quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Aço e Carne.




O que pode ser mais duro que o aço? Mais frio, rígido e impiedoso? O que pode a carne contra o aço?!
A carne, tadinha! Tão fraquinha, mais fraquinha que a mais fraquinhas das coisas! 
A carne, irrigada, mole, que rasga, fura, sangra, tritura, parte, quebra e dói. O aço, que dia após dia a corta, e a penetra invasivo roubando-lhe a integridade e a vitalidade, laminado, não sente nada. A carne perece, envelhece, se vai em minutos diante da eternidade de dias que vive o aço. O aço sobrevive eras e mais eras. A carne, tadinha, não suporta quase nada! Não aguenta o frio glacial, o calor vulcânico, a pressão abissal ou espacial. Tudo lhe fere, tudo lhe faz mal! O aço, mesmo reduzido a partículas, unir-se-ia sem dó, sem dor. O aço parte a carne, o osso, a ideia, o sentimento e o pensamento, todos os dias. O aço tritura existências inteiras! O aço destrói sem melindres, sem lágrimas nos olhos. Aliás, sem olhos sequer. O aço prospera! O aço vence! 

Pobre carne!

Phelipe Ribeiro Veiga
19 de setembro de 2013 - 12:27

"Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro." Sigmund Freud


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Homo-Sapiens Periculosus




Descrição - Homo-Sapiens Periculosus;
Bicho perigoso é Gente! Desde um sorriso até a roupa que usam (ou deixam de usar) esconde o que são! Camuflagens, mimetismos, metamorfoses! Bicho arisco! Tudo lhe é possível! Bicho gente voa, canta, anda, rasteja, morde, envenena, fura, faz barulhos, faz silêncios, faz carinho, dá prazer, faz doer. Vive sozinho ou em bando, e o que vive em bando pode amanhã querer viver sozinho, e aí o bando deixa de ser. Bicho imprevisível! Pode comer a própria cria no café da manhã! Pode matar o parceiro depois do acasalamento! Pode matar a si mesmo! Bicho selvagem! Migra à revelia das estações, ignora os avisos da natureza, só faz bem o que quer! Bicho egoísta! Diante do felino nos preservamos das garras e dos dentes, diante do réptil subimos em lugares altos, diante da ave de rapina, escondemo-nos embaixo da terra, mas aonde poderemos nos esconder dessa peçonha?

E ainda piora! Esse bicho procria em larga escala, adapta-se a todos os ecossistemas, está por toda parte! Por isso que eu tremo de medo desse bicho, dessa peste que são as gentes desse mundo. Esses bichos tem prazer em arranhar a tela carinhosamente pintada dos dias, não se importam, ou então só se importam e nos atropelam com o que lhes é tão importante (que não a gente que a gente é). A Vida segue perigosa e doída porque esse bicho a tem feito ser assim. 

Pesa-me a imagem do mundo vasto, silencioso e pleno sem esse Bicho...  solucionado!
Enquanto isso... ai de mim, que medo desse bicho gente!

Phelipe Ribeiro Veiga
16 de setembro de 2013 - 18:23

"São demais os perigos dessa vida. Para quem tem paixão, principalmente" VM

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Verdade.

 
 
O abandono assiste aos vivos à espreita. Esconde-se dentro das gavetas, pende nas teias de aranha nos cantos das paredes, faz rabiscos, bilhetes antigos, fotos secretas, correspondências com remetente nada e destinatário ninguém. Os sonhos jazem adormecidos em um sono leve e assombrado, e debaixo da cama todos os medos do mundo. Há ranger de portas, há rugir de feras, e quando olhamos não há nada. Uivos se ouvem ao longe. Ninguém sabe de nada. As opiniões são cigarros acesos queimando ao relento, breve serão cinza, breve não serão mais. As horas são revisitadas todos os dias, mas não são nunca as mesmas, porque tudo está perdido, tudo passou e virou outra coisa que virou outra coisa que vai virar uma outra. Não há controle. Achamos um pé dos sapatos, o outro jamais encontraremos. Também está perdido. Achou-se a verdade: é tudo coisa nenhuma.
 
O abandono assiste ao vivo e à espreita...
 
Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Setembro de 2013 - 13:44
 
"Resta (...) essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens"  - Vinicius de Moraes

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...