terça-feira, 26 de maio de 2015

Há um mais-além. 
Onde um todo se concretiza, 
onde encontros são possíveis,
se goza junto sem demarcar o momento nem retardar prazeres. 
Há Silêncio suficiente pra dizer todas as coisas, 
onde posso ser leve como me pedem frequentemente pra ser - do que me acho frequentemente incapaz -, 
onde meu discurso não tropeça. 
Lá as palavras teriam o sólido sabor da especificidade das coisas ditas reais, 
de tal modo que seria preciso mastigar e engolir antes de dar-lhes a luz em som e sentido- isso tudo sem contração, sem dilatar os significados nem fazer sangrar significantes. 
Saberia assim o gosto dos meus nomes favoritos sem associar nem dissociar.
Lá uma árvore seria pra sempre uma árvore, sem nenhuma genealogia.
Lá o Desejo trabalharia a favor, 
feito um rio correndo na direção do imenso mar das intenções que concebi para mim.
Nesse rio a razão não se comportaria como esse peixe esbaforido nadando contra a correnteza na esperança de dobrar o leito e redirecionar os afluentes todos. 
Seria uma orquestra sem fugas, 
uma sonata sem esses desafinados infiltrados como os tenho hoje, 
sempre os tive, sempre os terei. 
Seria uníssono. 
Haveria concordância - mais do que verbal. 
Lá haveria sol sem sombras, 
conforto sem o peso moral do conformismo.
Seria possível, e até provável, 
a beleza individual das coisas que são sem iguais.
Lá o que se escuta é o que se diz, 
o que se entende é o que se quis dizer, 
sou de fato quem penso ser.
Há um mais-além. 
Antes dele, o Abismo.

12 de setembro de 2015
Phelipe Veiga

domingo, 17 de maio de 2015

A língua que é beijo, que é lambuza, que é linguagem. A língua que separa, que confunde, que limita e que se encontra em laço no desejo de se enlaçar os corpos todos. O laço que é de fita, de embrulho, presente. O laço que é de forca, de cilada, passado. O laço é sempre surpresa. Qual meu marco, meu traço, meu risco, meu limite? Do que digo quando finjo dizer o que queria ter dito? Os significados todos não tem significado algum. O desencontro é o maestro, um Bach "fora-de-si", seguimos todos numa fuga sem fim. Não há.
 

terça-feira, 5 de maio de 2015

Sem título

Há nesses instantes de dissabor uma fome, vontade química, apetecimento sensorial, apetite de gente. Vontade de comer e ser comido, de mastigar e ser mastigado mas sem engolir ninguém. Vontade de sentido. Falta desse consumir-se sem verbo nem palavra, nessa execução sumária do desejo. Estranho contato com a realidade das coisas que chamam gente e a que chamo eu mesmo, no instante onde sou menos do que necessito de mim satisfaria me desgastar de todo. Feito folha já seca, incendiar-me. Fora disso, tudo segue sem significado. A Vida é impossível de verbalizar.

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...