sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sobre as sobras de mim.



Tanta raiva dos meus erros! É que em Janeiro passado o que havia era esperança demais! Havia tanta coisa amarrotada dos anos anteriores e tudo estava tão arrumado e aprumado que decidi passar minhas "vestes" de esperança... e tudo ia bem... até que eu me distraí e queimei a minha melhor roupa, e de acordo com que fui tentando arrumar as coisas só pioraram. Agora a festa é amanhã e eu não tenho o que vestir pra receber esse novo ano... 

Há agora aquela calmaria pós-tempestade onde tudo é silêncio e uma vontade de não perturbar, de não fazer barulho, onde a gente só quer ficar quieto e deixar passar, deixar chegar pra ver o que vai fazer. Há sim uma imensa necessidade de mudanças e de alegrias simples, como o sorriso de uma criança que nunca é justificado e nem precisa, como o abraço de um amigo, ou amor gratuito de quem você nunca fez nada pra merecer mas recebe de verdade. Há aquela dor aguda, já bem conhecida do abandono, do fracasso do coração, mas acho que já é tempo de aceitar o meu atrapalhado coração, hora atrasado, hora adiantado, mas nunca na hora certa nem na medida das coisas ou de quem amo. Há essa preocupação com a seiva das plantas, o transpirar das possas d'água, o humor do mar e a boa vontade do céu, onde tudo é emergente, preocupante e mais do que tudo, insolúvel. Mas eu já não posso mais mover um dedo.

A vida "jazz", irremediável, na medida das incompatibilidades, dos desencontros, dos impossíveis e improváveis, do desconforto e do desassossego. Aí está a depressão que é efeito colateral da minha poética, é saber que em tudo há mistério e encanto, mas o fim é pontual, real, maciço. Há em tudo um fim, mas não na minha imaginação, como dizia Pessoa, "tenho em mim todos os sonhos do mundo". E agora?

"E agora José?" que "mais vasto é o meu coração"? O que é que sobra além da minha pele? Enquanto meus poros se achegam uns aos outros, meus olhos escorregam cansados, meus musculos sedem a gravidade, meus pés se achatam, e meu cansaço me curva as costas e o mundo jaz o mesmo, imutável, alheio, ensimesmado... o que sobra? Não sobrou nada senão eu mesmo, solo sem platéia, nu, sem papel, sem fala, sem cenário, sem coadjuvantes ou protagonistas, nem mesmo roteiro. Sou.

Cansado, e agora a festa é amanhã e eu não tenho o que vestir pra receber esse novo ano. Estarei nu e seja o que Deus quiser, e que o mundo seja mundo enquanto eu sou o que sobrou de mim, sem mais nem menos, subtração de todos os sonhos que não foram e planos que não vingaram, só-mente eu.

Phelipe Ribeiro Veiga
30 de Dezembro de 2011 - 10:51

"E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?  E agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber,  já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?" 
Carlos Drumond

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sobre meus erros.





Os últimos dias desse ano escruciante (onde somente um outro foi pior de uma vez só) se arrastam e eu já não tenho mais ânimo pra lidar com ele. É feito um casamento que acabou e você é obrigado a dividir o mesmo teto (se eu tivesse um) com essa pessoa que pra você só traz um insosso sabor de coisa nenhuma, de desperdício de tempo. Afinal, que coisa grandiosa pode acontecer em cinco dias que salve os outros 360 que só fizeram doer coisas diferentes em momentos distintos? Que coleção de fracassos e escolhas ruins tive neste ano? Olha, vocês otimistas que me desculpem mas hoje não quero lições, evoluções ou avanços, não quero os bons modos de quem escreve pra dividir o bom, o que eu quero é cantar em alto e bom som minha insatisfação... comigo.


Eu andei parando pra pensar... to fora do meu eixo... do meu querer... do meu estar... e pra quê? Pra onde me leva esse desafiar a vida todo dia a ser menos ordinário e mais extra? A merda de lugar algum. Só me peso mais e mais e ainda sou frágil, descuidado e passional naquilo que nem sempre é o mais importante, mas eu faço ser. 


E daí eu penso... porque é tão dificil ficar só? Que bosta de conversa é essa que fujo de ter comigo mesmo e soterro em conversas com outras pessoas só pra não me ouvir? Que necessidade louca de sentir necessidades? Que mania de babaca de querer ter e ser razão de viver nem que seja de um verme (onde pelo menos pra ele eu seria de fato)? Quanta fraqueza, covardia e espanto! Pra quê tanta fuga disfarçada de encontro? Pra que tanta saudade disfarçada de abraço? Pra que tanto disfarce? Porque não ser sendo com bom senso e boa vontade? Pra que ir na contramão da tranquilidade de novo e de novo e de novo? Erros. Tantos erros... tanto desalento que eu mesmo me trouxe, problemas e confusões que só me fazem lembrar um passado distante onde havia certeza de amor e um abraço quente, sem volta. E meu maior desassossego essa noite é que eu preciso mudar de direção, fazer-me bem custe o que custar, mas acima de tudo, diante de tanta falha e fracasso meu, pelo menos por uma noite e pela primeira vez eu preciso me perdoar... 


Boa noite, ...


Phelipe Ribeiro Veiga
26 de dezembro de 2011 - 21:08

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Epitáfio de 2011



O ano vai se pondo feito um sol cansado, dando-nos apenas uma noite de celebração antes de mais 365 dias de aforismos e de esperança de que tudo melhore em algum canto do nosso quarto pelo menos. Esse ano foi um dia frio pra mim, um dia nublado, cinza, que só agora quando o sol começa a acariciar o horizonte é que eu vejo alguma luz, algum calor, mas ainda sob fortes ventanias. Esse ano me erodiu muito, me envelheceu, me embruteceu a mente e o coração. Nesse ano aprendi o que é desassossego, e de quem é a culpa dos meus, minha. Nesse ano aprendi a dizer adeus de forma bruta, e conheci meus exageros. E conheci a solidariedade de onde não esperava, e essa mesma solidariedade vem me aquecendo, acolhendo, protegendo do frio que ainda resta desse ano invernoso. Aprendi a reconhecer gente boa e gente ruim, e sei que ainda hei de errar muito a respeito desse juízo. Aprendi que tem coisas que não adianta, eu não quero aprender e pronto, vou carregar o erro feito um colar pesado que com o passar dos anos vai me onerar por sua beleza entortando minha coluna e meu espírito. 

