quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sobre um dia ruim.



Porque trazer tanto desassossego a minh'alma? Eu pego esse mundo vil e ponho nos ombros em prol de uma tola ideia de honra, honestidade e numa tentativa vã de ser o primeiro homem vivo que quis ser realmente correto, e morrerei com essa angústia no peito, uma coluna curvada e uma missão não cumprida. Que estupidez. Causo a mim tanto peso, tanto sofrimento por ideias, ideais tolos que não vestem, não alimentam, não provém nada além de raros reconhecimentos que não custam mais que uma colher de sopa de saliva. Tolice. Me pergunto quem sou, há uma multidão sem face que habita meu rosto, são expectativas das expectativas de um mundo que existe sem mim, alheio, antes e depois de mim. E dói, pesa, preocupa, enlouquece, e o mundo? Jaz girando despreocupadamente, singelo, nem ligando pra angústia que passo a respeito dele mesmo. Sou um tolo, o mais tolo dos homens, que nasceu, vive, e num dia, com sorte, de chuva, há de morrer e sair do mundo da mesma forma que entrou, sem nome, com fome e lágrimas nos olhos, a diferença entre eu recém nascido e eu previamente morto? Uma imensa coleção de saudades e arrependimentos. Acaso haverá um dia em que não seja necessário que eu acorde pra erguer o sol ardentemente pesado desse meu mundo penoso? Há de haver. Nesse dia dormirei sem horas, mais do que devia, perderei horas, compromissos, os prazos todos, a noite será eterna e sem enquanto, densa como minha angústia, porém silenciosa e branda, feito uma cortina que acaricia o rosto trazida por uma brisa leve. Haverá um abraço. Haverá mais nada. Terei sido, e logo, despreocupadamente, irei girar por aí leve como convinha fazer em vigília e onde jamais fui capaz. Nunca mais serei. No dia em que eu dormir demais e não erguer sol algum, a noite será eternamente.
Enquanto isso.. quanta estupidez!

Phelipe Ribeiro Veiga
15 de setembro de 2011 - 20:17

2 comentários:

Unknown disse...

Gosto muito das imagens que sua linguagem ergue na minha retina tanto quanto as imagens que saltam por trás das palavras. Belo texto! Abração meu caro.

Felipe disse...

Preparada esta a cama... o levantar, o correto levantar vai rolar. Apesar da cegueira que nos rodeia não creio que tudo há de ser tão difícil ou que o botão de automático esteja sempre On

(...)

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