quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sobre o tédio.



Segue o tempo, seco, árido, erodindo meu rosto, trazendo rugas, depressões, precipícios que você jamais conheceu em mim. Acredita? Já tenho barba, e você jamais verá. Vem chegando a primavera e só o que penso é na rosa que perdi, despetalada, justo na chegada dela mesma, da primavera. Tu te reuniste as flores, rosa prematuramente recolhida, justamente na chegada de tua estação. A violência dos dias e das pessoas levianas que tenho topado, fingindo-se jardineiros pra cuidar de mim, usurpando-me perfumes, pétalas, até espinhos, tem mutilado meu caráter, nublado meus sonhos, desbussolado meu coração. 

Ah meu amor, amor verdadeiro e eterno (porque jaz perdido como todo verdadeiro e eterno amor precisa ser), não ando desesperado não, ando desesperançoso. Ouço o tempo, no silêncio dos segundos que parecem horas, encrespando-me os ossos, enrugando-mea fronte, enrigecendo-me o peito, o coração. É que dói. Mas já dói há tanto que não me incomoda mais. Tudo é silêncio, repetição, esperado, recebido com frigidez, sem aforismos ou exaltações. 

A vida se tornou um carrossel, vai passando por cima de si mesma, com música animada, movimentos repetitivos, sem nenhuma novidade nos cenários. É tudo igual, são todos iguais, nem eu mudo, só envelheço, endureço, amarguro. Que péssimo minha criança sempre criança, eu sou adulto e o mundo, infelizmente, já faz sentido pra mim.
A noite é breve, o dia é mais, e tudo é um suspiro, dois suspiros, e mais nada.
Que saudade.

Phelipe Ribeiro Veiga
21 de Setembro de 2011 - 19:53




"Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou."

Fernando Pessoa (Alvaro Campos)

Um comentário:

Inspirações disse...

Profundo e triste... mas a vida é assim muitas vezes, pronfa e triste... mas há muitos dias de SOL! Tenha fé!

Fique em paz!

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...