Aprendi tanta coisa que chego a surpreender-me com mais novidades da vida... e me apaixonei... depois de tanto deserto e areia e calor eis que encontrei uma flor (de espinhos duros, verdade), mas cheirosa como levarei anos pra topar com outra igual, e pra minha surpresa percebi que eu mesmo a plantei, e consciente disso eu vou cuidar dela. Só sei que aprendi que a vida é feito um rio, que segue sempre adianta, jamais retrocedendo, onde até percalços são avanços, e feito rio, a vida não erra o caminho em direção ao mar onde tudo deságua, onde tudo termina. Por fim compreendi que quero envelhecer, enrugar, e que pra querer envelhecer é preciso amadurecer, portanto eu quero sim, murchar por fora, florescer por dentro, ver a vida e suas novidades até que seque meu percurso e eu abrace o mar ou a morte com uma saudade tão grande, feito um encontro muito esperado de um amigo que há muito não se via. Neste ano frio e difícil aprendi a valorizar cada pedaço de vida, e eu só desejo que 2012 tenha mais calor pra oferecer.


Phelipe Ribeiro Veiga
17 de Dezembro de 2011 - 03:42 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Sobre o colo de minha mãe.




Aonde estou?
Não me acho!
Encontro-me perdido nas faces alheias, sorrisos de Outros dentre outros, pessoas que criticam, reclamam, se colocam, demandam, que me querem mais que me querer bem, e eu? Diminuo-me até caber! Não, eu não me acho!
É que há um assombro habitando minha sombra, perseguindo-me aonde vou. É o da morte! Não qualquer morte, mas a morte da Mãe! Sim, O Desamparo! O fim do colo único, da carícia eternamente verdadeira, do absoluto e divino amor, do abrigo mesmo desabrigado, daquela que me entende mesmo sem entender nada, daquela que sempre se aperta pra caber no meu mundo, sempre menor, pra demonstrar o quanto me ama. Tenho sentido saudade de mãe! Tenho sentido medo da morte! Tenho sentido medo do desamparo, do abandono, do desamor! Que assombro! Estou tão acomodado em tantos que me encontro descabido em mim! Aonde é que há refúgio senão no colo de minha Sônia? De minha Lúcia? Minha Sônia Lúcia de força imensa, quase brutal, e sempre e mesmo assim certamente afável! Minha mãe! Pois na vida só tenho dois amores certos, o da Lua e o de minha mãe!  Preciso de uma Lua nova no Céu, e de um cafuné de Sônia! Que saudade de ser criança e da certeza de que todos me querem bem!
Não, eu não me acho! Aonde estou senão no colo de Sônia? Vou juntar-me em pedaços, me recolher fetal e me abrigar em minha Mãe a espera de uma noite de luar, onde o amor seja menos incerto e haja mais abrigo e menos obrigação no mundo!

Phelipe Ribeiro Veiga
28 de Novembro de 2011 - 23:30

domingo, 27 de novembro de 2011

Leidenschaft



Paixão.
Uma corrida a ermo. Um tentativa despreocupada com o sucesso. Antes teme-se desesperadamente os dez mil novecentos e setenta e três fracassos possíveis. Nela o sucesso é simples, é sutil, é só te ter ao lado, ao alcance do olfato, entres os braços e os laços que são abraços meus. Nessa corrida desvairada, nesse aforismo silencioso onde se implode o peito apaixonado, a sombra é o medo. A sombra da paixão é o medo. É uma sensação de se ter tudo, absolutamente tudo no seio teu, todas as conquistas de todos os impérios não são mais gloriosas, o apaixonado sabe o que é ter o mundo a seus pés, basta ter-te por perto, e me deitar sobre ti e ouvir-te pulsar o coração provando, "minha satisfação está viva!", e me assombro, pode SE PERDER, SE QUEBRAR, MORRER, PARTIR, ESQUECER, DESAPARECER, DEIXAR DE QUERER... DEUS!!! Estar no encontro com a paixão, retribuído, enlaçado de tal modo que não se acham pontas nossas, não deveria acontecer. Algo tão pleno é certamente pecado, como aprendemos de nossos antepassados queimados e enforcados, malditos. Deus não deve gostar! Tal plenitude, aprendemos, só poderia se dar em um encontro com o próprio Deus ou com a Loucura, e talvez seja mesmo um dos dois. Sei, apaixonados são tolos, e eu o mais tolo deles! Somos desnaturados, ou sobrenaturais talvez, sei que somos feito um rio que resolve fugir do mar e correr ao contrário... corremos do fim certo e natural das coisas... porque todo apaixonado é cheio de fé, vencemos o mundo se preciso for, porque ninguém crê mais na vida e em Deus do que quem enloquece de amor!
Paixão.

Phelipe Ribeiro Veiga
27 de Novembro de 2011 - 11:33

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sobre um dia de chuva na cidade.



Enquanto os Anjos a mando de Deus lavavam a cidade a conta-gotas, enquanto os homens reclamavam de estarem molhados, enquanto os carros chiavam no asfalto ensopado, enquanto o céu se acimentava de nuvens sobre minha cabeça, enquanto os rostos rotos me ignoravam todos, enquanto o mundo deslizava molhado sob meus pés exaustos de fazê-lo girar... eu só pensava no medo que sentia... na febre de saudade que me acometia... nos olhos seus... nos lábios meus... nos teus... enquanto eu vivia tudo isso você estava por aí, num lugar onde não sei e não conheço, fazendo algo que nunca te vi fazendo, indo a algum lugar que nunca estive e sendo quem comigo você nunca é. Enquanto o mundo desabava erodido lentamente eu refletia os caminhos que aquele gotejar poderia abrir na minha pele, no meu rosto, na minha alma e sombra, no nosso recém nascido amor. Que medo de afogá-lo, que medo de perdê-lo, aliás nada é mais frágil que um amor novo. Quem disse que o amor lança fora o medo definitivamente nunca esteve apaixonado, muito me
nos por você.

Phelipe Ribeiro Veiga
16 de Novembro de 2011 - 23:34

sábado, 12 de novembro de 2011

Sobre esses últimos primeiros dias.



É confuso contemplar com tanta paixão essa paisagem tão nublada. E é assim que tem sido. Um esperar lento mas usufruido como uma delícia rara cada ansiedade e angústia, como quem goza a contemplação de um quadro torto na parede sentado na sala tragando um bom vinho. Tenho feito desses ultimos dias uma loucura consciente, um saltar onde há um imenso descaso pela dor da queda, pelo acertar o chão, onde lamento é pelo chão que acerto. Tenho feito desses ultimos dias um esperar langoroso, e tenho me encolhido por fora, me expandido por dentro, nesse cantinho de cidade que me resta onde o Cristo me olha de canto de olho, quase que de costas. Assim tem sido esses dias, um aforismo sem taquicardias, um susto sem sobressaltos.

