terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Homens Galinha


Há no mundo um celeiro de orfãos. Lá há uma espécie de homem orfão de pátria, de nação, de família, de futuro e de amores. São seres orfãos por opção, seres incapazes de adequação a qualquer coisa que é porque estão envoltos pelas penas do mundo, pena da vida, dos vivos, dos mortos, dos que amam, dos que odeiam, pena de tudo (até de si mesmos), pois sentem e acreditam que tudo poderia ser muito melhor. Nascidos para chocar, suas almas são rebeldes, fazem barulho e muita sujeira, e estão chocando o mundo todo o tempo, permanecem sentados sobre o globo terrestre como galinhas a chocar ovos, a espera de que um dia ele parta ao meio e surja de dentro algo mais vivo, mais inteiro, autêntico e definitivamente melhor.

Phelipe Ribeiro Veiga

22 de Fevereiro de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ameaças de Afogamento



Quem foi o tolo? Ambos, tu ou eu? O fato se resume brevemente, estais a lançar meu sentimento por você no mar dos seus defeitos muito prematuramente, e como meu sentimento é recém nascido já não sei se sobreviverá, ele está sem ar. A gestação do meu coração é de muitos meses e sempre é de alto risco. E agora que já é nascido, penso em eu mesmo terminar de afogá-lo.
Fato é que meu coração casou-se ainda no ventre de minha mãe com a paixão, mas já faz anos que abandonei essa relação e vivo em adultério apaixonado com a razão, e fato é que pra roubar-me dessa relação razoávelmente apaixonada há de se ter empenho, dedicação e muita compreensão e acima de tudo paciência.
Mas não, nada disso estais a enxergar. Você provocou o oceano manso do meu desejo e agora nega-se a lidar com essas ressacas? Pois bem, se há de sobreviver qualquer recém nascido sentimento no mar de seus defeitos, há de ser lançado a outro mar, encarará as ondas furiosas do meu desejo, e então veremos o que sobreviverá.

Phelipe Ribeiro Veiga
18 de Fevereiro de 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Rosto de Eros


Meu coração cresceu e aprendeu a andar, já não rasteja por ninguém. Meu amor amadureceu e aprendeu a pensar e compreendeu o que não devia ser compreendido. Desvendei o amor, e sem vendas ele vê demais. Já não me perco, fiz feito o feito de Psique, descobri o rosto de Eros, mapeei o labirinto do amor e já não me perco, e tal qual a beleza de Eros e toda a riqueza de sua história com sua amada tudo desapareceu ao descobrir de seu rosto. Ando pelo labirinto do amor (acho eu) conhecendo atalhos e sabendo bem que não há saída, o que cabe é me divertir lá dentro e aí fico pensando, que graça há nisso? Não se perder faz perder toda a graça, afinal pra quê mais serviria um labirinto ou mesmo o amor senão de pretexto para a perdição e a transgreção da razão? Não, mas a minha razão já não é mais transgredida, virou lei obedecida, e isso tá um saco! Rasguei a merda do mapa, mas quando o fiz já o havia decorado por inteiro! Agora só me resta "rimar-ginar"...

Phelipe Ribeiro Veiga
16 de Fevereiro de 2011 - 22:30

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Em Cruz Ilhado


Pois bem, te digo que aquele barulho surdo de chão oco silenciou meu coração. Agora já não passa de um compasso, um conta-tempo, um contra-tempo... um coração.E meu desejo é tudo que resta, desejando desde um morango da feira a beleza da estrela Sirius... quão extenso é meu desejo... Ele vai passeando, se esbarrando, e meu peito segue vácuo onde nem som nem luz se propagam... ele suga tudo ao seu redor e cospe em algum lugar onde ainda serei ou fui. Eu fico sentindo essa dissonancia entre o que inspiro e o que me inspira... o que respiro e o que me respira... e quem pira sou eu!
Quer saber? Não sei! Pronto.
Só me resta confessar asism minha condição...
Em cruz ilhado.

