terça-feira, 12 de agosto de 2014

Hipótese

Há essas ambições que todos nós compartilhamos, ficamos tentando alcançar e ser do tamanho de nossas sombras. E funciona bem como ela. Acordamos maiores do que somos, vamos diminuindo frente as dificuldades que encontramos até o meio-dia, e depois contra argumentamos, e voltamos a crescer, até que de noite toda a sombra é forçosa, artificial. Nosso fado de toda noite seria desaparecermos por um pouco, mas nos negamos qualquer direito ao desaparecimento. Somos assim ilusões pra nós mesmos, e uns nos outros, tanto que quando morremos nos "ende(usam)" de tal modo, que se vivos, nem nos reconheceríamos. Afinal, acaso nos reconhecemos de algum modo senão nos horóscopos que nos dizem só o que nos admitimos ouvir?! Assim parece ser. Que desacerto é o que somos pros outros e o que pensamos ser. Somos icebergs, sob cada perspectiva temos uma forma, de cada lugar aparentamos de um jeito, e a maior parte do que somos nem mesmo nós mesmos temos consciência, está submerso a nós mesmos. Em pensar que tudo que nós todos queríamos era uma certezazinha que fosse, uma quina de parede, um capacho que fosse que nos desse garantia de ser um lugar seguro. Mas não há. O que há é só desacerto, deriva(ções), subjetivismos. O que pensamos ser é só a metáfora do que somos, o que dizemos é só o epílogo do que temos de fato a dizer. Somos tão piores, e tão melhores do que aparentamos (a nós mesmos). Se ao menos nascêssemos de fato cegos, surdos, vegetais. Quem sabe que benefício traria perder-se em um mundo sem se ludibriar com nenhum sentido, nenhuma sensação? No mundo tudo é hipótese, mesmo a tristeza, a solidão, a morte. Afinal quem disse que morremos? Morre-se para os que se pensam vivos, mas nenhum morto voltou para dizer-nos "De fato, morri!". Quem sabe não dormimos? Quem sabe não acordamos? Pode ser que seja, pode ser que não... Enquanto isso, hipotéticos e patéticos... (que verbo usar?)


Phelipe Ribeiro Veiga
12 de Agosto de 2014 - 16:03



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