segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sobre quando o medo bate à porta.



Quando penso estar abrigado sob o teto de minhas Verdades, Crenças, Esperanças e Sonhos, estes que são meu chão, parede, teto, porta e janela (e porque não, trancas), ouço o farfalhar do vento na mata lá fora. Cada folha que se move, cada nuvem que vaga no céu apressada como que atrasada para algum encontro de vida ou de morte me convence de um mundo tão maior que eu, tão perigoso. 
Encolho-me fetal (como de costume) e abraço travesseiros convencido da minha pequenez e fragilidade. O fato é que a Real idade das coisas soca meus tímpanos, porta dos fundos de minha alma e grita nomes que sei, correspondem a identidades minhas. medos, temores e tremores. 
Venta lá fora, há socos nas portas e janelas como nos olhos e ouvidos. Procuro um espelho e deparo-me comigo vestido de uma roupa pequena, apertada por demais, um dos meus desconfortos. É o passado. Percebo que sigo crescendo tão apegado a ele que nem o percebi ali e agora, de tão apertado já não consigo despi-lo. O que resta é rasgá-lo e enfrentar minha nudez presente, e as marcas e deformações e atrofias que meu descaso ao deixá-lo ir ficando e ficando acabou por causarem-me. Mas haverá alguma veste no meu tamanho em algum futuro? 
Diante de tanto tremor e medo, e da ordinária Vida minha, haverá algo lá fora senão inseguranças? 
O que me resta é fechar os olhos, fingir ao medo que bate à porta da alma que não tem ninguém em casa e dormir, e amanhã quando for dia abrir todas as janelas para deixar o sol entrar. Daí volto a fingir que estou abrigado, que tudo está bem, até que anoiteça de novo, até que...

Phelipe Ribeiro Veiga
23 de Outubro de 2012 - 00:15


"Eu poderia ficar sempre assim

Como uma casa sombria
Uma casa vazia
Sem luz nem calor
Mas quero as janelas abrir
Para que o sol possa vir iluminar nosso amor" (Vinícius de Moraes)

domingo, 21 de outubro de 2012

Sobre o pudor e o despudor das praias.

Foto: Phelipe Veiga

Visitando as praias de Maricá, que são feito essas moças recém-desvirginadas que, cheias de violência, fecham as pernas em ondas impedindo a balneabilidade do prazer em seu corpo longo, eu sou impelido a pensar na pequena rebelde, vedete de todos os ritmos e amores, aquela que fora amaldiçoada com um nome de imprestável que nem era seu e que se faz propositalmente o inverso.
Aquela que pôs a barriga de fora, que estreou quatro triângulos escandalosos falseando a cobertura da nudez que no fim só se fazia mesmo era mostrar, e quando falsear já estava por demais de costume, ela tirou  dois deles triângulos pondo os peitos de fora. Aquela que sempre contradisse a caretice de tudo que acontecia além de seu calçamento quadriculado em pedras portuguesas, que beijava livremente os do sexo oposto e os do mesmo sexo, e tragando um baseado não deixava ninguém a criticar. Ipanema é ainda a moça que brinca feito um quadril balançado nos extremos do que se esconde e do que se revela em formas, cores, cheiros e sons. É a praia da bossa, do rock, do funk e da gaivota a cantar. É a areia branca de protesto a tudo que  se nega ao prazer. É o encontro de bocas e sexos do que é homem e do que é natureza, dando a luz a um humano mais natural, que diante de tanto estupor sabe aplaudir o pôr-do-sol.
Diante das praias puritanas e ladeiradas, sem calçamentos e cheias de puritanismos se fazendo de difíceis, carrancudas feito as daqui de Maricá, eu me lembro de Ipanema, de sorriso indecente, pernas abertas querendo só gozar e gozar e gozar... 

Phelipe Ribeiro Veiga
21 de Outubro de 2012 - 18:31

"O Brasil só será feliz quando virar uma grande Ipanema!" - Tom Jobim

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...