terça-feira, 13 de agosto de 2013

Sobre o desejo.



O desejo partiu dos meus pés, subcutâneo, se embrenhou pelas minhas veias, subiu pelas minhas pernas, enrijeceu e tensionou meus músculos, ele não achou saída. O desejo embolou na garganta e forjou palavras rudes. Plantou espinhos nas minhas rosas e também nas minhas margaridas e até no que nem dava flores. Ele espinhou meu jardim inteiro, se estendeu, fez florestas de espinhos rígidos, duros, impiedosos, e de quebra me trouxe espinhas no rosto e nas costas. O desejo deixou seco os meus cabelos e torceu meus lábios. O desejo não achou saída. Disparou meu coração, comprimiu meu peito, acelerou meus pensamentos e fez de meus olhos bichos em fuga. O desejo arranhou meus sentimentos e os sentimentos dos outros. O desejo forçou portas e janelas, mas não achou saída. O desejo fez barulhos quando já era tarde da noite e acordou alguns dos meus pensamentos mais adormecidos. O desejo era uma mulher de meia idade ainda virgem e de mãos dormentes, era um adolescente em plenas erupções hormonais. O desejo era atropelamento, furo de sinais, expurgo, expansão, ereção, exaltação, exasperação, suspiro, imaginação, procura, afobação. O desejo era um precipício me convidando pra saltar, e por vezes ameaçando me empurrar. O desejo sangrou essas páginas e ninguém sabe até onde isso irá... O desejo não cessa, não cessará jamais. 

Phelipe Ribeiro Veiga
13 de Agosto de 2013 - 20:51

"O que será que será que está dentro da gente e que não devia, que desacata a gente, que é revelia?" - Chico Buarque.

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