terça-feira, 31 de maio de 2011

O Sabor da Fruta Mordida




Tantas pessoas se apaixonam, e depois sofrem pelo revés disso, mas raramente refletem sobre. As pessoas costumam dizer que amar não é uma escolha, que acontece. Mas eu vos desafio a olhar o espelho a frio, sem fortes consternações, de forma razoável. Você verá, há uma escolha, uma das mais difíceis, mas há. Há um momento de escolha, é como pular de um penhasco, nos segundos que precedem o salto você tem sim a escolha. O problema é que as pessoas confundem a inércia da queda livre com a escolha do salto. Uma vez caindo, de duas uma, ou o chão, ou os braços de alguém estarão a sua espera lá em baixo, mas antes de você ser apanhado pelo vazio, abraçado pela gravidade, você escolheu.
Desilusões, dores, sofrimentos. Tema de livros, filmes, novelas, e faz tanto sucesso. Temos uma relação doentia com a tristeza. É nosso adultério real, casamos nossos sonhos com a felicidade, mas é com a tristeza que gozamos. E depois, reclamamos.
Eu por outro lado busco um colo sem penhasco, um abraço sem abismo (a não ser o das palavras, do qual não abro mão), busco a sensação de apreço e cuidado, busco "o sabor da fruta mordida".
Ouvi certa vez que o amor nos beija e nos morde, e isso pra mim é fatídico. Se o bem que fazes ao ser amado te faz mal, te custa saúde, bem estar, há algo aí que precisa ser melhorado (ou abandonado). O bem do amor bom é reflexo.
Bom é perder o sono no amor por anseios de abraços e beijos, e não por desassossegos e inseguranças, bom é sonhar e não ter pesadelos, bom é querer perto, e não prender o ser amado, bom é ver sorrir e só fazer chorar de alegria, bom é compartilhar segredos e sonhos (e até pecados) e não lamúrias e incertezas. Todos que amamos sabemos que assim como o céu, os amores tem seus dias cinzentos, mas que assim como dias frios, que sirvam eles de desculpa pra se embrulhar juntos debaixo de um cobertor, e não razão de afastamentos grandes. Bom é amar bem, só assim o amor vale o risco e a escolha do salto. O resto é desassossego, é falta de ensejo, sofrer sem razão.
Pensemos nisso... antes de escolher.

Phelipe Ribeiro Veiga
31 de Maio de 2011 - 13:13

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Rimas de três tempos



Havia extrema inveja

Por isso o passado se escondeu
Isso ele certamente nega
Mas sabe-se que foi o que sucedeu

Ele planejou tudo com cuidado
E apareceu num dia feliz
Encontrou o futuro despreparado
E fez deste aquilo que bem quis

Usou lembranças, souvenir de dores
E trouxe de volta mágoas antigas
Desbotou daquela noite todas as cores
E reavivou findadas brigas

Fez-se o que queria o passado
E tudo jaz por um triz
O futuro está acamado
E ninguém anda muito feliz

Há uma luz ao lado do seu travesseiro
A única que o passado deixou
Ela salva o futuro do desespero
A esperança é só o que sobrou

A cura pra essa dor é uma só
É um presente bem vivido
Evitando que o futuro vire pó
E fazendo o passado esquecido

Enquanto decisões não são tomadas
E não se age com coragem...

O futuro jaz por um triz
Os sonhos lamentam por seu despejo
O passado descansa feliz
Fazendo do presente nada mais que seu tolo gracejo.

Phelipe Ribeiro Veiga
27 de Maio de 2011 - 21:01

Baseado na citação:
Se esses ontens fossem devorar os nossos belos amanhãs?
Paul Verlaine

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um texto otimista.




