quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sobre quando eu me for.



O que acontecerá quando meus olhos se fecharem? Quando eles não piscarem mais? Todo dia é um perceber e significar. Todo dia eu passeio nos dias, sinto saudades dos ontens, tremo sobre os amanhães, ou simplesmente me sinto ansioso por eles. Todos os dias eu bebe café, como, reclamo da Vida, mas e quando isso tudo acabar? Todos os dias o mundo inteiro comigo giramos em torno de nós mesmos, e o sol vai e volta, e as estrelas aparecem e somem, e ficam invisíveis lá em cima, por horas ofuscadas no azul do dia. Todos os dias tudo é completamente diferente de uma maneira sempre igual. Mas e quando isso tudo pára? E quando eu me for? E quando em nenhum lugar se ouvirem minhas palavras (e vozes)? Quando meus passos já não passearem mais por aí? Quando eu não estiver mais vendo nada, nem pensando em nada? E quando o Silêncio Eterno me engolir (espero) sem me mastigar? O que será do mundo sem mim? Em um tempo haverá rastros como na areia fina, depois partículas subatômicas com as digitais de quem fui e depois não haverá rastro algum de mim sobre a Terra. Terei não sido nunca. Serei tão parte de tudo que não haverá mais sinal de mim. E a gravidade, creio, será a de uma árvore que perdeu uma folha. Ela derramará talvez uma única gota de seiva... quando eu me for. Mas isso tudo é suposição, porque as possibilidades de quando eu me for são sem fins.

31 de Novembro de 2013 - 18:08
Phelipe Ribeiro Veiga

"Escrever. A vingança da mão mortal." - Wislawa Szymborska


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