quinta-feira, 3 de junho de 2010

Madrugada - 04 de Junho de 2010 - 03:40


Tenho no peito nesse instante o peso do mundo inteiro, e a impressão de que tudo que penso é quase erro... A sensação de que cada pé que me carrega quer seguir pra uma direção, e que meus lábios, minha lingua e meu pensamento vivem discordando e se atropelando.

Tenho um medo de ser, um pavor de estar, e ao mesmo tempo o horror de não sentir coisa nenhuma. Tenho arrepios diante do que é esquecido, calafrios diante do que está perdido e verdadeiro desespero diante dos fatos que certamente ainda me atingirão. Sinto, e sinto tanto que sinto mais, e sinto muito por sentir muito, porque dói.

Eis que meu coração foi fecundado por um sorriso, e agora sofre as contrações do nascimento da saudade de uma vivência que ainda nem aconteceu. Quanto medo tenho eu dos meus semelhantes! Me desespero às três da manhã por nem sei o quê, escrevo até a mão doer, e espero, dormirei com a cabeça a explodir, e o peito a desmoronar diante de coisa alguma real.

Ah realidade que eu criei! Ah mente sadiana desgraçada! Se acaso a realidade das coisas é nossa pra dela fazermos o que bem entendermos, porque é que dentre tantos fatos, escolhestes o assombro e o pavor de uma jaula invisível como esta? Quem me dera saber ser de outro jeito e não assim... tão... eu.

[PH]elipe R. Veiga
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"Pensar profundamente é uma alegria, mas sentir profundamente é uma maldição." - Fernando Pessoa


Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice - Chico Buarque


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(...)

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