domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre Aquilo que nos faz dormir.

Pinturas rupestres em cavernas da Austrália.


O Amor morreu do coração! - Dizia a manchete de jornal naquela manhã fria sacudida por ventos fortes de um céu cinzento. É que a Ternura fugiu da Terra. Não há mais aquele ritmo acalentador que fazia o amor dormir a noite, despertar no dia. Antes sonhava-se nos sonhos, vivia-se na vida. Mas é que hoje está tudo perdido, os sonhos acontecem de dia, e de noite o anseio e o temor da vida são tantos, que se perde o sono. E nosso desassossego é porque sabemos o que é sonho e o que é vida, mas a gente foge das nossas verdades e realidades, mas de noite tudo nos alcansa! Tudo que nos dói, no fundo, sabemos, sempre soubemos, sempre saberemos, e sempre ignoraremos também.
Mas voltando a ele, é que o Amor foi desfigurado pelos aforismos que a falta da Ternura trouxe aos homens! O que antes era um conduzir de olhos, um ansear de mãos sobre peles e pêlos, hoje é desespero, ansiedade, insegurança, desassossego... é posse xingada de paixão. Fomos todos possuídos e já que não nos consumimos ainda, consumimos uns aos outros, trocamos modelos, jogamos fora o que não queremos, atualizamos versões, insistimos em trocar peças que não precisam ser trocadas nos outros e em nós, e isso nos deixa exaustos. E toda noite ao deitar pra dormirmos sentimos Aquilo. Aquele aperto, aquele frio (mesmo em noite de verão). É uma febre invertida, interna, no coração, na alma da gente. É uma vontade de arrancar costelas pra se abraçar mais forte, é um intento desesperadamente silencioso, é um dito não dito, uma fala calada, um nada, uma obrigação de tudo, em resumo, a solidão de si. E aí, nesse caos que organizamos feito uma cama pra gente deitar, adormecemos com o que acreditamos ser cansaço do dia, fechamos os olhos e adormecemos. Mas acredito, fechamos os olhos pra não ver, dormimos pra não sentir nem pensar, e ao acordar atrasados pro trabalho, teremos uma folga da vida da gente até deitar nessa cama outra vez. É, de fato o Amor morreu, e em seu testamento deixou tudo o que tinha e o que era em vida para sua íntima e saudosa Ternura, mas ela não foi encontrada na Terra. Quanto a nós? Adormecemos.

Phelipe Ribeiro Veiga
02/10/2011 - 23:38

Um comentário:

k2L disse...

A Ternura, em toda sua pureza e inocência, estava brincando de esconde-esconde. Só que como o Amor estava cego, não conseguiu achá-la, e morreu achando que ela fugiu! E ela ainda está lá, escondidinha em um cantinho qualquer, entediada por ninguém achá-la, e na espera de alguém chegar e dizer "achei!".

(...)

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