E ainda tem sido mais.

Na verdade sou eu, desde o Cristo desconfiado até essa via crucis em que eu subo cantarolando músicas alegres, saltitante. Tenho feito um bom cenário pro nosso drama de final (espero!) feliz. Eu só estou cumprindo minha marcação enquanto você se aventura num palco pra ti completamente novo. Enquanto esses ultimos dias vão sendo tecidos como uma contradição, com linhas de cores opostas, com nossos desencontros e contradições expressas em nós fortes, que se encontram e se satisfazem e se sustentam, você me surpreende com essa braveza e essa ousadia sua exposta em cada olhar, em cada confissão e suspiro. Digo que de nossos crimes somos mais que suspeitos, somos réus confessos, cúmplices. E te digo que quanto a mim, em mim, eu mesmo tenho feito as leis e tenho cometido os crimes e tenho me inocentado, e nada tem sido mais prazeroso que isso, e nada desejo mais pra ti que isso em teu próprio tribunal.

É fato que tem sido assim esses meus últimos dias... e eu só  posso mesmo é esperar que esses últimos sejam apenas os primeiros de muitos outros... muitos outros mesmo.


Phelipe Ribeiro Veiga
12 de Novembro de 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

Sobre depois do sexo.



(...)

E foi aí que depois do sexo, acendi uma poesia...
...mas você insistia em tragar a minha esperança...
Se ao menos isso fosse ruim...
...mas não foi. Não, foi.

Phelipe Ribeiro Veiga
05 de Novembro de 2011 - 13:35

domingo, 30 de outubro de 2011

Sobre um golpe de Estado.



Por enquanto é isso mesmo!
É essa invasão minha sem necessidade de coalizão, de peito aberto, arma na mão, de força bruta pra arrancar cada beijo, suspiro e pensamento. Por enquanto eu ando declarando leis marciais no território teu, ando furtando seu tempo em atos institucionais que não te permitem nenhum habeas corpus. Te tomo pra mim por assalto. Mas isso é só por enquanto. Já ouviu falar que por trás de todo opressor há um emissário de amor? Incompreendido e mal aplicado, confesso, mas tenaz, verdadeiro, bruto, rígido, feito nossos corpos em nossas horas de volúpia.

Mas é isso, eu até intento por redemocratizar o nosso amor, mas não agora, enquanto tuas vaidades fazem passeatas! Enquanto te arriscas cair num "Comum-nismo" que vai te estatizar como um todo, te roubar teus louros, te fazer ordináriamente homogeneizado, igual, sem graça, cheio de idealizações e pouco feliz. Eu te devolvo o poder, eu me rendo, ponho armas no chão, devoto a ti fidelidade e servidão, mas só quando eu souber... é verdadeiramente meu o seu coração. 

Mas por enquanto meu amor, nada de revolução, a não ser a minha egoísta, ególatra e intensa invasão. Vou bombardeando o interno de tuas coxas com beijos que trazem a ti uma grande explosão, cada sorriso é um agente infiltrado na tua mente e coração. Estou em guerra meu amor, e objetivo assim nada mais, nada menos que a sua completa e incondicional rendição, já que sem te deixar perceber eu, forte e armado, já me encontro a teus pés em completa servidão. Você se rende? Porque por enquanto é isso mesmo, é mãos ao alto e arma no chão.

Phelipe Ribeiro Veiga
30 de Outubro de 2011 - 17:41

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre o sexo como pré-texto.



A doçura do momento que se segue após nosso sexo é como gota que resiste ao sol vigoroso que vem perseguindo tempestades rápidas. É que chovemos com ventos, uivos, granizos e raios, mas é tudo voraz, veloz, e depois fica esse cheiro de suor e resto de desejo, um calor voluptuoso que vai levando a beleza de nossos urros e sussurros, deixando tudo um pouco sem sentido, meio vazio. Ficamos ali ainda suspirando rapido, tentando reaver o fôlego que despejamos um na boca do outro. Nosso peito é regado, irrigado e é espancado por dentro, galopante.

Abrimos os olhos.

Fomos ao céu de prazer e fulgor e o mundo assustadoramente jaz o mesmo. Os espelhos, os lençois amassados feito nossas almas, de tanto se chorarem nossos corpos, os pêlos nossos, tímidos e eriçados, nossa pele e carne trêmulas e avermelhadas de tapas e apertos de desejo...

É quando nos olhamos...

Nossos olhos são cheios de gratidão, de encontro. Sabemos, sentimos o mesmo desesperador prazer. Sabemos, nos juntamos num dado segundo numa mesma sensação, sendo um a causa do outro, e nossos olhos agradecem. E pra selar, um beijo. O melhor beijo, o apagado mas ainda em brasa, o mais que amante, grato, o mais que ardente, incandescente. Beijamo-nos ainda com profundos suspiros. Fechamos os olhos, e esse é um novo orgasmo, um gozo segundo, um molhar-se sem mergulhar. O beijo depois do sexo é a cereja, é a sobremesa, é a razão do encontro inteiro. Nos separamos, jogando nossos corpos um pra cada lado sem saber, o sexo inteiro fora só um pré-texto pra aquele beijo o suceder.

Phelipe Ribeiro Veiga
28 de Outubro de 2011 - 20:43

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em memória de Mercúcio e Teobaldo.

 Foto: Renata Batata


Entre Julieta e Romeu, Capuleto e Montecchio, me indefino, penso ser Teobaldo ou Mercúcio, inflamado por ofensas ou promessas que foram feitas a outros e se um dia se cumprirem, não seriam pra mim, eu preparo a cama pros amantes, eu envaso o veneno pra Julieta, amolo a faca pra Romeu, mas no fim termino morto por um amor que não é meu, não é pra mim. Sou um ilustre coadjuvante, aquele de quem lembram dos feitos mas se esquecem do nome. Sou um extra ordinário, mas não há paciencia para este papel, querem apenas que eu cumpra a cena, e seguem com os frutos do meu suor e sangue pra um próximo ato que forneça mais aventura ou ação, é que eu acabo por gerar enfado. E é desse pesar que me visto pra escrever essas palavras de melancolia soturna e solitária. 
 Reviso nossos passos, antigos, erodidos já, atrás de alguma pista, alguma receita que me norteie sobre o que fazer pra achar algum conforto denovo em algum lugar, mas não há. Ex-Passos são vazios, serviram num dado tempo, numa dada situação, um segundo depois ou antes não funcionariam então. 
Sigo aflito porque tenho a cabeça marcando uma hora, o peito marcando duas, e como um homem que anda com dois relógios eu jamais saberei a hora certa. E assim a vida vai se dando, irreparável, e injustamente única e sem segundas chances nem mesmo pra Julietas e Romeus, quem somos passa, o que temos fica, dura para outros que também passarão... é... o calor dos peitos apaixonados esfria e passa, bem faz a pedra que fria, dura muito mais. Como culpar quem acha que a herança vale mais que o pai? Vão-se os dedos, ficam os anéis... mas anéis jamais me acariciam... é... que saudade de não saber quem sou. Agora eu sei, eu sou aquele que morre antes da peça acabar.

