sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Sobre as intenções da fala...

 
 
 
Em cada ponto de uma reticência há um convite, uma tentativa de incitar a curiosidade, um interesse pelo que poderia vir a complementar o que disse até construir um ponto final, ou um ponto de outro tipo qualquer... Por isso escrevo (e falo) com reticências. Porque minha escrita não é a vã ânsia de dizer, é na verdade o desejo de dizer pra alguém que queira me ouvir. É um amar e ser amado. É um acenar e receber um aceno. É até mesmo um chorar e fazer chorar. A reciprocidade é para meu espírito como a comprovação de uma realidade não solitária. É minha tentativa vã de compor minha realidade interior num sujeito composto, numa pessoa qualquer do plural. Por isso é que quando pareço conclusivo, estou na verdade partindo o significante em pedaços e escondendo algumas partes dele em cada um dos bolsos, pra que se siga um questionamento qualquer. Por isso que quando eu dou um "boa noite" no meio de uma conversa não é que eu queira realmente virar pro canto e dormir, o que quero é que haja uma insistência em concluí-la. Por isso que quando eu interrompo um discurso, o que quero é que haja um retorno ao assunto mais desmedido, as vezes que seja até um pouco ofendido, temperado com mais ímpeto e decisão de se chegar até o final dele. Até quando me calo, é pra denunciar a sombra de todo o silêncio (que faço), o eco cognitivo do que eu disse imediatamente antes. Não existe nó sem ponta... 

Phelipe Ribeiro Veiga
29 de Novembro de 2013 - 16:49



"É chocante em que posições
com que escandalosa simplicidade
um intelecto emprenha o outro!
Tais posições nem o Kamasutra conhece."
(Wislawa Szymborska)


Nenhum comentário:

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...