quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em memória de Mercúcio e Teobaldo.

 Foto: Renata Batata


Entre Julieta e Romeu, Capuleto e Montecchio, me indefino, penso ser Teobaldo ou Mercúcio, inflamado por ofensas ou promessas que foram feitas a outros e se um dia se cumprirem, não seriam pra mim, eu preparo a cama pros amantes, eu envaso o veneno pra Julieta, amolo a faca pra Romeu, mas no fim termino morto por um amor que não é meu, não é pra mim. Sou um ilustre coadjuvante, aquele de quem lembram dos feitos mas se esquecem do nome. Sou um extra ordinário, mas não há paciencia para este papel, querem apenas que eu cumpra a cena, e seguem com os frutos do meu suor e sangue pra um próximo ato que forneça mais aventura ou ação, é que eu acabo por gerar enfado. E é desse pesar que me visto pra escrever essas palavras de melancolia soturna e solitária. 
 Reviso nossos passos, antigos, erodidos já, atrás de alguma pista, alguma receita que me norteie sobre o que fazer pra achar algum conforto denovo em algum lugar, mas não há. Ex-Passos são vazios, serviram num dado tempo, numa dada situação, um segundo depois ou antes não funcionariam então. 
Sigo aflito porque tenho a cabeça marcando uma hora, o peito marcando duas, e como um homem que anda com dois relógios eu jamais saberei a hora certa. E assim a vida vai se dando, irreparável, e injustamente única e sem segundas chances nem mesmo pra Julietas e Romeus, quem somos passa, o que temos fica, dura para outros que também passarão... é... o calor dos peitos apaixonados esfria e passa, bem faz a pedra que fria, dura muito mais. Como culpar quem acha que a herança vale mais que o pai? Vão-se os dedos, ficam os anéis... mas anéis jamais me acariciam... é... que saudade de não saber quem sou. Agora eu sei, eu sou aquele que morre antes da peça acabar.

Phelipe Ribeiro Veiga
21 de Outubro de 2011 - 00:16





Um comentário:

Natasha Dias disse...

...eu preparo a cama pros amantes, eu envaso o veneno pra Julieta, amolo a faca pra Romeu, mas no fim termino morto por um amor que não é meu, não é pra mim. Sou um ilustre coadjuvante, aquele de quem lembram dos feitos mas se esquecem do nome...
Menino amei cada palavra... Sempre belo! Paravéns!

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...