Phelipe Ribeiro Veiga
21 de Outubro de 2011 - 00:16





domingo, 9 de outubro de 2011

Sobre primaveras e outras estações



Não foi de todo loucura não!
É que a minha chegada de primavera coincidiu com dias muito bonitos, e pensei que combinariam mesmo é com atitudes arriscadas, daquelas que a gente sente orgulho da coragem que teve em cometê-las, mesmo em face dos fracassos e do custo que elas acarretem. Já hoje o dia amanheceu nublado, meio frígido, comparando com os dias anteriores parecia um pós-sexo do qual você só se arrepende depois de tudo. Mas meu ânimo continuou ensolarado, desconexo do humor celeste. 

Mas daí vem essa sua felação volitiva, que por mais que eu entenda... é nada. Não vim atrás de lançar mão de sementes boas em terras secas. Quero terra faminta de bocas abertas, quero flores ainda nessa estação, e não promessas futuras mesmo que seja já pro próximo verão. É que eu não sou jardineiro, sou caçador de belezas, intuo-a, farejo-a, consumo-a, e gozo disso, de se possível for, contemplá-la mesmo que só-mente. 

Não produzimos mais futuros como antigamente, as coisas estão mais caras, a inflação alcançou nossos sonhos e os valores estão se transferindo pra desvalores imensos. A ternura e a gentileza migraram pra estampas de camisetas e não habitam mais em nossos olhares e atitudes. Portanto há pressa, aqueço meu peito na vela frágil sob chuva e vento de uma esperança que teima em não se apagar. 

Eu lamento te desapontar, mas já foi tempo em que tínhamos todo o tempo do mundo, hoje o tempo detêm o mundo todo, e nós somos reféns da terrível e constante possibilidade de sermos felizes de verdade, mas isso é só hoje, ou só amanhã, ou nunca se sabe... talvez seja sempre, talvez nunca seja, talvez já tenha sido. 

O que sei minha doce pétala volátil, é que uma andorinha não faz verão sozinha, muito menos primavera, estações complexas e menos definitivas que invernos e verões. O que sei é que há urgências em florescer, porque o mundo está feio, os continentes são carrancas, e a beleza tem feito falta. O que sei é que haverá flores e eu hei de florescer sem desperdiçar minha estação. E você? Lembre-se, estações passam. Pétalas caem. Plantas morrem. E você? Quanto a você eu não posso saber. Quanto a mim flor-eu-serei, primaveril.


Phelipe Ribeiro Veiga
09 de Outubro de 2011 - 17:49

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sobre o esperar e o des-esperar



Há uma angústia em mim relacionada a essa história toda que não cabe mais ignorar. É que eu sei das verdades todas... eu acho. Mas a dúvida me traz uma luz tênue, resistente, resignada, e essa luz, ela é tudo que me resta. Não há conforto na minha esperança, há angustia até na minha esperança de me livrar da angustia, logo, concluo que sou um angustiado. Logo eu, que berro aos quatro ventos a minha calma e paciencia com todos, faço sol por fora, chovo por dentro. 

Não, não me venha pedir explicações! Eu não sei explicar! Só sei que é tudo tão inapreensível e cansativo e aí é tudo igual, e aí é tudo de novo sem nenhuma novidade. Mas quando aparece alguém, alguma promessa de mudança, um rosto que tenha um brilho engraçado, um sombrear diferente de olhos, um modo esquisito de piscar, de sorrir de canto de boca eu vejo aquela luz desesperadoramente acalentadora. E eu troco de tensão, troco meu vazio pela expectativa de um todo que só faz berrar mais audível meu vazio, e a impossibilidade de preenchê-lo. 

É tudo desespero afinal. 

E você? Você me pede pra esperar quando tudo que eu precisava agora era uma mentira que fizesse um mínimo de sentido, daquelas bem convincentes que fazem a gente achar segunda feira agradável e acreditar nas pessoas e na vida, e nem ia ser difícil haja vista minha imensa (e constante) vontade de ser desmentido em minhas verdades ruins (que ainda assim são verdadeiras). Não é pra resolver meu mundo não, mas é só pra mudar um pouco o tom dessa minha tensão. Mas não. Não posso esperar. Não dá pra esperar. Não sei esperar. A mim só foi dado des-esperar. E só.

Phelipe Ribeiro Veiga
03 de outubro de 2011 - 17:39

domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre Aquilo que nos faz dormir.

Pinturas rupestres em cavernas da Austrália.


O Amor morreu do coração! - Dizia a manchete de jornal naquela manhã fria sacudida por ventos fortes de um céu cinzento. É que a Ternura fugiu da Terra. Não há mais aquele ritmo acalentador que fazia o amor dormir a noite, despertar no dia. Antes sonhava-se nos sonhos, vivia-se na vida. Mas é que hoje está tudo perdido, os sonhos acontecem de dia, e de noite o anseio e o temor da vida são tantos, que se perde o sono. E nosso desassossego é porque sabemos o que é sonho e o que é vida, mas a gente foge das nossas verdades e realidades, mas de noite tudo nos alcansa! Tudo que nos dói, no fundo, sabemos, sempre soubemos, sempre saberemos, e sempre ignoraremos também.
Mas voltando a ele, é que o Amor foi desfigurado pelos aforismos que a falta da Ternura trouxe aos homens! O que antes era um conduzir de olhos, um ansear de mãos sobre peles e pêlos, hoje é desespero, ansiedade, insegurança, desassossego... é posse xingada de paixão. Fomos todos possuídos e já que não nos consumimos ainda, consumimos uns aos outros, trocamos modelos, jogamos fora o que não queremos, atualizamos versões, insistimos em trocar peças que não precisam ser trocadas nos outros e em nós, e isso nos deixa exaustos. E toda noite ao deitar pra dormirmos sentimos Aquilo. Aquele aperto, aquele frio (mesmo em noite de verão). É uma febre invertida, interna, no coração, na alma da gente. É uma vontade de arrancar costelas pra se abraçar mais forte, é um intento desesperadamente silencioso, é um dito não dito, uma fala calada, um nada, uma obrigação de tudo, em resumo, a solidão de si. E aí, nesse caos que organizamos feito uma cama pra gente deitar, adormecemos com o que acreditamos ser cansaço do dia, fechamos os olhos e adormecemos. Mas acredito, fechamos os olhos pra não ver, dormimos pra não sentir nem pensar, e ao acordar atrasados pro trabalho, teremos uma folga da vida da gente até deitar nessa cama outra vez. É, de fato o Amor morreu, e em seu testamento deixou tudo o que tinha e o que era em vida para sua íntima e saudosa Ternura, mas ela não foi encontrada na Terra. Quanto a nós? Adormecemos.

