domingo, 9 de outubro de 2011

Sobre primaveras e outras estações



Não foi de todo loucura não!
É que a minha chegada de primavera coincidiu com dias muito bonitos, e pensei que combinariam mesmo é com atitudes arriscadas, daquelas que a gente sente orgulho da coragem que teve em cometê-las, mesmo em face dos fracassos e do custo que elas acarretem. Já hoje o dia amanheceu nublado, meio frígido, comparando com os dias anteriores parecia um pós-sexo do qual você só se arrepende depois de tudo. Mas meu ânimo continuou ensolarado, desconexo do humor celeste. 

Mas daí vem essa sua felação volitiva, que por mais que eu entenda... é nada. Não vim atrás de lançar mão de sementes boas em terras secas. Quero terra faminta de bocas abertas, quero flores ainda nessa estação, e não promessas futuras mesmo que seja já pro próximo verão. É que eu não sou jardineiro, sou caçador de belezas, intuo-a, farejo-a, consumo-a, e gozo disso, de se possível for, contemplá-la mesmo que só-mente. 

Não produzimos mais futuros como antigamente, as coisas estão mais caras, a inflação alcançou nossos sonhos e os valores estão se transferindo pra desvalores imensos. A ternura e a gentileza migraram pra estampas de camisetas e não habitam mais em nossos olhares e atitudes. Portanto há pressa, aqueço meu peito na vela frágil sob chuva e vento de uma esperança que teima em não se apagar. 

Eu lamento te desapontar, mas já foi tempo em que tínhamos todo o tempo do mundo, hoje o tempo detêm o mundo todo, e nós somos reféns da terrível e constante possibilidade de sermos felizes de verdade, mas isso é só hoje, ou só amanhã, ou nunca se sabe... talvez seja sempre, talvez nunca seja, talvez já tenha sido. 

O que sei minha doce pétala volátil, é que uma andorinha não faz verão sozinha, muito menos primavera, estações complexas e menos definitivas que invernos e verões. O que sei é que há urgências em florescer, porque o mundo está feio, os continentes são carrancas, e a beleza tem feito falta. O que sei é que haverá flores e eu hei de florescer sem desperdiçar minha estação. E você? Lembre-se, estações passam. Pétalas caem. Plantas morrem. E você? Quanto a você eu não posso saber. Quanto a mim flor-eu-serei, primaveril.


Phelipe Ribeiro Veiga
09 de Outubro de 2011 - 17:49

2 comentários:

Eduardo Grillo disse...

É triste quando percebemos que até mesmo os grandes poetas não estão mais certos, e que realmente o tempo não é mais "infinito", mas totalmente etéreo. Lendo o seu texto, senti uma influência meio "Carpe Diem" (o original, não esse cliché que se tornou), acertei?
Espero sinceramente que o mundo todo se torne um lugar melhor e que muitas primaveras comecem.

Natasha Dias disse...

Encantada pelo seu blog, escreve maravilhosamente bem!
Parabéns pelo blog... belissímo!!

(...)

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