se descortinar, ou a outra coisa ainda.
Sairei da Vida maior do que entrei, e me doarei à Vida com muito prazer, e cheio de saudades.
Hoje a vida me bateu um tanto. E assim como me expando em gratidão, hoje eu me encolho, fetal, em gratidão. Pois nem todo tapa é pra dor, nem todo beijo é de amor.
Hoje me recolho com lábios silenciosos, e uma mente onde ecoa tão somente muitos "Obrigado".
A Vida é um caminho onde o sucesso te exige tão somente duas coisas, excelência e coragem. Entrei nela sem ser nada, hoje estou nela podendo ser qualquer coisa que eu quiser. 
Se investi errado, agradeço a possibilidade de fazê-lo, se corri em vão, agradeço a força para fazê-lo. 
Não é uma gratidão cega não. Hoje dormirei dolorido e choroso, abrasado pela mais pura solidão, mas crendo completamente, a Vida sempre sabe mais.


Obrigado!


Phelipe Ribeiro Veiga
22 de Junho de 2012 - 23:27



"Todo mundo ama um dia, todo mundo chora.

Um dia a gente chega e no outro vai embora. 

Cada um de nós compõe a sua história, c
ada ser em si c
arrega o dom de ser capaz e
 ser feliz." Almir Sater - Tocando em Frente.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sobre hospitais.




Neste templo de vida e de morte, lugar de chegada, de partida e de agonia e alegria  as paredes ecoam solidão. Seus sacerdotes não estão onde estão, estão trabalhando. Meu sofrer é matéria prima de olhos técnicos que não se compadecem, não me tocam, não sabem quem eu sou, querem salvar-me por um dever descompromissado comigo. Aqui não sou ninguém, aqui não sabem quem eu sou. Nem aqui nem em lugar algum. Solidão ecoa, desamparo não perdoa, e eu agonizo a espera quem não sabe cuidar, só aprendeu a curar... E que Deus me proteja e a Vida me abrace forte porque a Terra em que estou é de puro abandono. 


Phelipe Ribeiro Veiga
13 de Junho de 2012 - 14:58


Texto escrito numa espera de horas por atendimento em uma emergência de hospital sob insensibilidade médica.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sobre os caminhos do amor.





O amor é um sonho, e cada fracasso é como o esforço de um parto de um filho já morto.
É como dar Vida à Morte.
É como não ter sido nada o que era tudo.
É como, depois de longa caminhada, descobrir que se caminhava longe para um lugar errado, é preciso voltar tudo, e redirecionar os pés que já estavam tão afoitos por o que se tomava como destino, é preciso admitir-se a perdição...
Mas quer saber? No fim, o que me conforta é, não importa o quão longe sigo num caminho errado, meus olhos não perdem nenhum detalhe, e por isso, vale sempre a paisagem!


Phelipe Ribeiro Veiga
08 de Junho de 2012 - 01:34

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sobre o engano do amor.





"Quem nunca foi enganado, jamais amou..."
Afirmo isso sem temor algum de equívoco. Pois o que é amar senão extrair da Vida o que ela não tem pra dar? Achar no objeto de nosso amor tudo o que ele jamais será? Encontrar num olhar mais do que córneas e carne e fibras (O que de fato são)? 
O tolo ama, o sábio se entorpece, e se fazendo tolo, pode vir a amar. 
Quanto mais sábio é um homem, mais ardiloso deve ser seu coração, mais esperta deve ser sua imaginação, mais lógica deve ser sua mentira, caso contrário não há amor viável.
Eu temo por meu coração, pois quanto mais conheço da Vida, mais inconcebível ela me parece, como costumava pensá-la quando ainda a pensava. Hoje eu a vivo, e nada é como deveria. 
O amor não existe senão na ignorância de uma enganação, espontânea ou não. 
A tola ideia de necessidade, a ilusão de completude e entendimento, a sensação de casa no abraço, a sensação de apreço no afago, e então, como passos dos dedos sobre areia fina, isso tudo se desfaz, e o que fica na lembrança não é o que tivemos, nem o que pensamos ter tido, nem o que sonhavamos ter, trata-se de uma nova mentira. 
O amor renova-se de mentira em mentira...
Quem não se permite perder-se não ama jamais, quem não permite-se enganar-se, não ama jamais. 
E assim sendo, abençoo a minha ignorância, e seu preço de sangue... o qual pago enganosamente... satisfeito.


Phelipe Ribeiro Veiga
06 de Junho de 2012 - 22:03


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sobre as exigências da Poesia.






E quando a poesia bate na porta, insistentemente? 
Eu levanto da cama preguiçoso para atendê-la.
Abro a porta.
Lá está ela, tragando um cigarro de sonetos Vinícius, fazendo fumaças engraçadas como uma rima de Quintana. Ela veste um Tom, Nelsom Rodrigues, parece uma outra, Pessoa, fazendo charme. Ela está puta com a zona que trago no peito. Ela se desconforta, e se recusa a entrar... e não me deixa voltar a dormir, nem sequer fechar a porta. Ela não é de se ignorar.
É hora de arrumar a casa... 
Pois capacho não é lugar de rimar... 
É preciso ter conforto na alma pra poesia entrar...




"Boa noite e boa sorte..."


Phelipe Ribeiro Veiga
04 de Junho de 2012 - 22:21





"A gente todos os dias arruma os cabelos: por que não o coração?"
Provérbio chinês

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...