Phelipe Ribeiro Veiga
02/10/2011 - 23:38

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

E o que se aprendeu com os nossos nós.

 Patrick Kitzinger - 05/02/1985 - 23/09/2009


Escrevo pra ti! 
Escrevo pra ti da mesma forma que costumavamos sorrir um pro outro. Espontâneos, leves, porém inevitáveis. 
Nosso amor se arrastava sobre nossas vidas feito uma nascente silenciosa, fazendo burbulhos entre nossos sonhos e defeitos, seguindo promissor montanha abaixo, ficando caudeloso, margeado imensamente, sabiamos, o destino era o imenso mar. 
É sempre um compromisso tão fácil de se cumprir, falar de ti sem pesar, com alegria, levesa, sem deixar a saudade embassar. É que é isso que tua lembrança me traz, é esse dom de certeza que nossa história tinha pra ambos, essa certeza de sinceridade, de entrega, de reciprocidade. 
Esse amor se alastrou em mim e sobrevive em cada amor que eu amar. Hoje, graças a você, sou um amante responsável, consciente do custo de se fazer acontecer uma verdadeira história de amor que não se contente em ser verdadeira, mas que além disso, seja bela. É difícil alinhar esses conceitos com os levianos que tem topado meu caminho, mas não me arrependo não. É com a continuidade do amor que você me ensinou a amar, com a dedicação que você jamais hesitou em me exemplificar e o cuidado que eu espero ainda um dia achar por aí que eu semeio amor em minha vida, um amor mais feliz, com frutos mais saborosos. E tudo por causa de nós. 
Saiba, guardo tua memória nas atitudes mais miúdas, nos sorrisos mais sinceros, nos impetos mais leais de meu coração, e sei, enquanto eu der continuidade ao crescimento de mim que você iniciou, estaremos ambos vivos, descansando sob roseiras, num sol que é sempre primaveril.
Com amor e saudade intermináveis.
Seu mogwai.


Phelipe Ribeiro Veiga
23 de setembro de 2011 - 03:58

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sobre o tédio.



Segue o tempo, seco, árido, erodindo meu rosto, trazendo rugas, depressões, precipícios que você jamais conheceu em mim. Acredita? Já tenho barba, e você jamais verá. Vem chegando a primavera e só o que penso é na rosa que perdi, despetalada, justo na chegada dela mesma, da primavera. Tu te reuniste as flores, rosa prematuramente recolhida, justamente na chegada de tua estação. A violência dos dias e das pessoas levianas que tenho topado, fingindo-se jardineiros pra cuidar de mim, usurpando-me perfumes, pétalas, até espinhos, tem mutilado meu caráter, nublado meus sonhos, desbussolado meu coração. 

Ah meu amor, amor verdadeiro e eterno (porque jaz perdido como todo verdadeiro e eterno amor precisa ser), não ando desesperado não, ando desesperançoso. Ouço o tempo, no silêncio dos segundos que parecem horas, encrespando-me os ossos, enrugando-mea fronte, enrigecendo-me o peito, o coração. É que dói. Mas já dói há tanto que não me incomoda mais. Tudo é silêncio, repetição, esperado, recebido com frigidez, sem aforismos ou exaltações. 

A vida se tornou um carrossel, vai passando por cima de si mesma, com música animada, movimentos repetitivos, sem nenhuma novidade nos cenários. É tudo igual, são todos iguais, nem eu mudo, só envelheço, endureço, amarguro. Que péssimo minha criança sempre criança, eu sou adulto e o mundo, infelizmente, já faz sentido pra mim.
A noite é breve, o dia é mais, e tudo é um suspiro, dois suspiros, e mais nada.
Que saudade.

Phelipe Ribeiro Veiga
21 de Setembro de 2011 - 19:53




"Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou."

Fernando Pessoa (Alvaro Campos)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sobre um dia ruim.



Porque trazer tanto desassossego a minh'alma? Eu pego esse mundo vil e ponho nos ombros em prol de uma tola ideia de honra, honestidade e numa tentativa vã de ser o primeiro homem vivo que quis ser realmente correto, e morrerei com essa angústia no peito, uma coluna curvada e uma missão não cumprida. Que estupidez. Causo a mim tanto peso, tanto sofrimento por ideias, ideais tolos que não vestem, não alimentam, não provém nada além de raros reconhecimentos que não custam mais que uma colher de sopa de saliva. Tolice. Me pergunto quem sou, há uma multidão sem face que habita meu rosto, são expectativas das expectativas de um mundo que existe sem mim, alheio, antes e depois de mim. E dói, pesa, preocupa, enlouquece, e o mundo? Jaz girando despreocupadamente, singelo, nem ligando pra angústia que passo a respeito dele mesmo. Sou um tolo, o mais tolo dos homens, que nasceu, vive, e num dia, com sorte, de chuva, há de morrer e sair do mundo da mesma forma que entrou, sem nome, com fome e lágrimas nos olhos, a diferença entre eu recém nascido e eu previamente morto? Uma imensa coleção de saudades e arrependimentos. Acaso haverá um dia em que não seja necessário que eu acorde pra erguer o sol ardentemente pesado desse meu mundo penoso? Há de haver. Nesse dia dormirei sem horas, mais do que devia, perderei horas, compromissos, os prazos todos, a noite será eterna e sem enquanto, densa como minha angústia, porém silenciosa e branda, feito uma cortina que acaricia o rosto trazida por uma brisa leve. Haverá um abraço. Haverá mais nada. Terei sido, e logo, despreocupadamente, irei girar por aí leve como convinha fazer em vigília e onde jamais fui capaz. Nunca mais serei. No dia em que eu dormir demais e não erguer sol algum, a noite será eternamente.
Enquanto isso.. quanta estupidez!

