quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sobre um olhar.





Aqueles olhos verdes, ainda não maduros encararam-me friamente, olhos vazios que diziam-me de uma universalidade de coisas vazias e de desproporcionalidades vazias e desfazimentos inteiramente vazios. Diziam-me de marcas deixadas na casca de uma árvore, iniciais, corações, promessas de amor eterno pelos quais agora a árvore era inquerida de fazer-se cumprir, arranhões que nada tinham a ver com ela, eram partes da árvore à revelia de sua própria vontade. Aqueles olhos diziam-me de vontades contrárias aos gostos, e de desgostos contrários às vontades. Aqueles olhos me disseram tantas coisas por tantas horas, dias, meses e anos, e só havia se passado de fato uns dez segundos. E naquele percurso de segundos intensamente eternos, amadureceram os olhos, e de tão maduros, caíram das faces deixando órbitas mais escuras que as da Terra... e agora os olhos ao chão, desta vez ultrapassadas as maturidades devidas, apodrecendo, já não diziam mais nada, já não me encarava, tudo estava dito, bastava falar.

Phelipe Ribeiro Veiga
19 de Fevereiro de 2014 - 11:19

"Não se mexa! Não diga nada! Não me toque! Não me interrompa! Deixe-me falar!" - Emmy Von N - Paciente de Sigmund Freud

Nenhum comentário:

(...)

Eu vi uma casa se despir. Era uma despedida. Se despia dos quadros das paredes e exibia as marcas do tempo como um corpo que, após usar por ...