Vou saindo da casca. Pouco a pouco vou descobrindo meu espelho, tirando aquele manto de medos e incertezas que o cobria. Estou revelando-me a mim mesmo, e aceitando meus pontos fracos, meus receios e meus anseios. Minhas monstruosidades e minhas ações mais puras também. Pouco a pouco venho sendo. Como um sol que leva muito tempo pra se levantar vou nascendo no horizonte preguiçoso, cauteloso. Sou humano, as vezes fraco, as vezes invejoso, as vezes inseguro, as vezes covarde, mas sempre capaz de ao menos uma vez por dia contradizer tudo isso, porque é isso que somos, belas rosas com terríveis espinhos. E vai me soando mais e mais idiota pensar em ser diferente do que vou sendo com o passar dos anos. Vai me parecendo estúpido qualquer tentativa de não ser. Afinal, não ser seria... não ser, não? Fato que venho nascendo, ascendendo em mim mais verdades, maiores sinceridades e uma intensa autenticidade, comigo e com os outros, e vai se reduzindo meu número de amigos por isso. Arre, pergunto-me, haverá o amor de um amigo sequer ao fim desse processo sem fim? Será que ao menos minha mãe me amará? haverá lugar no mundo que não me odeiem ou não fujam de mim? Lugar onde isso valha ao menos um abraço?
...
Deve haver... sim... há de haver,
e se não houver, creio, verei este lugar nascer...
dentro de mim...
Pois uma vez nascido esse sol em mim, independente da estação
fabricarei em minh'alma meu próprio verão.

Com carinho,
Phelipe. (Ribeiro Veiga)
26 de Maio de 2011 - 22:23

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"Esperanseios"




Amanheceu!
Senti gosto de antes de ontem na boca, o travesseiro cheirava a semana passada e o lençol trazia amassados de meses, e o estranho é que a roupa de cama era recente, mas havia algo de antigo ali. A "novaidade" pesava já nos seus primeiros passos, mas pesava com peso de anos, com a medida de velhas idades. A aquiecencia de meu espírito àquela situação me espantava. Então agi, deitei-me sobre minha própria sombra, e nela procurei me abrigar, me aquecer e aquecê-la, e escondê-la daquele sol insípido, velho, enrugado que se erguia no céu. Sabia que tanto eu quanto ela aguardavamos o nascimento de uma manhã mais nova, mais sorridente, de uma estação mais quente, onde há mais flores e menos folhas secas. Deitei-me não para voltar a dormir, mas para me aquecer, e aquecê-la, e esperarmos juntos na nossa esperança, na esperança da não jornada, na esperança de que talvez, com boa sorte, não seja necessário se mover (a não ser por dentro), mas se aquietar, se acalentar, e esperar ali mesmo os raios desse sol novo. Eu e ela conversamos, falamos dos nossos medos, porque toda estação traz uma consequencia ou duas, e como tudo, um encargo, um custo, um ônus. Acalmei a ela, disse pra que ela se aquietasse dessas ansiedades e curtisse nosso encontro. Teríamos um ao outro nesse inverno, compostos como palavras de um verso reticente a espera não de um ponto final, mas de uma exclamação, já que esta traz muito mais emoção e combina muito mais com uma boa estação. Aquietamo-nos amigavelmete, langorosamente, oferecendo um ao outro tudo o que falta nessa estação fria, com corações aquecidos, numa atitude aparentemente ociosa, porém explodindo por dentro, mudando, se tranformando e se aproximando de ser quem somos, trabalhando arduamente pra estarmos prontos, já que bem sabemos do que é certo, a primavera virá!


Phelipe Ribeiro Veiga

23 de Maio de 2011 - 11:18

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Carta em dia de Chuva




Hoje amanheceu chuvoso. Dia cinza, céu entristecido, encrespado, nada combinando com nosso amor. Daí eu não podia simplesmente me render a essa sensação de sombra, haja vista que já tinhas nascido em mim com tanta luz. Eis o que fiz, dobrei o céu pelas pontas, fiz um imenso envelope azul e postei o sol pra você. Deve estar chegando aí logo logo. A senha pra abrir o envelope é um belo sorriso seu, ele segue selado com um beijo meu, enfim, sei que ao olhar pro céu você irá reconhecer a nossa "caligrafia". Tantos casais se presenteiam com estrelas, você não mereceria outra senão a mais brilhante de todas. Espero que goste.