Phelipe Ribeiro Veiga
15 de setembro de 2011 - 20:17

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Poesia perturbada



Eu tenho um nada a dizer nada em mim, de mim, pra mim. 
Esse nada é tudo, todos, todo lugar, todo mundo, sempre.
Eu tenho um nó, dois nós, solidão, só eu, sem nós.
Eu tenho uma teia nos olhos, um escrespado nos lábios, as mãos nos ouvidos, ouvindo a palma das mãos.
Eu tenho um medo nos passos dos pés, os joelhos ao chão, e o chão na testa.
Eu tenho um sobressalto no peito, cotovelos marcados, sem ponta nos dedos e muitos e muitos medos.
Eu tenho um labirinto pulsando no lado esquerdo, um estomago canibal, uma mente sádica e dessa cena não há saída, dessa sina não tem escapatória, de mim não há descanso. Sou inverso, avesso, contragosto, contramão. Sou situação indefinida, porta entreaberta, problema sem solução. Sou contra a correnteza, contra a corrente, contra certeza, contra mim e contra você, sou uma incógnita, uma pergunta sem som, feita com olhos e mãos, sou uma perturbação de mim mesmo, um pensamento recorrente na minha própria cabeça, um plano falho, uma tentativa frustrada de ser. Sou um perdedor usurpando um pódio de cabeça pra baixo, invertendo os papéis, rasgando os papéis, recusando papéis. Sou tanta coisa sendo nada, que me cansei. Eu me rendo, sejamos todos iguais como querem Deus, deus, deusa e homens. Já não sou voz, sou eco eco eco... e ponto . Ponto . Ponto.


Phelipe Ribeiro Veiga
06 de Setembro de 2011 - 02:28

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sobre abandonar o amor




O coração de um amante adicto é feito pé de bailarina, destroçado pela beleza de sua arte. Quanto mais ela se castiga por seus muitos ensaios e apresentações, mais bela fica sua dança. Ela dança sobre sua coleção de abandonos e abandonados, sobre um mar de rosas (e espinhos) atirados por seu público a seus pés. O amante adicto precisa saber, mais que começar um amor, terminar (que é verdadeiramente, quase sempre, o mais difícil). Abandonar um amor é como parir um filho antes da hora propositalmente, você expulsa ele de dentro de você sabendo que isso significa matá-lo. É feito amputar o membro do corpo que te dava mais prazer e satisfação, mas que se tornou uma fábrica de angústia, e a dor de perdê-lo é menor, melhor, mais gostosa de algum jeito. É cauterizar o coração. E pra isso é preciso odiar, desprezar, é preciso virar a fantasia do avesso, começar o carnaval pelo insosso sabor da quarta de cinzas. É preciso ver o outro pelo lado de dentro (que NUNCA é belo de verdade). Há de se fazer necessária uma dose de mentiras e desilusões, demonstrações de humanidades (vulgo egoísmo e mediocridade de sentimentos). Pra se abandonar o amor não é suficiente vê-lo partir, é preciso cortar-se nos cacos que sobrarem no chão, e dançar descalço sobre eles (nas pontas), sangrar e fazer doer muito e amiúde, até que de tanto excesso sobre nada, não sinta pés, mãos, olhos ou pulsação, resta ali você, tabula rasa pronto pra amar de novo. . Ao lado jaz uma lápide, um aborto vital que agora aduba o seu jardim, nutre sua dança, seus novos amores. No fim o que se vê é uma estupidez enterrada, e na lápide está escrito "Aqui jaz um acidente, o que não deveria ter sido".

Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Agosto de 2011 - 16:09

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sobre a tua mentira




Tua mentira te escorre pelo canto da boca feito um caldo de uma fruta podre que você mordeu às escondidas e agora insiste em negar que o fez, de forma tola você acha que minha tolice é maior que a sua. E aí escorre tua mentira manchando teus dentes, tua pele, tua alma, tua imagem, minha fé. É que me trair desse jeito talvez já estivesse nos seus planos, mas não nos meus. É que trair já estava gravado nos seus passos, mas não nos meus. É que eu lhe dei tanta confiança, apreço e cuidado, e no fim, multiplicou-se tudo pelo nada, sobrando dessa equação simples um monte de coisa nenhuma. Eu plantei, eu reguei, eu expulsei pragas, fui mordido por insetos, podei e colhi, e desses limões com a força das minhas mãos fiz minha limonada, azeda de fazer caretas mas exclusivamente minha, bebo de um gole só.

É que foi tanta coisa, naufragaste feito navio de carregamentos ruins, e agora o que me ronda são destroços que cheiram mal e que só fazem multiplicar, e tu, corajosamente ainda me acusa por tua tragédia, por tua dor, pelo teu vazio que é o que busca dia, noite e madrugada. Vai-te sombra da minha ilusão, elucubração da elucubração. Naufragaste no mar de ilusões que semeastes por conveniência e egoismo em mim. Mar de músicas mentirosas, de um romantismo de engodo, de tua vã mania de achar que tudo te serve, e o que não te serve não presta. Vai-te de vez nascer de verdade, viver de verdade, ou coisa qualquer, mas que seja verdade, porque a cena fechou, a cina se impôs, o carnaval já passou, mas você ainda me quer de palhaço pra si, de cara pintada exigindo-me aplauso de um show que até era seu, mas que já terminou.

Pra quê mentir? Pra quê? Pra quê?
Tua mentira foi o ponto... final.

Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Agosto de 2011 - 00:25

"Quem sabe o príncipe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar...

Eu só peço a Deus um pouco de malandragem

Pois sou criança e não conheço a verdade
Eu sou poeta e não aprendi a amar" (Cazuza)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre calar a boca.




