quinta-feira, 6 de março de 2014

Sobre o Acaso.



Por vezes o Acaso se cansa, e se debruça na janela dos acontecimentos e assiste a tudo, e aí nada acontece. Nessas horas a brisa desvia dos cabelos, a coceira evita o meio das costas, o cisco desvia dos olhos e a pedra evita o sapato. Nessas horas os ponteiros demoram tanto a andar que pesam no nariz dos relógios de todos os lugares fazendo rugas no rosto do tempo, e tudo isso porque o Acaso preguiçosamente assiste pela janela dos fatos a tudo e não tem vontade de nada. O rio espelhado faz pecar a paisagem por um excesso de céu, e tudo padece de modo chato e tedioso. O Acaso suspira, e por causa de sua preguiça os amores vão criando teias e os amantes ainda a se conhecerem resolvem ficar em casa e ver televisão, as nuvens retém as chuvas, as folhas pendem desanimadas nos galhos de todas as árvores. Mas o Acaso não liga. O Acaso, que é o ocaso de tudo, guarda mesquinho para si todas as possíveis novidades do mundo, e tudo envelhece feiamente imutável. Isso porque nessas horas o Acaso só suspira, vagueia silencioso em pensamentos e planos, e preguiçosamente não quer fazer nada...



Phelipe Ribeiro Veiga

06 de Março de 2014 – 15:43


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