quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Verdade.

 
 
O abandono assiste aos vivos à espreita. Esconde-se dentro das gavetas, pende nas teias de aranha nos cantos das paredes, faz rabiscos, bilhetes antigos, fotos secretas, correspondências com remetente nada e destinatário ninguém. Os sonhos jazem adormecidos em um sono leve e assombrado, e debaixo da cama todos os medos do mundo. Há ranger de portas, há rugir de feras, e quando olhamos não há nada. Uivos se ouvem ao longe. Ninguém sabe de nada. As opiniões são cigarros acesos queimando ao relento, breve serão cinza, breve não serão mais. As horas são revisitadas todos os dias, mas não são nunca as mesmas, porque tudo está perdido, tudo passou e virou outra coisa que virou outra coisa que vai virar uma outra. Não há controle. Achamos um pé dos sapatos, o outro jamais encontraremos. Também está perdido. Achou-se a verdade: é tudo coisa nenhuma.
 
O abandono assiste ao vivo e à espreita...
 
Phelipe Ribeiro Veiga
11 de Setembro de 2013 - 13:44
 
"Resta (...) essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens"  - Vinicius de Moraes

Nenhum comentário:

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...