Eu só queria que o silêncio me bastasse! Mas não dá!
As palavras vem e roubam a paz, trazem a dúvida de algumas coisas boas, a certeza de outras ruins, as palavras penhoram a alma.
Eu só queria que o silêncio me bastasse! Mas eu me tornei adicto dessa mania de dizer, mesmo com meus silêncios, e esse bolo na garganta me asfixia, e aí eu escolho calar, eu não falo, mas digo mesmo assim.
QUE DESGRAÇA! EU SÓ QUERIA QUE O SILÊNCIO ME BASTASSE!
Mas não dá! Não há silêncios em mim, eu temi tanto as horas quietas que as expulsei de mim, e agora tudo por dentro é um mar de significantes, ilhas de significados e naufrágios de mal entendidos.
Pra quê dizer? Não muda nada! NADA MUDA! Sabendo que não muda, deveria emudecer. Mas não! E eu digo, e o sol continua sol, a noite continua noite, a injúria e o perjúrio persistem, e o que eu disse é que eu não sei o que quis dizer... perdi! A palavra dita é feito o trem que perde o trilho, descarrilha e já não se sabe de onde veio, pra onde vai, ou se sobreviverá a viagem! No silêncio possuo meu discurso, é meu, só meu, entendo, sei, compreendo. Falei, perdi. Já não sei.
Que diacho!
Eu só queria que o silêncio me bastasse...!
Ahhh cala-te poeta, porque nada rima com o vazio, e tudo jaz dissonante.
Cala-te... que ainda não terminou!
Façamos silêncio ainda que não baste, portanto... cala-te!
Deixa a vida dormir, a palavra descansar, não perturbemos a alma, não afastemos a paz, cala-te que o desassossego se vai... em breve, em silêncio!
Portanto poeta, cala-te perante a vida, e perante os vivos, que calar-se diante de mortos que já não escutam é o que todos fazem, mas tu, cala-te, cala-te, cala-te!
Shiu!
...
...
...


Phelipe Ribeiro Veiga
03 de Agosto de 2011 - 03:24

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

De Laura para Phelipe (Sobre erros, acertos e Alice)

Foto: Laura Barreto


Em comemoração a um dia especial lanço aqui pela primeira vez um texto que não é meu. Surgiu numa conversa no chat do Facebook, de forma bem inusitada com uma amiga que mora longe, mas que é muito especial, e como tudo que é muito saboroso, surge as vezes, em pequenas porções. Mas o engraçado é que a conversa começa e termina como posta abaixo, e ela nem faz ideia de como foi contextual.
Sobre o dia, não comemoro esse dia pela alegria que causou, mas de modo que a tristeza que eu trouxe pra mim há um mês atrás jamais seja esquecida e mais do que tudo, reprisada. E celebrar um aprendizado sem preço, A VIDA SEMPRE SABE MAIS. Um mês sem insensatez.
Phelipe Veiga.

"Sabe de uma coisa?
Quando a gente perde uma batalha e fica perdido, sem rumo, na verdade a gente vai se achando. Porque quando você investe por um lado e apanha aquele lado fecha e restam menos opções, então o caminho aparece! Apanhar não é de todo ruim, é só ir pro lado errado pra encontrar o certo, é meio Alice. Mas você tem que ir lá, beber um treco pra crescer, e comer o treco de encolher pra poder passar na porta certa.
Deu vontade de te falar isso sei lá porque.
Continue seu caminho! Agora você já pode reajustar a bússola, a vida já te disse onde não é!
A vida nos dá a oportunidade de ver face a face nossos piores pesadelos pra gente ver que é forte e voluntariamente nos despedirmos deles.
Beijo, meu anjo, dorme com Deus e sonhe com as estrelas que elas te guiam!"

Laura Barreto
02 de Agosto de 2011 - 00:52

sábado, 30 de julho de 2011

Mapa do amor eterno




Me dá um hidrocor?!
Eu vou riscar uma palavra em mim, escondida, pra que você vasculhe meu corpo. Movido por sua curiosidade, por quereres saber qual a cor, que palavra, qual o som? Curiosidade de me vasculhar, de me virar do avesso, e pra cada lugar em que não achares a palavra, dar-me-ás um beijo de imposto, pedágio ou coisa assim, a cada três palavras, dar-me-ás uma palavra tua, pra ser ela cativa em mim. Essas palavras serão minhas, só usarás comigo, só falarás a mim. Vasculha, investiga, investe sobre mim dentes, palmas, dedos, sombras, suspiros e coisas do tipo, porque há uma palavra em mim... um risco, que arrisco em riscar, um rabisco secreto e escondido e que te arriscas a tentar achar... e de tanto buscares essa palavra desconhecida, se com sorte, jamais achares, assim, e não de outro jeito, e não de outra forma, me amarás para sempre, vasculhando-me...

Phelipe Ribeiro Veiga
30 de Julho de 2011-14:50

domingo, 24 de julho de 2011

Lição de Tecelão



Vejo! Veja! Eu vejo até demais, e mais do que gostaria!
Penso e sinto nas horas vagas, mas vejo... vejo tantas opções e possibilidades,
e por mais que sofrer seja o mais cômodo, comum e tentador,
cresci, teci uma nova roupa, de cores, muito diferente de mortalhas negras,
sempre advertia você de que eu luto, não faço lutos, e por isso aprendi;
Quando você trata a sua vida com carinho, cuidado e apreço...
ela retribui.

Phelipe Ribeiro Veiga
24 de Julho de 2011 - 21:32

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sobre anjos, apóstolos e resiliência (Mais um texto de esperança)




Agora que o anjo levou embora aquele apóstolo com seus discursos mentirosos de apocalipse e fim dos tempos, agora que os dois se foram abismo acima pra novamente despencar (ou não, pouco me importa, o anjo leva o que não quero mais, o que pra mim não foi suficiente), agora que a verdade veio, a saber, o mundo não acaba, o que fica é um salivar por algo que alimente, por uma história que sustente o coração da gente.

E aí aparecem mais e mais sombras de maldade, oportunidades de ser feliz até a meia noite, relâmpagos que iluminam o céu, mas logo se vão.

Arre! Estou farto desses flashes de luz que só fazem uma vã felação da esperança da gente. Estou farto de promessas sem compromisso ou consciência, Estou farto de desperdiçar minha poesia por aí. Estou farto do egoísmo confesso (e do não confesso também) que desrespeita o outro, que usa, que manipula, que trai e que mais do que tudo é desleal. Estou farto de promessas de oasis nesse deserto que é o coração de tanta gente.

O que eu queria mesmo era um abraso, um abraço, era sinceridade, era transparência e CORAGEM de ser, fazer e estar. Mas em tempos de covardia e maldade o que é feito da esperança de gente como eu? Gente que ama uma rosa, gente que se apega a detalhes, que confia, que acredita, e que não tem medo de pagar o ônus das verdades que precisam ser ditas?

