sábado, 12 de novembro de 2011

Sobre esses últimos primeiros dias.



É confuso contemplar com tanta paixão essa paisagem tão nublada. E é assim que tem sido. Um esperar lento mas usufruido como uma delícia rara cada ansiedade e angústia, como quem goza a contemplação de um quadro torto na parede sentado na sala tragando um bom vinho. Tenho feito desses ultimos dias uma loucura consciente, um saltar onde há um imenso descaso pela dor da queda, pelo acertar o chão, onde lamento é pelo chão que acerto. Tenho feito desses ultimos dias um esperar langoroso, e tenho me encolhido por fora, me expandido por dentro, nesse cantinho de cidade que me resta onde o Cristo me olha de canto de olho, quase que de costas. Assim tem sido esses dias, um aforismo sem taquicardias, um susto sem sobressaltos.

E ainda tem sido mais.

Na verdade sou eu, desde o Cristo desconfiado até essa via crucis em que eu subo cantarolando músicas alegres, saltitante. Tenho feito um bom cenário pro nosso drama de final (espero!) feliz. Eu só estou cumprindo minha marcação enquanto você se aventura num palco pra ti completamente novo. Enquanto esses ultimos dias vão sendo tecidos como uma contradição, com linhas de cores opostas, com nossos desencontros e contradições expressas em nós fortes, que se encontram e se satisfazem e se sustentam, você me surpreende com essa braveza e essa ousadia sua exposta em cada olhar, em cada confissão e suspiro. Digo que de nossos crimes somos mais que suspeitos, somos réus confessos, cúmplices. E te digo que quanto a mim, em mim, eu mesmo tenho feito as leis e tenho cometido os crimes e tenho me inocentado, e nada tem sido mais prazeroso que isso, e nada desejo mais pra ti que isso em teu próprio tribunal.

É fato que tem sido assim esses meus últimos dias... e eu só  posso mesmo é esperar que esses últimos sejam apenas os primeiros de muitos outros... muitos outros mesmo.


Phelipe Ribeiro Veiga
12 de Novembro de 2011

2 comentários:

Unknown disse...

Acho que você jamais vai imaginar o prazer que tenho ao te ler, mesmo sem deixar vestígios de que estive por aqui, por pura contemplação do seu mágico olhar sobre o mundo – um vício quase tímido pelas suas palavras ou qualquer coisa próxima a alguém que se aproxima do fogo em um momento que precisa de calor. Fã teu!!! Abraço meu caro!!

Ingrid disse...

sempre muitos dias de versar nossa vontade..
e te ler..
beijos Phelipe..

(...)

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