segunda-feira, 19 de março de 2012

Mágoas. (Cai um rei).



_Caiu!! - Dirão todos a respeito de ti.
Coroa alguma ver-se-á aos teus pés. Fostes roubado, teu manto rasgado, seu reino dividido por muitos, muitos. Todas as promessas de amor de tuas esposas foram partidas e hoje ensopam o chão dos prostíbulos onde habitam. As peles que te acariciavam hoje pertencem ao mundo, e tu em breve serás tão somente lembrado como aquele que nem mesmo foi, ficou podendo ser, e acabou por não ser. Serás aquele que não foi, e não é, e nunca será. Não serás. Terás não sido.
Tu, rei de lugar mais nenhum, esquecestes das armadilhas, do labirinto que é o coração do poeta. És um tolo, pois se até mesmo o próprio poeta se perde em si, porque razão achastes que saberias os caminhos? Tolices. O poeta também não acha o seu caminho, mas conhece os atalhos das palavras, sabe levar a fala feito uma besta fera domada num cabresto curto da estética natural que há no sentido de tudo que mesmo não sendo, talvez seja, pode ser. O poeta encena muitas vezes em sua mente o ocorrido antes de deixar ocorrer, experimenta palavras cuidadosamente, vê o que fica belo, mesmo que seja o que causa mais dor. Tudo em um poeta é armadilha, a língua do poeta não é apenas a língua que acaricia tua língua e finge te beijar (quando na verdade apenas faz rimar os visgos da saliva e das mucosas), a língua do poeta é um laço que te prendeu tua própria língua, de modo que agora teu próprio falar te remete a poesia daquele poeta que atravessou seu caminho. 
Portanto, vai-te agora rei sem coroa nem reino, nem corte, nem cetro, nem manto, nem vestes. Vai-te rei nu, desinteressado, deposto, caído e findado. Vai-te, pois até tua sombra escolheu ficar enquanto tu serves de cicerone de teus próprios medos, anunciando as dores e receios que com as próprias mãos derramarás sobre tua cabeça. O laço? Está no seu tornozelo, e pesa-lhe.
O poeta adormece com a cabeça sobre seus próprios sentidos, sobre um epílogo que julga ele mesmo ter escrito, todavia debaixo do seu travesseiro adormece escondido de todo seu jogo, mais que significado, o significante, que é, a vida, cada segundo, sempre deixa saudades. E nesse ponto se percebe, o poeta dorme levado pela poesia, feito besta-fera num cabresto curto da estética natural que há no sentido de tudo que mesmo não sendo, É!

Phelipe Ribeiro Veiga
20 de Março de 2012 - 00:47


"Deus não pune a quem se deu... Ninguém deixa um poeta impunemente." - Jorge Aragão.

2 comentários:

Amora Caetano disse...

Quanta sensibilidade e profundeza nesse mar de palavras,querido! Amei o texto! Caso queira, visite o meu cantinho onde, também eu, me despojo de mim por meio das palavras.
www.acoreoperfumedosdias.blogspot.com

Bjos, Aline.

*Beebee* disse...

Parabéns!Boa escolha de palavras...
**Beebee**
http://beebeeremix.blogspot.com.br/

(...)

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