terça-feira, 27 de setembro de 2022

Sobre os custos d'existência.




Olho em frente um calendário estranho. 

Escolho estações: 

ao meu redor um outono no qual a estação passada, que não me pertenceu e eu não suportei viver, bota fora os seus restos. Me sinto cercado do que sobra de uma festa para a qual meu convite foi revogado. Me sobrou o convite a retirar-me em silêncio e bem no comecinho, com volta dificultada e sem possibilidade de real presença. Cancelaram a festa pra mim restando-me apenas seus restos. 

Noto, como alternativa à viver essa sobra de verões alheios, perseguir o que floresce, a primavera e os tempos quentes de onde posso ser e estar. 
Onde me cerco da insubordinação de minha terra, de suas raízes que não respeitam calçadas e de sua natureza petulante que brota do meio do que é concreto e do que não é, com rochedo, selva, mar e inundação. 
Lá onde sons e ruídos se dão as mãos e fazem da decomposição da vida composição. Faço parte dessa gente que hesita em adormecer, seja por cautela ou por lazer ou por não saber diferenciar o fato de ter feito da vigília uma festa. 
Talvez daí venha o fato de o silêncio sepulcral desse outono alheio me sufocar e a coerência de minha escolha pelos sons de uma casa cheia.

Concluo não sem dor:
a desistência, por vezes, é o preço d'existência.
E é a existência a possibilidade d'esta ação.
 
Irvine, 27 de setembro de 2022. 
Phelipe Ribeiro Veiga

"A vida na hora.
Cena sem ensaio.
Corpo sem medida.
Cabeça sem reflexão.
(...) o que quer que eu faça, vai se transformar para sempre naquilo que fiz." - Wislawa Szymborska 

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...