Com carinho


Phelipe Ribeiro Veiga

16 de Maio de 2011 - 13:14

terça-feira, 10 de maio de 2011

Da cor que veio contigo




O céu ficou escuro, amedrontador, eu estava ali nú porque já não havia olhos diante dos quais eu me importasse o suficiente para me cobrir. Eu era aquilo que era. Aceito. Alocado.
E quando começou a chover? Não havia em mim nenhum apreço pelo calor do corpo, experimentei o frio com extrema gratidão, pois era o que a vida me dava, adaptei-me. Sentia gota por gota a ponto de conversar com cada uma delas e dar-lhes nomes e apelidos, diferenciando-as, e ao mesmo tempo sentindo-as todas iguais. Era um instante (aparentemente) eterno.

Foi quando do Leste um clarear me atraiu a atenção, parei de contar gotas e admirei. Ias nascendo por detrás de montes, trazendo ainda (naquele momento) mais sombra que luz, ias me banhando de luz, e quando brilhaste finalmente por sobre tudo o que te ofuscava aqueceste-me, molhado, nú defronte teus olhos. Teu olhar é que verdadeiramente me despiu, pois estava vestido de sombra, e havia em mim relevos que eu já havia esquecido.

E então riscou no céu um raio de cor...

Compreendi. Era um encontro necessário, o frio e o calor do seu olhar brilhante, ofuscante a me descortinar o olhar. Era um encontro preciso tua luz e o refletir do meu corpo a pingar de chuva. Era um encontro encantador, a redescoberta de mim, o nascimento de ti, o peito meu, o abraço teu, o arco-íris nosso.

Phelipe Ribeiro Veiga
10 de Maio de 2011 - 21:29



Ps: Anteriormente... http://poetinhavagabundo.blogspot.com/2008/11/da-chuva-que-veio-contigo-30-de.html

sábado, 7 de maio de 2011

Deixa!! (Riscos)



Deixa estar,
deixa estar essa tensão
essa atenção, deixa pulsar, deixa crescer
deixa tomar conta de tudo, deixa ser...
deixa! Deixa ir, deixa vir, deixa ir e voltar
deixa dançar, deixa a vida ser vida e a roleta girar
deixa a criança crescer, o filho partir, a mãe adormecer e o avô cuspir
deixa, deixa a vida ser vida e a roleta girar
deixa tocar o celular, deixa sofrer, deixa doer
deixa esquecer, deixa passar
deixa recomeçar...
mas deixa!
deixa a vida ser vida e a roleta girar!
porque no fim nada depende mesmo da gente deixar...
então deixa isso tudo pra lá, deixa!
deixa a vida ser vida e a rol... (BANG!!!)


Phelipe Ribeiro Veiga
07 de Maio de 2011 - 01:21

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quero-te




Quero ser pétala protegendo-te, botão,

ser brasa em seu inverno,

ser brisa fresca em seu verão.


Quero dar-te frutos fora da estação
e trazer-te o direito de voar
quero te acariciar alma e coração
e quero que sintas isso só em te olhar.

Quero-te ao meu lado sempiterno,
fazendo contente todos os seus dias,
e com um cuidado mais que fraterno
tornar suas dores todas alegrias.


Quero ser pra ti um cais, um porto ou coisa assim
quero-te junto ao meu abraço feito composição que não tem fim.


Quero-te com urgencias,
compromissadamente.
Quero-te com (in)decências
confessando em suspiros tudo que o corpo sente.

Quero-te assim o homem mais feliz,

distribuindo sorrisos a quem quer que te mirar

Quero sempre de pé a tua cerviz

por saberes bem que pro meu abraço, ao fim de cada dia cansado poderás voltar.

Quero-te assim e mais até

e fracasso na tentativa vã de tudo isso expressar

porém, quero-te com tanta doçura e devoção
que te digo,
jamais desisti
rei de tentar.

Portanto...
Imensurávelmente...
Indefinidamente...
te quero...

Phelipe Ribeiro Veiga

02 de Maio de 2011 - 16:54

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...