quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Epitáfio de 2010 (O saber equivocado)




Numa casa de espelhos me vi
imagens de mim diferentes de mim
Des-Conheci-me.

Aprendi que há em mim estações quentes e frias, florescimento e frutificação.
Aprendi que tenho em mim desertos e jardins, reinos de trevas e de luz.
Aprendi que sou dono de vida e de morte (em meu coração)
Aprendi que existe guerra e fome, e festa e celebração
tenho conhecido um mundo inteiro dentro de mim.
Tenho me conhecido, me aceitado, me entendido, me confortado...
Aprendi que há em mim alguns lugares que jamais foram explorados
e outros que já foram tão explorados que não cabe mais ser habitado,
e estes deixarão saudades eternas.
Aliás, conheci minhas saudades, meus erros (os quais alguns deles seguirei errando, pois sou o que sou, e mais ainda... o que quero ser)...
Aprendi que saúde e paz não é um desejo, é uma construção.
Aprendi (e tenho aprendido) a importância do sossego,
e tenho convivido em revolta com as vicissitudes do apego.
Aprendi que a morte me assusta sim, principalmente quando é a dos outros que amo,
Aprendi que a perda é o preço de todos os ganhos, como o adeus é o desfecho de todo encontro.
Aprendi que amar é uma coisa que nunca se saberá fazer, aprendemos muito tarde, e o amor não dura tanto assim, não dá tempo. E por falar em tempo, aprendi que o tempo não dá tempo, mas nos dá tantas outras coisas, tantas reviravoltas e idas e vindas...
Sobre o amor, aprendi que nossos corações não tem olhos, eles tateiam o universo a cada pulsar, e as vezes nos esbarramos, e ao contrários de nós, tolos homens, nada no universo intenta o pra sempre, tenho aprendido isso com as folhas que secam, os dias que se põem, os anos que passam, com todo o universo...
E sigo assim aprendendo e reaprendendo, construindo e desconstruíndo tudo isso, achando-me constantemente equivocado sobre todas as coisas...
Aliás, por falar em equívocos, aprendi que não sei absolutamente nada sobre mim,
vivi numa tribo miúda achando que habitava o maior império da terra, mas como meus ancestrais, vieram fatos de além dos mares trazendo consigo sustos e sobressaltos, e muitas novidades, eu estava errado...
errado sobre a unica coisa que certamente sempre estarei errado...
estava errado sobre quem sou.

Até breve.
(Sempre) Com amor...

Phelipe Ribeiro Veiga
30 de Dezembro de 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Reflexões de Fins de Ano




Hoje vejo-me, e mais, me olho nos olhos. Não é que eu não saiba amar, visto que essa é uma daquelas coisas que se aprende fazendo, mas é que eu não sei se quero. Rejeito e resisto ao amor feito um cão resiste a coleira, mesmo desejando ardentemente o passeio, mas por que a coleira? Desejo tanto o afago atrás da orelha quanto rejeito a coleira. Penso na angústia do amor que dá certo. Vivemos a lamentar nossos fracassos amorosos... Mas e se der certo mesmo? Meu Deus! Ser feliz é tão assustador! Saberei ser feliz? E você? Saberia? Penso-me tão jovem pra ser feliz pra sempre, mas quando é que me verei velho? Acaso também não me pensarei velho demais daqui a um tempo? Será que a tentativa não deixou espaço pro sucesso? E minha poesia? Sei fazer a dor rimar com a angústia, saberei rimar alegria com felicidade? Sobreviveria a poesia em mim? Porque não escondo, entre eu e o poeta, escolho facilmente o poeta. E agora José? E agora que a festa não acabou? Que fazer? 14:33



Não há outra maneira. Sou um estranho, feito um sapato para uma espécie de pé que já não nasce mais. O caos do mundo me invade, o passo constante dos ponteiros é o som do caminhar tranquilo da morte vindo em minha direção e já não há saída. Passei vinte três anos e alguns dias nesse mundo e em todo esse tempo não encontrei um lar sequer, não há uma calma que meu coração abrace, uma cama em que meu corpo descanse, um abraço em que minha inquietude se abrande. Concluo assim... Pra mim nesse mundo não há lugar, pra mim não há a possibilidade de par. E aos passos distantes da morte que se tornam cada vez mais audíveis eu vou me tornando cada vez mais esquisito. Sou um estranho cheio de silêncios até para os meus mais íntimos. Que fazer? Desespero-me calma e silenciosamente, e sediciosamente tento me juntar a isso tudo e fazer desse caos algum tipo de paz. Sou... 14:18



PHelipe Ribeiro Veiga

28 de Dezembro de 2010

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...