quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Em algum lugar...

 
 
O sol queima a terra, e a Terra. E neste momento em algum lugar alguém acaricia um rosto, um rosto ainda qualquer, futuramente único, o primeiro que os olhos do meu filho ainda não nascido conhecerão. Há uma lágrima em algum lugar irrigando um piso frio, uma mulher correndo na rua e esbarrando em um homem, gerando um atraso, causando um encontro, construindo um amor, gerando os pais dos filhos que um dia me verão falar em uma ocasião qualquer, em um lugar qualquer. Em algum lugar uma taça de vinho se precipita de uma mesa e o vinho escorre em ondas de ressaca microscópica sobre um tapete branco. Em algum lugar nasce um menino que vai escrever um livro que vai mudar a minha Vida. Em algum lugar batimentos cardíacos se aceleram, um peito pulsa feito um núcleo atômico. Bocas em erupção declaram amores por palavras efervescentes. Abraços se rompem feito cordas que se arrebentam. O mundo lança-se desesperado e aos berros ao chão em plena histeria, e quando sossegado, se contorce em aguda obsessão. A Vida não conhece o silêncio. Não sabe nem mesmo o nome da calma. A paisagem mais pacífica esconde reações quânticas capazes de construir universos. Tudo explode, tudo. O sol queima a Terra. E em algum lugar massageiam as mãos que lançarão sobre minha tumba a primeira pá de terra, queimada...
 
Phelipe Ribeiro Veiga
05 de Fevereiro de 2014 - 14:05
 
"Nossas vidas não são nossas. Desde o útero até o túmulo estamos ligados a outra pessoa. No passado e no presente. E com cada crime e cada boa ação fazemos renascer o futuro." (David Mitchell - Cloud Atlas)

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(...)

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