Eu respiro, contemplo o mar sem fim e aprendo com a resignação de suas ondas, que maré alta, maré baixa, continuam a bater sem medo de se cansar. Assim é o meu amor. Meu amor pelo amor, por amar. Gratuitamente. As vezes é ali, logo ao lado, olhando pro mar, buscando esperança que um novo amor hei de encontrar... enquanto isso? Hei de me resignar com a resiliencia que é de mim, presente. Hei de me amar enquanto assisto, amante, o ir e vir do mar.

Phelipe Ribeiro Veiga
21 de julho de 2011 - 12:37

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Luíza

OBS: Eu AMO essa sua foto.


Ah Luíza, Luíza, Luíza...

que é o mundo sem o teu gingado, sem esse teu balanço de quadris que embala a rotação de tudo? Se o sol e a lua disputam o céu pra te ver sorrir, que são as estrelas senão penduricalhos no vazio, comparados ao teu olhar? Se és tu, meu colo, meu calor, o ânimo que me deixou no início de tudo nasceu em ti.Tu és força da natureza nada natural, és uma vontade de ser contagiante, és proposital, és atraente, atrativa, és Luíza. Cada movimento seu faz graça, faz sorrir, passaria o dia ali a te contemplar ser, fazer, estar... És única, és somente, és sozinha por falta de espaço pra que qualquer outra coisa ou pessoa seja próximo a ti. És tanto que nem sei o que sobra de mim ali, eu me misturo feito água e óleo. Sou diferente, mas não me acho enfim, somos. É em ti que se realiza meu sonho, em ti que se assombram meus medos (e fogem), de ti que correm desesperados os meus desassossegos, porque diante desse sorriso que abre céu e faz luzir mil sóis, que sombra pode haver? Nem mesmo o assombro do meu ser te resiste mulher.
Te contemplo, te venero, me devoto, e por tanto frio que passei longe de ti, saiba, eu quero estar sem ser, ali, em ti, sem fim, até que não sejamos mais, e as cortinas de teu espetáculo, do qual sou mero figurante, se fechem.

Até lá e além eu te amo, meu momento instantâneo de felicidade.

Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Julho de 2011 - 14:52

Faço disso uma declaração de um amor que só me dei conta do tamanho quanto te abracei de novo depois de tanto tempo. "Quão errados podemos estar?" =]

domingo, 10 de julho de 2011

Sobre o grande amor, sol e sombra








No princípio achei que tinha encontrado o grande amor, depois achei que tinha me enganado, depois conclui que fui enganado, e agora... compreendi finalmente que, mesmo tendo sido usado e enganado isso nada tinha a ver com o grande amor, que está em mim. Cada atitude, cada carinho, cada momento é meu para dar a quem eu quiser. Carrego em mim um mundo de lagartas esperando por um bom jardim para transformarem-se numa nuvem de borboletas, outra vez, e ser feliz, e fazer feliz quem a isso desejar. Julguei você, sombra hipotética e adoecida que precisa de tanto pra ser e de tão pouco pra não ser, meu sol. Que erro. O sol jaz em mim, sempre esteve, bastava acendê-lo.

Ah mas só lastimo por uma coisa, o tempo que te dei. Foi um grande desperdício, uma vã consumação de nada, um exercício de coisa nenhuma, um passatempo seu, um contratempo meu. Porque se é ser infeliz que você queria, se eram doses diárias de insensatez e desassossego, porque diabos não me disse? Eu teria te apagado com a ponta dos dedos molhadas do cuspe da minha sanidade, como o fiz hoje. Ainda fede a fumaça de ti, fagulha, mas logo passa. Jaz passado. Eu? De dentes escancarados abocanho o futuro, com a coragem que tentei te mostrar, mas que você não quis, com a vontade, o desejo e a devoção que disperdicei com você.

Agora não tenho dó, suas mentiras te pesam o peito, o meu amor (que é só meu) me move adiante... agora entendo porque você cantava sobre virar passarinho, nascestes desprovido de asas desde já, já eu alço vôos sem medo de abismos, porque se eu cair, sei, meu amor será maior.



Phelipe Ribeiro Veiga

10 de Julho de 2011 - 12:28




"Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano."

Pedro Bial

domingo, 3 de julho de 2011

Rio abaixo




Vejo
de longe tua quilha
recorte da noite e do dia à beira do mar,
vejo-te descendo Rio, abaixo,
e sobre ti o Céu,
e tua vela maravilha de braços abertos,
vejo as luzes das tuas cabines,
a iluminação das varandas
feito navio, vais, sem sofrer a partida, partes,
feito pavio deixas de ser
Ah rio, pois sei que o Rio do meu riso já não existe mais
desceu, Rio abaixo.

Phelipe Ribeiro Veiga
04 de Maio de 2011 - 23:40

Sobras de um poente


O que sobra de um dia de sol que se fechou chuvoso?
Sobras.
Sobra a lembrança de uma meia alegria, de um possível mergulho (que esperava-se porém não aconteceu), sobra uma carta guardada no armário, um anel de madeira jamais promovido a metal, uma flor estragada numa caixa, outra murcha numa pia, e mais flores murchas no peito, duas paredes a serem apagadas, a minha com os ditos de nossa curta e densa historia, a sua com uma poesia que você musicou, e por falar em musica, dentre tantas coisas sobra uma música que você me negou, sobra a saudade dos sonhos sonhados, só, sobra a estupidez de ter amado só, uma chapinha destinada ao lixo, uma raiva de si, uma saudade... De si, sobra a mágoa de ter recebido a sobra, sobra a lembrança da unica viagem que fizemos, onde os medos não couberam na bagagem(e foi perfeito), sobra a minha vergonha de compartilhar meu fracasso, engano e auto-piedade, sobra o desgosto previsto num sonho na nossa última noite, noite essa sem abraços e muitos incômodo, sobra a sensação, o sentimento, a lembrança, o aprendizado, sobram a partir daqui todas as possibilidades do mundo, e a lição maior que deve ser posta em prática, aprendida da dor de ter sido rejeitado um bom futuro por um mal passado, o passado precisa passar. Mas enquanto não passa... Fico contando as sobras da minha ignorância feito gari que ao chegar na Praia em final de feriado cata os grãos de areia e deixa o lixo lá, é o que sobra, meu peito arranhado por ignorancia minha, seu peito pesado por uma culpa mesquinha... Eu vou, e você, ancorado ficará. É, isso é o que sobra. E seguimos nós, apartados, com suas versoes próprias de sua própria história, razoes e motivos, esperando esse nó(na garganta) se desfazer, o coração se acostumar a andar só de novo, sem beijos nem cafuné, e concluo, que dó, nós restamos.



Phelipe Ribeiro Veiga
03 de julho de 2011 - 05:25

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...