domingo, 22 de abril de 2012

Sobre o suicídio das gotas.



A quê conhecemos afinal? Quanto a mim só sei de meu ímpeto, montanha, erodido pelo vento, circunstância, na cordilheira dos fatos que me cercam. Não sou mais do que a gota que se precipita dos condicionadores de ar no alto dos prédios, monólitos da economia secular. Apenas meu trajeto ao chão é mais demorado, é de anos, o dela, de segundos. Ambos fertilizamos a terra ao nosso modo. Ambos somos, logo não mais. O percurso dela é silencioso, reto e direto. Já eu desvio do meu fim, prolongo, acelero, torno-me vagaroso e pesado, eu faço da minha queda meu voo. A gota suicida-se do seu condicionador de ar. Eu nasço e a gravidade da vida me preserva da morte, para um dia trocar-me por um suspiro final. O nascimento é um morrer preguiçoso e permicioso. A morte não nos persegue, nos aguarda, a vida não nos acomete, nós somos A Vida. Somos um pedaço dela, que se repartiu em nós, e logo nós nos repartiremos a toda a natureza. A vida em nós se renovará sendo sempre. Daremos de comer a tudo que dará de comer a tudo que será um dia. Feito a gota uma após a outra, a diferença? As gotas caem sempre iguais, os homens, por bem, jamais se repetem!

Phelipe Ribeiro Veiga
22 de Abril de 2012 - 05:28

"O homem fraco teme a morte, o desgraçado a chama; o valente a procura. Só o sensato a espera." Benjamin Franklin

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