Phelipe Ribeiro Veiga
15 de Fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Carta de Proclamação da Des-Ordem (Pré-Texto)




Estou Farto e minha revolta não tem mais tamanho! Eu ando pela rua com raiva do mundo! Esta barcaça é uma bagunça! Como pode? Nada nesse mundo é organizado. O dia e a noite vem e vão quando bem entende, um dia mais cedo, no outro mais tarde (e sem contar essa palhaçada de solstício de verão), porque não chegam na hora certa? Queria ver se tivessem que bater ponto! As nuvens se esbarram, são todas disformes, vai cada uma pra onde bem entende... e ninguém as ordena, as arruma, as orienta ou se preocupa em fazê-lo. Uma bagunça!!! Até o círculo do planeta é oval e não perfeito, a órbita? Elíptica, o que pra mim é um nome bonito pra uma tentativa fracassada de fazer uma circunferencia! Os continentes não seguem padrão algum, e os animais, as florestas? É UMA BAGUNÇA SEM TAMANHO! As arvores saem por aí crescendo sem se preocupar por onde, jogam suas folhas aonde bem entendem, e os animais comem e se comem e se espalham contruindo e destruindo como bem comanda seu desordenado instindo... e ninguém reclama a organização disso tudo...

Já do meu coração, das minhas decisões todo mundo quer reclamar, do que sinto, de como sinto todo mundo quer falar... e eu fico pensando que se vivo nessa desordem que chamam de "imagem da perfeição de deus" e "natureza" e me acham desorganizado, irresponsável, dizem que não sou pontual e que sou inconstante... será que não estou sendo... NATURAL?!

Eis um convite...

Desaperte sua gravata, deixe-se ser homem... eu por minha vez jogarei a minha fora... serei mais que homem... serei humano, abraçarei a desordem da qual faço parte e deixarei fluir o que há de imperfeito dentro de mim... o que realmente sou.


Phelipe Ribeiro Veiga
08 de Fevereiro de 2011

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

"Eloucubrações"




Em algum lugar nos últimos anos eu me desencontrei de mim. Não me acho. O tempo todo penso na idéia de quem eu deveria ser como se houvesse maneira de ser diferente do que realmente sou. Verdade é que há uma parte de mim que ainda sonha (de vez em quando), e é por estar constantemente a sonhar que estou mais do que convencido que encontra-se em profundo sono. O resto é realidade cortante. Meu desejo é uma sangria verdadeira, dói. Mas por alguma estupidez inexplicável ou senso de cuidado nada saudável eu subo em um palco montado as pressas e uso minha dor verdadeira pra entreter os meus amados como se fosse pura atuação. Fato que metade de mim dorme e a outra metade sangra, e isso já não se sustenta. Há um sei lá o quê com os dias contados, estou com medo... em breve serei Eu.

Phelipe Ribeiro Veiga
04 de Fevereiro de 2011 - 22:54

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Vigilante Ignorado (Devaneios)




Hoje não houve no céu uma estrela sequer que não me ignorasse. Elas ficaram lá, piscando como que ameaçando apagar. Atemorizo-me só de pe(n)sar...
A lua? Esta nem no céu estava tentando evitar olhar na minha cara erodida pela vida. Foi-se. O sol está por aí dando atenção a outros amores... e eu aqui abestado olhando pro céu vigiando pras estrelas não apagarem. Tolo. Estou contido na vida tal qual um furacão está contido nos céus, que existe despreocupadamente, afastado de qualquer sentimentalidade, ignorando-me por completo. A vida fez pouco de mim, e eu tenho tentado me fazer mais um pouco na vida... e a vida? Ela fez pouco de mim. Ela vai sem mim, ela me deixa pra trás, ela não me liga e nem questão de minha presença ela faz. Ela me ignora. E eu? Eu se pudesse também ignoraria-me a mim, e um dia hei de fazê-lo. Mas por enquanto não, por enquanto não dá... preciso vigiar as estrelas... e espero que uma vez na vida ainda evite alguma delas de se apagar.

Phelipe Ribeiro Veiga
01 de Fevereiro de 2011 - 22:07

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...