segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Osso do desejo.



É o desejo, íntimo-e-dado, oferece-sido, mas envergonhado no canto, desafinado, constrangido com o só-riso do outro. É a rua, sem saída, o beco, a casa alheia: o desejo, o encontro, a vida. É o desejo no amasso, todo amassado, com a lou-cura. É a "negócia", o feminino do negócio que não negocia, nada, em águas turvas não se faz com-sessões. A tranque-eira que não funciona na beira e nem na tranca. É o dez-encontro ou o encontro onze, é a ré-volta fazendo rodeios sem peão, é o ímpeto de amante ama-dor. É a chuva bem guardada, sem guarda-chuvas. É o medo. É o desejo articulado em paralisias, arquiteto de engenharias, se perdendo sem querer perder, a fim de só per-doar. É o ímpeto de re-partir palavras só pra não ter que partir mais nada e jamais ter que partir de novo. Ih-rompeu, des-pedaço-sou. É o desejo, ou então sou eu. A costela, o dente? O Osso! 

Phelipe Ribeiro Veiga
25 de Janeiro de 2016 - 12h37

domingo, 10 de janeiro de 2016

O corpo consome-dor



O corpo de que a gente se serve, que a gente serve pro Outro e a quem a gente serve. Afinal pra que serve o corpo? Dedos paralelos exibem um cigarro se consumindo, mas o que consome o corpo quando consome o cigarro? O que consomem os dedos? Quando jogamos sua cabeça pra trás numa gargalhada, exibindo o pescoço, balançando os cabelos, enrijecendo o peito o que consome o corpo? O que queremos quando despimos o corpo ou quando cobrimos ele? Quando consome um instante? Uma imagem? Um outro corpo? Dá pra consumir um outro corpo? Esse invólucro do que somos, essa casca da fragilidade desconhecida que, dizem, está dentro. Essa prisão perpétua de estar onde estamos desde que nascemos até o momento de partirmos - partirmos? Acaso chegamos? Esse haver-se com o gozo nosso tão incompreensível que a gente tenta pluralizar, se diluir, acrescentar um monte de "a gente"e mais um tanto de "todo mundo" pra se sentir menos só. O corpo é esse visgo que se apegou, onde a alma por vezes habita o pé, outra hora a mão, depois a cabeça e de pois o peito esquerdo, onde a alma se perde lá dentro. Essa confusão é o corpo. Esses sinais ininteligíveis. O corpo que vai escorrendo por entre os dedos da ideia de ser quem somos pra sempre feito um punhado de areia, que vai derretendo, enrugando, ficando cansado, indisposto. O corpo que tanto pede, a quem tanto dissemos não promove sua vingança final. Ele se Es-vai. Ele diz nãos impossíveis de se dissuadir. O que consome o corpo quando se consome? E quando some? Quem consome o corpo? 

Phelipe R. Veiga
10 de janeiro de 2016

"Calcula quanto tempo credor, amante, superior ou cliente, te subtrai e quanto as querelas conjugais, as reprimendas aos escravos, as atarefadas perambulações pela cidade; acrescenta as doenças que nós próprios nos causamos e também todo o tempo perdido: verás que tens menos anos de vida do que contas" (Sêneca 4 a.c. / 65 d.c.)


(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...